Em um de seus momentos mais críticos desde que despontou como uma opção de investimentos, as criptomoedas vivem uma fase de fortes baixas, que está sendo chamada no mercado de “inverno cripto”.

Não é para menos. As liquidações em criptomoedas acumularam uma perda de mais de US$ 1 bilhão entre a manhã da segunda-feira e a manhã de hoje, segundo o portal americano Coindesk. Desse total, o Bitcoin respondeu por mais de R$ 532 milhões desse volume.

Se o clima já não é nada favorável, o início desta semana trouxe três novos componentes que agravaram ainda mais esse cenário e fizeram o sinal de alerta soar no mercado. As portadoras dessas mensagens foram a Coinbase, a Binance e a Celsius, três grandes operadoras desse mercado

O alerta mais recente nesse curto intervalo de tempo foi dado pela Coinbase, que se tornou a primeira plataforma de negociação de criptomoedas a ter capital aberto, depois de concluir seu IPO em abril de 2021 na Nasdaq.

Nesta terça-feira, 14 de junho, a Coinbase anunciou a decisão de demitir cerca de 1,1 mil profissionais, 18% do seu quadro de funcionários, para garantir que a operação irá se “manter saudável” durante a crise econômica.

Em comunicado, o cofundador e CEO Brian Armstrong citou fatores como a perspectiva de uma recessão após um “boom econômico de mais de 10 anos”, que pode levar a um outro “inverno cripto”, e ressaltou que gerenciar os custos é fundamental nesse contexto.

Ele também destacou que a empresa “cresceu muito rápido”, “quatro vezes nos últimos 18 meses”, na trilha da explosão da adoção dos criptoativos. “Embora tenhamos tentado o nosso melhor para acertar, nesse caso, está claro para mim agora que contratamos em excesso”, afirmou Armstrong.

Por volta das 11h36 (horário dos Estados Unidos), as ações da Coinbase caíam 0,63% na Nasdaq. Os papéis da companhia, avaliada em US$ 13,3 bilhões, acumulam uma desvalorização de mais de 79% em 2022.

O termômetro do “inverno cripto” ganhou outras baixas um dia antes, com a interrupção das operações na Binance e na Celsius.

Na Binance, a suspensão dos saques foi anunciada pelo CEO Changpeng Zhao, no Twitter. Ele atribuiu o “circuit break” a uma “transação emperrada” e disse que a paralisação duraria 30 minutos. Mas, em um novo post, informou que o processo levaria mais tempo.

Posteriormente, a Binance deu mais detalhes sobre a medida ao informar, em nota, que a interrupção se deu por conta de um lote anterior de transações, que ficou bloqueado em função das baixas taxas de operação enviadas, resultando “em um acúmulo de retiradas da rede Bitcoin”.

Após a suspensão das transações por um período de cerca de três horas, na manhã da segunda-feira, a empresa confirmou a retomada dos saques.

A medida da Binance foi precedida pelo movimento a Celsius Network, uma das principais credoras de criptoativos do mundo. A companhia atua com a oferta de operações financeiras, como empréstimos, envolvendo criptomoedas.

Na noite do domingo, 12 de junho, a Celsius anunciou o congelamento dos saques e negociações em sua plataforma, após seu presidente, Alex Mashinsky, negar, em diversas oportunidades, que a empresa seguiria esse caminho.

“Devido às condições extremas do mercado, estamos anunciando que a Celsius está pausando todos os saques, swaps e transferências entre contas. Estamos tomando essa ação hoje para colocar a Celsius em uma posição melhor para honrar, ao longo do tempo, suas obrigações de retirada”, informou a empresa, em comunicado.

Na nota, a Celsius acrescentou que os clientes continuarão a acumular remunerações durante a interrupção das operações. E disse acreditar que, apesar de ser uma decisão difícil, a paralisação – ainda em curso – era a medida mais “responsável” para proteger sua comunidade.

A medida provocou, porém, a reação de nomes relevantes do mercado financeiro mundial. Entre eles, Andrew Bailey, presidente do Banco da Inglaterra, o banco central britânico, conhecido por suas reservas e seu ceticismo em relação às criptomoedas.

“Se você quiser investir nesses ativos, tudo bem. Mas esteja preparado para perder todo o seu dinheiro”, afirmou Bailey durante evento com reguladores britânicos, segundo o portal americano Business Insider.

“As pessoas ainda podem querer comprá-los, mas eles não têm valor intrínseco. Essa manhã vimos outra explosão em uma exchange de criptomoedas”, acrescentou, em uma referência ao caso da Celsius Network.

O fato é que os três movimentos anunciados nessa semana foram seguidos por uma queda substancial no mercado de criptomoedas, intensificando o recuo que já vinha sendo observado ao longo do ano e reforçado por questões como as medidas do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, para combater a inflação, gerando menor apetite a investimentos de risco, como esses ativos.

Principal vedete desse mercado, o Bitcoin ilustra bem esse contexto. Na segunda-feira, a cotação do ativo chegou a US$ 22.494,30, seu patamar mais baixo em 18 meses e que representou uma queda superior a 22%, em relação à cotação da sexta-feira, 10 de junho.

Levando-se em conta essa cifra, o Bitcoin acumula uma desvalorização de mais de 52% em 2022. Nesta terça-feira, por volta do meio-dia, a moeda estava sendo negociada a US$ 22.513,90, com ligeira alta de 0,24%.