Fundada em 2021, a GHT4 reuniu Laércio Cosentino, fundador da Totvs, Guga Valente, que criou o grupo de comunicação ABC (agência Africa, DM9DDB e CDN) e Caio David, ex-CEO do Itaú BBA, para fazer a gestão do patrimônio das famílias, em um conceito de multifamily office.
Agora, a GHT4 está dando um novo passo com a chegada de Livinston Bauermeister, ex-CEO da Veste (antiga Restoque) como sócio. A ideia é estruturar um Fundo de Investimento em Participações (FIP) para investir em empresas de saúde, tecnologia e serviços financeiros.
Ao mesmo tempo, o plano não é gerir apenas os recursos das famílias que são sócias, mas começar a captar recursos com terceiros para investir via o FIP. “É o começo de uma gestora”, diz Cosentino, com exclusividade ao NeoFeed.
Bauermeister deixou o comando da Veste no fim do ano passado, após um plano de reestruturação da dívida da companhia, dona das marcas Le Lis Blanc, John John, Bo.Bô, Rosa Chá, Dudalina e Individual, que culminou com a entrada de um novo controlador: a WNT Capital, cujo maior cotista é o Banco Master, que converteu a dívida de R$ 1,6 bilhão em ações.
“Minha missão na Veste estava cumprida e já vinha falando com o Laércio há algum tempo”, diz Bauermeister, que migrou para o conselho de administração da varejista. “Vim me juntar a sócios com visões e experiências diferentes para fazer investimentos.”
O FIP, cujo valor de captação não foi revelado, está começando a ser estruturado. A ideia é fazer investimentos no estilo de um private equity, comprando fatias majoritárias de empresas cujo faturamento comecem a partir de R$ 100 milhões. Não há ainda um valor de cheque definido para os aportes.
Além dos setores de interesse da GHT4, os alvos são empresas que tenham inovação em seu modelo de negócios e que contemplem estratégias ESG (environmental, social and corporate governance). Os sócios do multifamily office pretendem também participar do conselho de administração.
Até agora, o GHT4, que também investe em real estate, construiu uma carteira com 12 empresas. Nesses investimentos, os sócios do multifamily office têm, em alguns casos, o controle das companhias. Em outros, quando são minoritários, são acionistas influentes, com participação ativa no board.
O portfólio inclui a Mendelics, especializada no diagnóstico de doenças genéticas da qual Cosentino é chairman; Shipay, de pagamentos digitais; BR-ME, um e-commerce de vinhos; Biosolvit, de biotecnologia; e a Brain4Care, uma startup especializada em tecnologia para medição de pressão intracraniana.
A chegada de capital de terceiros faz parte de um plano da GHT4 para atrair outras famílias como associadas, para investir em conjunto com o quarteto. Rodrigo Vella, que fazia parte do grupo de sócios originais da GHT4, passa a ser agora um associado – ele, de acordo com Cosentino, decidiu dedicar-se ao seu escritório de advocacia.
O FIP, segundo Cosentino, deverá contar com o capital dos sócios da GHT4. Ele estima que entre 30% e 50% dos recursos do fundo devem vir dos sócios, em uma maneira de mostrar que estão comprometidos com o veículo.
Questionado se este é um bom momento para fazer a captação de um fundo, dado que as taxas de juros estão em 13,75%, o que incentiva investimentos em classes de ativos com menos riscos, como a renda fixa, Cosentino responde.
“O dinheiro existe. Você pode investir em renda fixa e ganhar (dinheiro) sem precisar fazer quase nada. Ou investir nessa classe de ativos, no qual o risco é maior, mas o retorno também”, afirma. Bauermeister complementa: “Esse é um bom momento para investir, pois os ativos e os valuatios estão depreciados.”
Mesmo com taxas de juros altas – e o pé no freio nos investimentos alternativos, a Kaszek, gestora fundada pelos argentinos Nicolas Szekasy e Hernan Kazah, conseguiu captar quase US$ 1 bilhão em dois fundos.
Outro fundo que deve chegar ao mercado em breve é o Bicycle, do ex-Softbank Marcelo Claure, que trouxe a gestora de Masayoshi Son para a América Latina. Ele busca US$ 500 milhões para investir em empresas da região.
Até agora, Claure se comprometeu com US$ 200 milhões e tenta convencer o Mubadala a ser um âncora do fundo. Outros LPs (limited partners) também estão sendo prospectados.
Experiência em private equity
Apesar de passar sete anos como CEO da Restoque (agora rebatizada como Veste), Bauermeister também foi sócio do fundo de private equity Artésia em conjunto com Márcio Camargo e Marcelo Lima.
Na gestora, eles fizeram investimentos na Produquímica, no banco americano C1 Bank, na mineradora Terrativa e na incorporadora Abyara.
Hoje, ainda mantém participação na Veste, que acaba de passar por uma reestruturação que levou a mudança de controlador, e na Metalfrio, fabricante brasileira de geladeiras que também enfrenta problemas financeiros.
Sobre a Veste, Bauermeister diz que a companhia tinha um plano de expansão ao longo de 2018/2019 que a fez saltar de 10 lojas para 300 lojas. Esse crescimento foi alavancado em dívida.
A pandemia, no entanto, criou uma série de problemas para a Restoque, que teve de começar um processo para renegociar sua dívida, o que levou a WNT Capital ao controle da varejista.
Rebatizada de Veste e com o capital reestruturado, a alavancagem ficou em 0,3 vezes o Ebitda, considerando um Ebitda ajustado de R$ 200,3 milhões em 2022.
No ano passado, o faturamento bruto foi de R$ 1,3 bilhão em 2022, alta de 20,3%. A margem Ebitda atingiu 18,8%, um crescimento de 8,2 pontos percentuais em comparação a 2021.
No quarto trimestre de 2022, a Veste contava com apenas 178 lojas. Seu valor de mercado, na B3, é de R$ 1,7 bilhão. No ano, suas ações sobem 6,8%.