A ação da Embraer chegou a registrar uma alta de 0,71% no meio do pregão da segunda-feira, 26 de agosto. Poucas horas antes, a fabricante brasileira anunciou a venda de até seis aeronaves A-29 Super Tucano para a Força Aérea Uruguaia (FAU), tornando o Uruguai o sexto país a operar o jato na América do Sul.
Os números envolvidos, tanto no pregão da B3 como na venda para a FAU, podem parecer modestos. Mas são mais duas escalas em um roteiro que vem sendo cumprido desde 2023 e que, no decorrer de 2024, levou a empresa – e seu papel – literalmente às alturas.
O resultado dessa jornada está expresso justamente no valor da ação da Embraer, que está sendo negociado no maior patamar desde que a empresa abriu capital, em julho do ano 2000, alcançando um recorde de R$ 46,03 na última sexta-feira, 23 de agosto. E renovado na segunda-feira, 26, quando fechou o dia com alta de 0,52%, aos R$ 46,27.
O papel EMBR3 acumula uma valorização de 110,1% em 2024, dando à empresa um valor de mercado de R$ 34,3 bilhões. Já na Bolsa de Nova York, as ADRs da Embraer registram alta de 83,5% no ano, com a empresa avaliada em US$ 6,21 bilhões.
Segundo um levantamento da Elos Ayta Consultoria, a trajetória ascendente dos papéis da companhia ganhou mais impulso nos últimos meses. Mas o ponto de partida desse trajeto rumo ao pico de sua cotação veio em 19 de abril deste ano, quando a ação alcançou o valor de R$ 30,92.
Curiosamente, há exatos quatro anos, a Embraer começou a vivenciar uma fase turbulenta que, ao que tudo indica, só agora está ficando para trás. Foi em abril de 2020 que a Boeing colocou um ponto final no acordo para constituir uma joint venture com a fabricante brasileira em aviação comercial.
A parceria vinha sendo negociada desde o fim de 2017 e a desistência do negócio teve ainda como um agravante o avanço, em paralelo, da Covid-19, que foi alçada a status de pandemia e fez do mercado de aviação um dos mais afetados, impactando, por consequência, o balanço da Embraer.
Entre outros impactos ainda naquele ano de 2020, esse contexto gerou medidas como um programa de demissão voluntária (PDV), seguido pela demissão de 4,5% do quadro de funcionários da companhia. Além de um processo de arbitragem que perdura até os dias de hoje.
Essas não foram, porém, as únicas heranças do acordo malsucedido. Foi somente em abril, dessa vez, de 2022, que a Embraer reintegrou os sistemas da sua divisão de aviação comercial. Eles haviam sido apartados em função do acordo com a Boeing e essa situação vinha afetando a operação da brasileira.
Na época, a Embraer foi obrigada a paralisar suas atividades por quase 30 dias, o que acabou por impactar também seu desempenho no primeiro trimestre daquele ano. Por outro lado, foi a partir da conclusão desse processo que a empresa entendeu que estava pronta para virar a página.
Não foi da noite para o dia, no entanto, que os resultados dessa retomada começaram a vir à tona. Durante um bom tempo, a Embraer ainda operou no “modo crise”, em meio a questões como a falta de peças, gerada pela pandemia, e a própria recuperação do setor no pós-Covid.
Ainda longe de um céu de brigadeiro, os primeiros sinais efetivos de melhor vieram no segundo semestre de 2023. Na contramão dessa restruturação, a Boeing só viu sua situação se agravar desde o fim da parceria, a partir de uma série de acidentes fatais e problemas envolvendo suas aeronaves.
No retrato mais recente de seu turnaround, a Embraer encerrou o segundo trimestre de 2024 com um lucro líquido de R$ 520,8 milhões, revertendo um prejuízo líquido de R$ 96,2 milhões apurado em igual período, um ano antes.
Já a receita líquida da empresa entre abril e junho de 2024 foi de R$ 7,84 bilhões, alta anual de 23,4%. O destaque ficou justamente com a divisão de aviação comercial, cuja receita teve um salto de 26% nesse intervalo, para R$ 2,91 bilhões.
Em outros dados, o Ebitda ajustado da operação ficou em R$ 995,5 milhões, um crescimento de 37% nessa mesma base de comparação. Enquanto a carteira total de pedidos foi de US$ 21,1 bilhões, o que representou um avanço de mais de 20% e o maior nível registrado pela empresa nos últimos sete anos.
Com recomendação de compra e preço-alvo de US$ 38 para a ADR da empresa, o Goldman Sachs ressaltou que o balanço trouxe fundamentos sólidos, acima do consenso, e que a Embraer estava sendo negociada com um valor atraente. E complementou:
“A Embraer tem uma posição dominante no mercado de jatos regionais, uma posição forte no mercado de jatos executivos, onde a oferta/demanda permanece apertada, crescimento na defesa, com o KC-390, e um negócio considerável de serviços de alta margem com diferenciais de crescimento”, escreveram os analistas do banco.
Já o BTG Pactual, também com recomendação de compra e preço-alvo de US$ 39 para a ADR, reforçou seu otimismo e seu call de compra para a ação após o “sólido desempenho operacional” da Embraer e o “discurso confiante” da gestão da companhia.
“O momento da indústria de aviação segue forte e acreditamos que isso apoia uma perspectiva positiva para a Embraer em todas as suas unidades de negócios”, escreveram os analistas do BTG. Eles observaram ainda que, mesmo após o rali dos últimos meses, a Embraer vinha sendo negociada a múltiplos baratos na comparação com seus pares do setor.
Antes, no início do ano, o BTG já havia destacado um outro componente nessa visão positiva sobre a Embraer: a Eve, startup de aeronaves elétricas de pouso e decolagem vertical (eVTOL), os chamados “carros voadores”, fruto de um spin-off da fabricante brasileira.
Com capital aberto na Bolsa de Nova York desde 2022, quando se fundiu com a Zanite, uma Special Purpose Acquisition Company (SPAC), a Eve foi apontada pelo banco de investimentos como dona de um grande potencial para turbinar os números e o valuation de sua empresa-mãe.