Nos últimos cinco anos, o Fleury não tem economizado recursos para fortalecer seu negócio de medicina diagnóstica e estender seus tentáculos em novos segmentos. Com essa orientação, o grupo fechou dez aquisições na primeira vertente e outros seis acordos para encorpar sua oferta.

Fruto de uma aquisição realizada bem antes dessa onda, outra peça começa a ganhar espaço nesse quebra-cabeça. Trata-se da marca Campana, laboratório comprado em 2008 e cujas unidades foram absorvidas pela bandeira a+, voltada ao segmento intermediário.

Depois de promover o retorno da marca, em 2019, apenas no digital e com atendimentos móveis, o Fleury voltou a investir em pontos físicos da bandeira. A partir da abertura de três unidades da marca, em outubro desse ano, o grupo enxerga uma oportunidade para avançar também entre os consumidores de menor renda.

“Esse é um mercado em que nós tínhamos só o digital e uma atuação muito tímida”, diz Jeane Tsutsui, CEO do Fleury, ao NeoFeed. “É um segmento novo, que tem muito potencial e uma oportunidade para nós, que, hoje, estamos mais nos segmentos premium e intermediário, com as marcas Fleury e a+.”

Inauguradas em São Paulo, nos bairros de Santana e do Tatuapé, e em Santo André, no ABC paulista, as três primeiras unidades ilustram a fórmula do Fleury para o segmento. Localizadas em regiões de grande circulação e de comércio popular, elas têm menor porte, entre 162 e 183 metros quadrados.

Em linha com essa proposta mais enxuta, essas unidades não contam com guichês. Todos os processos anteriores às coletas são feitos por meio de tótens de autoatendimento e os exames têm preços a partir de R$ 6.

“Estamos adotando ferramentas digitais para aproveitar melhor o metro quadrado e aumentar a produtividade”, afirma Tsutsui. “Essa é a maneira de termos um modelo operacional adequado e eficiente para atender esse público.”

Com a previsão de abertura de outras três unidades até o fim do ano, a executiva não revela os planos de expansão da bandeira para 2023. Mas ressalta que a estratégia focada nos consumidores das classes C, D e E não está restrita a esse mapa.

“O Campana é uma marca de São Paulo, mas temos a intenção de atender o segmento básico também em outras regiões”, observa. “Os outros mercados do País não são segmentados como São Paulo, mas já temos ampliado essa oferta e os contratos com planos de saúde, por exemplo, no Rio de Janeiro.”

Enquanto traça os próximos passos dessa expansão, o Fleury já colhe resultados com a marca nos atendimentos móveis. A Campana é uma das bandeiras que compõem esse serviço, que registrou alta de 36,6% entre julho e setembro de 2022, ante igual período, em 2021.

Os atendimentos móveis já representam 9% da receita total do grupo, cuja receita bruta foi de R$ 1,23 bilhão no terceiro trimestre deste ano. A cifra representou um crescimento anual de 11,4% e um recorde trimestral para a empresa nesse indicador.

Jeane Tsutsui, CEO do Fleury

A lógica da produtividade e eficiência também está no centro de movimentos do Fleury no segmento premium. A companhia vem investindo em projetos de retrofit nesse espaço, nos quais, expande o portfólio em linhas já ofertadas e, ao mesmo tempo, adiciona novos serviços aos clientes.

Sete unidades foram alvos recentes dessa estratégia focada na marca Fleury. Entre elas, os laboratórios da rede instalados na avenida Juscelino Kubitschek, no Itaim Bibi, bairro nobre da capital paulista, e em Santo André.

“No Itaim, por exemplo, abrimos um novo andar, ampliamos a oferta de exames como ressonância e ecocardiografia, trouxemos novas tecnologias de tomografia e montamos uma área de atendimento infantil”, diz Tsutsui.

Para financiar essas e outras estratégias, o Fleury anunciou um aumento de capital em outubro, previsto para ser concluído nesse mês. Com a expectativa de levantar até R$ 1,2 bilhão, um dos principais destinos será viabilizar parte da fusão com o Hermes Pardini, anunciada no fim de junho e avaliada em R$ 2,5 bilhões.

“Também vamos dar sequência às aquisições, mas não com acordos transformacionais, como o Pardini”, diz José Filippo, CFO do Fleury. No terceiro trimestre, a empresa anunciou as compras da Retina Clinic, na área de oftalmologia, e do laboratório Méthodos, em Minas Gerais.

“Outro direcionador é ajustar o nosso nível de alavancagem, que não é alto”, afirma Filippo. “Mas em um cenário de juros mais elevados, entendemos que é prudente ter uma estrutura de capital mais conservadora.” O Fleury encerrou o terceiro trimestre com uma relação dívida líquida/Ebitda de 1,7 vezes, contra 1,8 vezes ao fim do segundo trimestre desse ano.

Ebitda recorde

O recorde de receita bruta não foi o único reportado pelo grupo entre julho e setembro. No período, o Fleury registrou um crescimento de 10,5% em seu Ebitda recorrente, para R$ 332,4 milhões, a melhor marca trimestral da história nesse indicador. A margem Ebtida recorrente ficou em 29%.

No trimestre, o lucro líquido teve uma ligeira alta de 0,3% sobre o mesmo intervalo de 2021, para R$ 96,7 milhões. Já na receita líquida, a empresa divulgou um salto de 11,5%, para R$ 1,14 bilhão, na mesma base de comparação.

O segmento que o Fleury classifica como “Novos Elos”, que inclui negócios como oftalmologia, ortopedia e infusão de medicamentos, teve uma expansão de 16,8% e respondeu por 7,2% da receita de toda a operação.