À frente da BlackRock, maior gestora do mundo, com um portfólio de US$ 6,8 trilhões, Larry Fink é uma das principais vozes no mercado de capitais a defender a bandeira do capitalismo consciente. Mais preocupado com as questões sociais, ambientais e de governança, traduzidas na sigla ESG.
Aos 67 anos, o bilionário americano tem reforçado essa mensagem, por exemplo, em suas famosas cartas anuais dirigidas aos CEOs das empresas investidas da gestora. Na última delas, divulgada no início do ano, ele foi ainda mais incisivo, ao falar da urgência de incorporar fatores como gestão de riscos climáticos aos negócios. “Risco climático é risco de investimento”, escreveu.
Sob os impactos sem precedentes da Covid-19, muitas das questões levantadas por Fink ficaram expostas. E é justamente sob a ótica dos valores que costuma propagar que o bilionário americano enxerga um caminho para o pós-crise. “É preciso achar um equilíbrio entre pragmatismo e compaixão”, disse Fink, em live realizada, na tarde desta quinta-feira, com Sergio Rial, o CEO do banco Santander. “Nesse momento, essa é a questão que todo governante, legislador e CEO deveria abordar.”
Ele destacou que esse dilema está exposto na retomada gradual da economia em países como Estados Unidos e Alemanha. Sob um contexto que não prevê uma vacina no curto prazo e diante da quantidade de testes ainda insuficientes, Fink entende que uma provável segunda onda de infecções precisará ser acompanhada por novos pacotes de estímulos.
“Os mercados de capitais estão retomando e esperamos que boa parte da economia se recupere”, afirmou. “Mas se essa segunda curva durar muito tempo, o que faremos com a questão do desequilíbrio social? Os mais impactados serão aqueles com menos privilégios.”
Além das pessoas de menor poder aquisitivo, Fink ressaltou que as pequenas e médias empresas devem ser olhadas com atenção já que, diferentemente das grandes corporações, elas não têm acesso a fontes de financiamento como os mercados de capitais.
“Muitos empregos foram eliminados pela Covid-19. E muitos deles não vão voltar”
“Muitos empregos foram eliminados pela Covid-19. E muitos deles não vão voltar”, observou, ressaltando segmentos como restaurantes e turismo entre os mais impactados. “Por isso, vamos precisar da criação de grandes programas de empregos, especialmente na área de infraestrutura e em áreas como a construção civil.”
Nesse cenário, essas iniciativas exigiriam uma cooperação entre as diferentes esferas dos governos, os bancos e as grandes empresas. “Acredito que a maior parte do capital para financiar esses projetos teria de vir do setor privado.”
Da mesma forma, Fink ressaltou que essa colaboração deve se estender à relação entre os países. “Em um momento como esse, estamos ouvindo falar sobre guerra comercial e países brigando para saber quem será o primeiro a ter acesso à vacina”, disse. “Os líderes precisam entender que estamos todos envolvidos nisso e que precisamos cooperar.”
“Em um momento como esse, estamos ouvindo falar sobre guerra comercial e países brigando para saber quem será o primeiro a ter acesso à vacina”
O bilionário apontou que a crise também expôs os problemas da concentração da cadeia de suprimentos em alguns pólos de produção, como a China. “Acredito que as empresas terão que evoluir, cada vez mais, para criar uma redundância nessas cadeias”, afirmou. “E nesse cenário, os países mais próximos às nações desenvolvidas, com alta demanda, podem ser beneficiados.”
Ele salientou ainda que a tecnologia será um componente cada vez mais fundamental. E que as empresas que negligenciam os investimentos nesse segmento deixarão de existir. “Os grandes vitoriosos serão as companhias que se conectam com clientes e funcionários usando esses recursos.”
Em linha com o seu discurso habitual, Fink ressaltou que a pandemia reforçará a necessidade de uma nova abordagem por parte de governos e empresas a questões como a sustentabilidade. E que essa demanda virá, especialmente, das novas gerações.
“No pós-Covid-19, acredito que os jovens e toda a sociedade vão exigir maior foco em frentes como as mudanças climáticas”, afirmou. “Nós ainda estamos negando esses impactos e não estamos fazendo o suficiente.”
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