Os números mais recentes mostram que o ritmo de crescimento dos casos de Covid-19 começa a ganhar velocidade no País. Com a rápida evolução das estatísticas, o nível de adesão à quarentena nos estados e cidades brasileiras está no centro dos debates sobre a pandemia.

Nesse contexto, o NeoFeed conseguiu, com exclusividade, informações coletadas pela Hands Mobile, empresa de inteligência de dados e de mídia mobile que tem acesso à localização de 30 milhões de celulares em todo o Brasil, por meio de parcerias com operadoras, aplicativos e fabricantes de aparelhos.

Os dados compilados revelam que o isolamento social vem perdendo força no País nas últimas semanas. E, mais do que apontar esse relaxamento, a ferramenta criada pela companhia mostra, em cada cidade, para quais lugares as pessoas estão indo e o quanto elas estão se deslocando.

Em todo o Brasil, o índice de isolamento caiu de 68,94%, no feriado de 21 de abril, para 59,4%, na última terça-feira, 5 de maio. Esse foi o nível mais baixo registrado desde meados de março, no período pré-adoção da quarentena. O pico, por sua vez, veio em 29 de março, com 70,97%.

A aceleração na queda é reforçada por outros dados. Em 26 de abril, a taxa de adesão estava em 68,76%. Há uma semana, na quinta-feira, 30 de abril, o índice foi de 64,01%.

Ao mesmo tempo, as pessoas estão se deslocando mais. Enquanto a distância média percorrida foi de 6,69 quilômetros no dia 21 de abril, esse número ficou em 7,07 quilômetros, há uma semana, e em 7,06 quilômetros, em 5 de maio.

“Observamos um pico no isolamento em todas as cidades brasileiras a partir do dia 20 de março”, diz João Pedro Ribeiro, head de novos negócios da Hands Mobile. “Já as quedas começaram a partir da segunda semana de abril, com comportamentos variáveis em cada região.”

Quem mais desrespeita

Levando-se em conta a densidade populacional de cada área, o ranking das cidades que mais têm desrespeitado o isolamento social é encabeçado pelas seguintes capitais: Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Recife (PE), Brasília (DF) e Porto Alegre (RS). Na sequência, a lista traz o município de Osasco, localizado na região metropolitana de São Paulo.

A capital baiana é um dos exemplos do recuo significativo observado recentemente. Do índice de 72,27%, em 26 de abril, Salvador caiu para 55,8% na última terça-feira. No mesmo intervalo, Recife registrou uma queda de 72,15% para 56,49%.

Já Osasco teve a queda brusca mais recente: de 64,02%, em 3 de maio, para 49,33%, no dia seguinte, e 50,3%, em 5 de maio. A menor taxa, por sua vez, é de Porto Alegre, com 45,5%.

Levando-se em conta a densidade populacional de cada área, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Brasília e Porto Alegre são as cidades que mais têm desrespeitado o isolamento social

No estado de São Paulo, a capital seguiu a tendência das outras cidades. O município, cuja adesão ao isolamento estava em 66,37% no dia 26 de abril, agora registra uma taxa de 57,12%. Em São Paulo, Grajaú, Jardim Ângela, Cidade Ademar, Brasilândia e Capão Redondo são os bairros que apresentam maior movimentação por densidade demográfica.

Já entre as capitais do País, Rio de Janeiro e Brasília, com índices atuais de isolamento de 61,16% e 52,57%, respectivamente, apresentam as maiores distâncias médias percorridas. A capital fluminense chegou a 9,21 quilômetros, em 4 de maio, e a capital federal a 10,21 quilômetros, em 5 de maio.

Baseado em recursos de geolocalização, o dashboard desenvolvido pela Hands Mobile considera que o usuário rompe o isolamento a partir do momento em que sai de um raio de 120 metros de sua residência.

Dentro de conceitos de mercado, como GeoBehavior e AppBehavior, a empresa tem acesso a dados individualizados, mas anônimos, de localização e histórico. Com uma abordagem semelhante, a startup brasileira In Loco também está oferecendo um serviço de localização relacionado à pandemia.

Sob essa premissa, a ferramenta da Hands Mobile aponta que os hipermercados registraram o maior crescimento relativo como destinos desses deslocamentos, de 34,71%. Os dados levam em conta o intervalo entre o período pré-quarentena, nas primeiras semanas de março, até a última terça-feira, 5 de maio.

