Líder do mercado de depilação a laser no Brasil, a Espaçolaser abriu capital em fevereiro deste ano e levantou R$ 2,6 bilhões. Semanas depois, porém, a segunda onda da pandemia se agravou e o Brasil voltou a se “fechar”, esvaziando as ruas novamente.
À primeira vista, o momento para o IPO parecia ter sido inoportuno. De fato, o “azar” se traduziu em números logo no primeiro balanço. Com apenas 42% das lojas abertas em março, a receita de todas as lojas, entre próprias e franqueadas, caiu 21% no primeiro trimestre de 2021, para R$ 276,9 milhões, em comparação ao trimestre anterior.
“É claro que, após um IPO, não esperávamos lidar com um cenário parecido com o de 2020, já que somos um varejo de serviços, que depende do físico”, diz o co-CEO da Espaçolaser, Paulo Morais, ao NeoFeed. “Mas vimos o copo meio cheio, pois o ano de 2020 foi de aprendizados e conseguimos tornar a operação mais eficiente.”
Sem ficar de braços cruzados, a companhia não demorou para começar a virar o jogo, na esteira do início da reabertura da economia. Os resultados do segundo trimestre ainda são negativos, com queda de 7,3% em relação aos primeiros três meses do ano, para R$ 256,6 milhões, mas o desempenho do mês mais recente já indica uma retomada.
Em junho, a proporção de lojas em operação era o dobro do nível de março, com 86%, e as vendas nas unidades que já existiam em igual mês do ano passado cresceram 8,1%, segundo balanço publicado na manhã desta quarta-feira, dia 1 de setembro.
Além disso, a empresa conseguiu sair do vermelho para o azul no resultado líquido. Depois de registrar um prejuízo de R$ 84,7 milhões no segundo trimestre do ano passado, o primeiro da pandemia, a empresa anotou um lucro de R$ 73,1 milhões entre abril e junho deste ano.
Por incrível que pareça, um dos fatores que têm ajudado a empresa é a expansão da rede de lojas, ainda que a companhia não consiga manter todas em operação. A Espaçolaser encerrou o segundo trimestre com 634 unidades, 19% de alta em relação aos 533 pontos existentes em junho do ano passado.
“No início da pandemia, suspendemos a expansão, porque não havia visibilidade”, diz Morais. “Mas quando houve a primeira reabertura, percebemos que perdemos tempo, porque a demanda voltou em ritmo acelerado.”
Lição aprendida. Quando veio a segunda onda, nada de interromper obras. “Se sabemos que vai retomar novamente, e agora temos a vacinação, não há razão para suspender a expansão”, afirma o executivo. Apenas em 2021, foram 92 novas lojas. No restante do ano, serão mais 46, já aprovadas. “A fotografia é ruim, mas o filme é positivo.”
“A empresa parece estar vivendo um ponto de inflexão”, afirma o BTG Pactual, em relatório a clientes, assinado pelos analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Victor Rogatis. O banco, aliás, foi surpreendido pelos resultados da Espaçolaser no segundo trimestre.
Enquanto a instituição esperava que o Ebitda ajustado registrasse R$ 67 milhões, o indicador ficou em R$ 85 milhões, alta de 66% em relação ao número de igual período do ano passado.
“Embora os resultados do segundo trimestre tenham sido novamente atingidos pelo impacto da pandemia, já vemos sinais mais claros de recuperação”, afirmam os analistas, que recomendam a compra do papel da companhia e estimam um preço-alvo de R$ 23. Nesta quarta-feira, a ação fechou negociada a R$ 18,50, alta de 19,3%. A empresa é avaliada em R$ 4,5 bilhões.
Na visão do BTG, o resultado do Ebitda ajustado foi impulsionado principalmente pela redução das despesas da companhia. Em média, o custo de cada loja caiu 9% em relação ao patamar de 2019, comparam os analistas.
Entre abril e junho, a empresa reportou um lucro de R$ 73,1 milhões, revertendo a perda de R$ 84,7 milhões, de um ano atrás
Morais, da Espaçolaser, atribui a maior eficiência a investimentos mais pesados em tecnologia. A companhia, que sempre apostou em call centers para atender clientes pelo telefone, investiu em um aplicativo para fazer os agendamentos.
“A estrutura de call center era gigantesca e agora está em menos da metade”, afirma. Antes, eram 100 profissionais no atendimento. Agora, são 32.
O Goldman Sachs, que recomenda compra do papel, com um preço-alvo de R$ 22, também considerou que o segundo trimestre da Espaçolaser foi positivo e disse que tem boas perspectivas para a companhia.
“Está exposta à reabertura da economia, com possibilidade de fusões e aquisições e tem um plano orgânico de expansão”, escreveram os analistas Irma Sgarz, Felipe Rached e Chandru Ravikumar, também nesta quarta.