O balanço financeiro do segundo trimestre do Bradesco animou o mercado e levou as ações do banco a uma valorização de aproximadamente 20% no último mês, superando em quase cinco vezes o desempenho do Ibovespa no período e contrariando a maré de preocupação vista ao longo de 2023.
Em meio a um plano complexo de reestruturação, o desempenho do Bradesco ultrapassou as barreiras de B3 e chamou a atenção do Goldman Sachs, que voltou a acreditar em sua recuperação, recomendando a compra dos papéis e vendo um potencial de valorização de 17% no valor dos ativos.
A mudança de avaliação ocorreu após o banco apurar um lucro líquido recorrente de R$ 4,71 bilhões no período, avanço de 4,4% na base anual e de 12% na comparação com o primeiro trimestre do ano. O valor veio acima das projeções, que apontavam para a faixa de R$ 4,3 bilhões.
Porém, o que realmente chamou a atenção do banco americano foi o crescimento da carteira de crédito do Bradesco. Totalizando R$ 912,1 bilhões no período, o banco registrou um avanço de 10,2% em empréstimos cedidos às pequenas e médias empresas (PMEs) e fez o Goldman acreditar em uma retomada nesse segmento.
“O crescimento dos empréstimos pode se beneficiar de um foco renovado nas PMEs, onde ainda há espaço para ganhar participação de mercado após mostrar uma melhoria significativa no trimestre”, afirmaram os analistas Tito Labarta, Tiago Binsfeld, Beatriz Abreu e Lindsey Shema no relatório.
Na visão dos especialistas, embora o Bradesco possa enfrentar alguns desafios ao expandir sua carteira de crédito ao consumidor pessoa física, devido à forte concorrência com as fintechs, existem grandes oportunidades para ganhar participação no segmento de PMEs, que costuma ser menos competitivo.
Para o Goldman Sachs, o banco também tem feito um trabalho “bastante razoável” no controle das despesas nos últimos cinco anos, que cresceram a uma taxa composta anual (CAGR) de 3% de 2018 a 2023. Porém, a entrada de dinheiro, contabilizada pela receita, continua sendo um desafio para o Bradesco.
“Acreditamos que essa falta de crescimento nas receitas tem sido impulsionada por um ambiente competitivo mais difícil, onde o banco tem consistentemente perdido participação de mercado, ao mesmo tempo em que sofre com um ciclo de crédito mais fraco, no qual foi afetado de forma mais dura do que os pares”, afirmam os analistas.
Segundo eles, porém, essa situação também parece estar começando a mudar. As trocas na gestão, que simplificaram a tomada de decisão e aumentaram o foco nos clientes, podem estar ajudando a contornar a situação.
Em relação ao retorno sobre patrimônio (ROE), o Goldman vê o Bradesco entregando números em linha com seu custo de capital nos próximos trimestres, à medida que o crescimento dos empréstimos acelera, o NIM (margem de juros líquida) se expande e a qualidade dos ativos melhora.
Para o lucro, as expectativas são ainda melhores. Os analistas acreditam que o lucro líquido da companhia deve encerrar 2024 em alta de 9%, atingindo R$ 19,5 bilhões. Para 2025 e 2026 os números devem continuar melhorando, com valorização de 7% e 4%, respectivamente. Assim, ao fim de 2026, o lucro líquido do Bradesco pode se aproximar dos R$ 30 bilhões.
“Agora esperamos ROEs de 11,9% em 2024, 14,8% em 2025 e 15,7% em 2026. Nossas estimativas estão 4% acima do consenso do Bloomberg em 2024, 5% acima em 2025 e alinhadas em 2026”, afirmam no relatório.
Neste cenário, o banco acredita que as ações do Bradesco podem atingir o valor de R$ 17,50, com um potencial de valorização de quase 17%.
“Esperamos que o Bradesco registre o segundo maior crescimento anual composto de lucros (CAGR) de 2023 a 2026 nessa recuperação, crescendo a uma taxa de 22%, atrás apenas do Santander Chile em nossa cobertura entre os bancos incumbentes da região”, complementam os especialistas.