Com um índice de 34,71%, os hipermercados registraram o maior crescimento relativo entre os locais mais visitados desde o início da quarentena

A relação dos segmentos mais visitados e de suas respectivas taxas de crescimento, nessa mesma base, inclui: supermercados, 29,26%; oficinas e serviços, 22,09%; lojas de materiais de construção, 18,74%; hospitais, 7%; e agências bancárias, 5%.

Já a lista das maiores quedas relativas nesse mesmo intervalo traz prédios acadêmicos/educação, com 95%; bares e restaurantes, com 46%; e shopping centers e corredores comerciais, com 37,14%.

Entre as categorias mais visitadas, o destaque ficou para os hospitais, que saíram da sexta colocação, no período pré-crise, para o segundo lugar, atualmente, com um índice de 6,45%. Nas demais posições, houve pouca variação. Bares, restaurantes e padarias seguem na liderança, com 12,87%. Em terceiro, estão os edifícios residenciais, seguidos por escritórios e salão/barbearia.

O fluxo da retomada

Esse escopo amplo de dados já está sendo usado em alguns projetos relacionados ao combate à crise sanitária em curso. Além de fechar um contrato com o governo estadual da Bahia, a Hands Mobile cedeu a ferramenta para o uso da secretaria municipal de saúde de Itu, cidade do interior de São Paulo.

A empresa também integra o Covid Radar, consórcio que reúne mais de 40 empresas e organizações, entre elas, Amazon, Microsoft, SAP e USP. O grupo compartilha tecnologias, conhecimentos e mão de obra em iniciativas para mapear e conter o avanço do coronavírus. O projeto inclui uma plataforma com dados em tempo real, que podem ser acessados por órgãos públicos.

Antes da Covid-19, a Hands Mobile já vinha trabalhando em um plano de reposicionamento no mercado. Mais conhecida pelas ofertas de publicidade segmentada, a companhia passou o usar os dados coletados via smartphones para desenvolver dashboards e relatórios que fornecem insights para a tomada de decisão, em diversos segmentos.

Com a pandemia, a empresa enxerga uma janela para acelerar esse processo. Nesse contexto, a Hands Mobile está preparando uma versão da ferramenta de isolamento social que será voltada, inicialmente, ao varejo.

Batizada de Farol de Fluxo do Varejo, a plataforma vai fornecer dados para análises relacionadas aos deslocamentos e à frequência dos consumidores antes, durante e depois da crise. “A ideia é dar ao varejista a possibilidade de entender, o mais rápido possível, qual será o novo normal”, afirma João Carvalho, sócio-fundador e CEO da Hands Mobile.

“A ideia é dar ao varejista a possibilidade de entender, o mais rápido possível, qual será o novo normal”, João Carvalho, sócio-fundador e CEO da Hands Mobile

A aplicação poderá ser combinada com outras ofertas. “Caso o varejista identifique que perdeu frequência de determinados grupos em suas lojas, podemos entrar com mídia para tentar reativá-los”, diz Ribeiro, o head de novos negócios.

A Hands tem 9 contratos em fase avançada de negociação. E para escalar essa base, já mapeou 100 grandes varejistas, dentro de um mercado potencial estimado em 300 redes do setor.

A empresa também vai levar essa oferta, em um segundo momento, a outros segmentos. O próximo setor na fila é a indústria de bens de consumo. “Essas empresas também vão precisar ter esse entendimento para repensar produção, logística, distribuição e metas comerciais”, afirma Carvalho.

Com a Covid-19, a Hands Mobile está revisando a estimativa traçada no início do ano. Na época, a empresa projetava que a unidade de data insights fecharia o ano com uma participação de 40% na receita da operação. Agora, a previsão é que essa fatia supere a casa de 50%.

João Carvalho, sócio-fundador e CEO da Hands Mobile

Os planos passam também pelos investimentos em frentes como a ampliação do time de cientistas de dados, a estruturação de canais parceiros de venda e a preparação para uma primeira etapa de internacionalização. Essa última vertente terá como palco o México e está prevista para 2021.

Nesse roteiro, a companhia quer concluir a captação de uma rodada de US$ 10 milhões, que estava em vias de ser fechada antes da Covid-19 e acabou sendo prejudicada pela pandemia. O aporte incluirá o follow on da Confrapar, gestora que investiu R$ 12 milhões na empresa, em 2018.

O impasse, no entanto, reside no nome que irá liderar a nova rodada. “Com a crise, há uma discussão sobre depreciar o valuation do ativo para reduzir o risco”, observa Carvalho. Ele entende que esse olhar, que classifica como “mais oportunista”, traz grandes chances de atrito passados os efeitos da crise. “Por isso, estamos avaliando se vamos reabrir as discussões com outros fundos.”

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