Dentro de um mês, o PicPay, uma das maiores fintechs do Brasil, com mais de 30 milhões de usuários ativos, vai entrar no mundo dos criptoativos. A empresa criou uma unidade de negócios batizada de Cripto e Web3 e pretende tirar do forno uma série de produtos.
A estratégia da companhia, revelada com exclusividade ao NeoFeed, inclui desde a criação de uma exchange para a negociação de criptoativos, o desenvolvimento de uma stablecoin própria e um mergulho no universo dos NFTs, com um marketplace para usuários e a intenção de se tornar um tokenizador.
“O Picpay vai entrar muito forte nesse mundo. Não será um produto acessório, será uma linha de negócios muito importante”, diz Anderson Chamon, cofundador e vice-presidente de produtos e tecnologia do PicPay.
O primeiro passo nessa jornada, que deve estar no ar em um mês, é o lançamento de uma exchange na qual o usuário poderá comprar moedas e armazenar dentro do PicPay. Nesse momento inicial, terá Bitcoin, Ethereum e a USDP, uma stablecoin lastreada em dólar. Até o fim do ano, a meta é negociar 100 moedas.
O segundo passo é o lançamento de uma stablecoin própria lastreada em real. “Não existe uma stablecoin robusta lastreada em real e o PicPay será o grande patrocinador disso”, diz Chamon. A moeda será batizada de Brazilian Real Coin (BRC) e a meta é listar nas principais exchanges ao redor do mundo.
“Não será necessário ser um usuário PicPay para usar essa stablecoin. Você pode ser um turista vindo para o Brasil, pegar o Paypal ou outra carteira digital, comprar a BRC em uma exchange e usar no mercado brasileiro”, diz Chamon.
A BRC valerá 1 real e, segundo Chamon, essa é a beleza do negócio. “É paridade um para um. Ela tem as propriedades de uma moeda descentralizada, permite que o usuário mande de um lado para o outro, criando a desintermediação de banco, bandeira e adquirente”, diz ele.
Até o fim do ano, os criptoativos serão plugados em todas as jornadas de pagamento dentro do PicPay. Será possível usar para pagar desde um café na padaria ou contratar um seguro dentro da plataforma. “Vai poder pagar boleto, contas, PIX usando cripto”, diz Chamon.
A companhia começou a estruturar a unidade de negócios de Cripto e Web3 há cinco meses. Desde então, trouxe o executivo Bruno Gregory, baseado no Vale do Silício, para liderar o negócio. Além disso, contratou outros 20 profissionais para a área e tem outras vagas sendo preenchidas.
Chamon diz que o PicPay resolveu entrar nesse segmento porque os próximos dez anos serão decisivos para essa tecnologia. A ideia é embarcar os criptoativos, até mesmo um NFT de um jogo, no mundo de pagamentos. “Nosso papel é tirar a complexidade disso, trazer para o mundo real e ajudar cripto a se popularizar. Seremos um agente propulsor disso”, diz Chamon.
Mas fazer os criptoativos se popularizarem, serem usados no dia a dia, não é uma tarefa fácil. O executivo explica que o usuário poderá fazer um PIX usando cripto e o dono de um estabelecimento nem vai saber. “Faremos a conversão e ele receberá em dinheiro”, afirma.
A companhia está entrando no mercado em um momento em que o setor de cripto atravessa um terrível inverno, com exchanges suspendendo operações de usuários e algumas delas vendo seus valores de mercado despencarem.
A americana Coinbase, por exemplo, abriu o capital em abril do ano passado valendo US$ 85,7 bilhões e, na última sexta-feira, 7 de julho, valia US$ 15,7 bilhões, uma queda de mais de 81,6%. Por conta da crise, em junho passado, a empresa demitiu 1,1 mil pessoas, 18% de seu quadro de funcionários.
O PicPay também vai entrar em um mercado já povoado e em uma guerra entre as principais corretoras do mercado – desde as estrangeiras como Binance e Bitso até as brasileiras Foxbit e Mercado Bitcoin.
A chinesa Binance, uma gigante de US$ 38,2 bilhões, tem sido criticada pelos rivais por praticamente zerar as taxas de corretagem com o intuito de “comprar mercado”. Já o Mercado Bitcoin, a maior empresa nacional do setor, está capitalizada por um polpudo aporte de US$ 200 milhões realizado em julho do ano passado pelo Softbank.
O PicPay vai cobrar um fee fixo em transações pequenas e em grandes volumes serão percentuais. Vai variar de R$ 0,39 a 1,2% da transação. “A nossa visão é de longo prazo. Estamos de olho nos fundamentos da tecnologia”, diz Chamon.
Cripto, diz ele, é um assunto que a companhia vem acompanhando há muito tempo. “No bull market de 2017, era um tema que estava ligado a especulação, a ganhar dinheiro fácil, enriquecer”, diz Chamon.
O executivo diz que agora, no recente bull market, o cenário começou a mudar. “Começou a sair da fase de especulação para a fase de uso real. E foi aí que decidimos dar um passo para entrar nisso. Enxergamos muito valor na tecnologia”, diz Chamon. E o PicPay pretende usar o seu poder de escala para mudar o jogo.
A empresa fechou o ano de 2021 com 63 milhões usuários registrados na base dos quais 30 milhões são ativos. No ano passado, foram R$ 92 bilhões de volume transacionados – um salto de 153% em relação a 2020. O número de usuários cadastrados saltou 62% e o de usuário ativos cresceu 64,5%.
A receita, de R$ 1,1 bilhão, representou um aumento de quase 200%. O prejuízo, por sua vez, chegou a R$ 1,9 bilhão, mais do que o dobro do apresentado em 2020. O plano da companhia, que já tem unidades de negócios como as verticais financeira, marketplace financeiro, store e social, é ir plugando nova unidades para aumentar o uso e a lucratividade.
A área de Cripto e Web3 é mais um ingrediente nesse sentido. “Em 12 meses, acreditamos que 3 milhões de usuários farão uso de criptoativos dentro do PicPay”, diz Chamon.