Os alertas crescentes quanto a uma possível bolha na esteira dos volumes cada vez mais expressivos de investimentos destinados à inteligência artificial (IA) ganharam um reforço de peso: Jeff Bezos, o fundador da Amazon.
“Isso é uma espécie de bolha industrial”, afirmou Bezos, durante sua participação na Italian Tech Week, em Turim, nesta sexta-feira, 3 de outubro, quando questionado se havia sinais de que esse cenário se assemelha a uma bolha, segundo a rede americana CNBC.
Na sequência, ele destacou algumas das principais características das bolhas, ressaltando que, quando elas acontecem, os preços das ações ficam “desconectados dos fundamentos” de um negócio. Enquanto que, em paralelo, os investidores acabam contaminados por essa onda.
“Os investidores têm dificuldade em meio a esse entusiasmo de distinguir entre as boas e as más ideias. E isso provavelmente também está acontecendo hoje”, afirmou. “Mas isso não significa que tudo o que está acontecendo não seja real. A inteligência artificial é real e vai mudar todos os setores.”
Nessa linha, Bezos recorreu a momentos semelhantes, como a bolha das empresas de biotecnologia na década de 1990 e a bolha pontocom, no início do século, para exemplificar como situações dessa natureza podem render bons frutos.
No primeiro caso, ele observou que, embora muitas empresas tenham falido e muitos investidores tenham perdido dinheiro, o período gerou “medicamentos que salvaram vidas”. E disse ainda que a bolha pontocom foi um período de investimento promissor, que beneficia o mundo até hoje.
“As bolhas industriais não são tão ruins, podem até ser boas, porque quando a poeira baixa e você vê quem são os vencedores, as sociedades se beneficiam dessas invenções”, afirmou. “É isso que vai acontecer aqui também. Isso é real. Os benefícios da IA para a sociedade serão gigantescos.”
Quem também adotou um discurso semelhante na Italian Tech Week foi David Solomon, CEO do Goldman Sachs. Para o executivo, o mercado de capitais deve sofrer uma queda no próximo ano ou em 2027, após os recordes registrados na esteira do “frenesi” da IA.
“Sempre que temos uma aceleração significativa em uma nova tecnologia que cria muita formação de capital e, portanto, muitas empresas novas e interessantes no entorno, geralmente vemos o mercado correr à frente do potencial. Haverá vencedores e perdedores”, afirmou Solomon.
Ele pontuou que, quando os investidores estão entusiasmados, tendem a pensar no que pode dar certo e minimizar os fatores sobre os quais deveriam ser céticos e que podem estar errado. E acrescentou: “Haverá uma redefinição. Haverá uma revisão em algum momento, haverá uma queda”, observou. “A extensão disso dependerá de quanto tempo durará esse mercado em alta.”
Além da programação da Italian Tech Week, outros nomes de peso já se manifestaram sobre o assunto recentemente. Esse é o caso, por exemplo, de Sam Altman, cofundador e CEO da OpenAI, dona do ChatGPT e uma das estrelas desse boom de IA. E o tom adotado foi semelhante.
“Quando bolhas acontecem, pessoas inteligentes ficam superexcitadas, com um fundo de verdade”, afirmou Altmam em uma entrevista concedida a um grupo de jornalistas em agosto. “Se você observar, a maioria das bolhas da história, como a de tecnologia, verá que houve algo real.”
Na conversa, ele ressaltou, porém, que considera “insano” que algumas startups de inteligência artificial, “com três pessoas e uma ideia”, estejam atraindo rodadas com valuations tão elevados. E complementou: “Isso não é um comportamento racional. Acho que alguém vai se queimar”.