Há duas semanas, a pequena Nova Mutum (MT), com pouco mais de 46 mil habitantes, foi palco da Expo Nova. Além do rodeio e dos shows de astros sertanejos, outra atração fez sucesso no evento: o lançamento do Stella, prédio residencial que, em dois dias, vendeu 100% das suas 100 unidades.

Longe de ser um ponto fora da curva, o projeto ilustra o alcance da Housi. Fundada em 2019, como um spin-off da Vitacon, a empresa aposta em franquias com incorporadoras. Os prédios dos parceiros levam sua assinatura e são equipados com um amplo leque de serviços, de minimercados e locação de eletrodomésticos a carros elétricos compartilhados.

Com esse modelo, empacotado internamente como o “Windows do real estate”, a startup de moradias flexíveis e sob demanda conquistou, em pouco tempo, algo incomum no setor: presença nacional. Seu portfólio tem mais de 500 empreendimentos, em 120 cidades. E o plano é acelerar essa jornada.

“Nós ultrapassamos R$ 100 milhões em faturamento em 2022 e nosso VGV (Valor Geral de Vendas) já supera R$ 15 bilhões”, diz Alexandre Lafer Frankel, fundador e CEO da Housi, ao NeoFeed. “Nossa projeção é crescer, pelo menos, de três vezes a três vezes e meia em 2023.”

É justamente nessa escala que reside a aposta da Housi para concretizar essa meta. O novo percurso inclui acordos com fornecedores do setor de construção, ofertas financeiras e a extensão da sua atuação para além dos lançamentos de empreendimentos.

Até então, o mantra de ser o sistema operacional dos prédios e dotá-los de inteligência estava restrito à plataforma AppSpaces. Nela, os moradores contratam produtos e serviços de 80 parceiros, em uma lista que inclui Unilever, Coca-Cola, Localiza, Tembici e Ambev.

Agora, após atingir essa massa crítica e, em linha com a “inspiração” da Microsoft, a companhia começa a plugar outras ofertas, ou o seu pacote “Office”, voltadas às incorporadoras.

“Hoje, nós temos muito mais prédios do que uma Cyrela ou uma MRV”, afirma Frankel. “Isso nos dá um poder de barganha e abre a porta para produtos e serviços em um formato que o mercado imobiliário nunca acessou antes.”

Com essa orientação, desde fevereiro, a Housi vem testando um modelo em que negocia com a indústria de fornecedores de construção para obter melhores condições para as incorporadoras da sua base comprarem produtos e serviços.

Alexandre Lafer Frankel, fundador e CEO da Housi

Os acordos envolvem desde produtos exclusivos em condições mais favoráveis, por exemplo, de entregas, até descontos, em média, de 20% e que, em alguns casos, chegam a 40%. A Housi fica ainda com um percentual – não revelado – das vendas que gera aos fornecedores.

Essa plataforma já tem opções em categorias que vão de pisos e sistemas de segurança a fechaduras digitais e outras linhas ligadas à internet das coisas. Cerca de 30 fornecedores estão cadastrados. Entre eles, empresas como Portobello, Tramontina, Lifefitness e Control ID.

“Essa compra em grande escala pode nos trazer muita economia”, diz Eduardo Schuster, sócio da Santer Empreendimentos, incorporadora especializada em empreendimentos de alto padrão e que atua no norte de Santa Catarina.

A empresa fez sua primeira incursão, ainda em voo solo, no modelo de moradia sob demanda em 2022. E, ao entender que precisava escalar esse formato, se associou à Housi para o lançamento do Fun Residences, há dois meses, na cidade de Penha (SC).

O resultado foi um recorde, com as duas torres, de 144 apartamentos cada, reservadas em 10 e 4 minutos, respectivamente. Schuster não atribui, claro, o resultado unicamente à parceira. Mas estima que a Housi acelerou em mais de 30% a velocidade de suas vendas.

“Esse modelo permite ao prédio escolher o que quer conectar e, ao mesmo tempo, gerar receita com esses serviços”, diz. “Nós estendemos a parceria com a Housi por mais dois anos, vamos ter um segmento exclusivo nesse formato e boa parte do nosso market share vai estar nesse tipo de produto.”

Fintech e prédios prontos

Outra célula em desenvolvimento na Housi é o braço de fintech, em duas frentes. Com recursos próprios e em testes desde o segundo semestre de 2022, a primeira é a oferta de crédito para que os moradores ou investidores decorem o imóvel, em até 24 parcelas.

Voltado ao financiamento de projetos dos incorporadores, o segundo produto começou a ser pilotado em fevereiro. Aqui, o funding está sendo viabilizado por parceiros cujos nomes não foram revelados.

“Já somos sócios, de certa forma, das incorporadoras e conhecemos suas carteiras. Sabemos quando e para quem dar crédito”, diz Frankel. “Estamos montando as primeiras operações e é natural que esse modelo se torne um dos maiores para a Housi em um curto espaço de tempo.”

Minimercado no Fun Residences, empreendimento da Santer Empreendimentos e parte da rede da Housi

Outra aposta é embarcar sua proposta em empreendimentos já em operação. “O universo de lançamentos é infinitamente menor do que o de prédios prontos. São mais de 70 milhões de moradias no País e estamos numa fração mínima disso. Esse passo nos abre uma porta monstruosa”, afirma.

Uma das chaves para ganhar escala também nesse espaço é a parceria firmada em dezembro de 2022 com a Lello, gestora de condomínios que tem 3,5 mil prédios sob administração. Outra via são os próprios parceiros plugados no AppSpaces, muitos deles, com presença nesse segmento.

“Os prédios prontos representam cerca de 10% do nosso portfólio e, ainda nesse ano, eles devem superar os prédios em construção ou lançamentos”, diz Frankel. “Em termos de receita, há uma curva de maturação e eles vão começar a ter mais peso a partir de 2024.”

Há outras empresas na disputa pelo mesmo mercado que a Housi. Com diferenças, porém, no modelo e na escala. Braço de locação da incorporadora JFL, a JFL Living, por exemplo, também aposta em imóveis equipados. Mas isso está restrito a seus empreendimentos e à capital paulista.

A Atlantica Hospitality International, que tem investido mais na gestão de formatos como residenciais com serviços é mais um exemplo. A lista também inclui proptechs como a Yuca e a Tabas. Outros nomes, no entanto, ficaram pelo caminho. É o caso da mexicana Casai, que deixou o País no início desse ano, após fundir sua operação em agosto de 2022 com a Nomah, até então, um braço da Loft.

Entretanto, segundo o próprio Frankel, quem mais se aproxima de um concorrente para a Housi no mercado brasileiro é a rede hoteleira Accor, especialmente com a bandeira Adagio, voltada ao segmento de long stay.