Fundado em 2019, o C6 Bank é parte da leva de bancos digitais criada nos últimos anos para desafiar os players tradicionais do setor. Apesar desse ponto de partida em comum, nos anos seguintes, a instituição decidiu trilhar um caminho um pouco diferente na comparação com alguns de seus pares.
Enquanto nomes como Nubank e Inter rumaram para o mercado de capitais, o C6 Bank escolheu avançar longe dos escrutínios trimestrais das operações de empresas de capital aberto. Mas, agora, mesmo que por outra via, a companhia acaba de cumprir um destino já percorrido por essas empresas.
Em novembro, o C6 Bank alcançou o break even em sua operação, ao reportar o primeiro lucro mensal de sua história, de aproximadamente R$ 15 milhões. Com isso, o banco cumpre a promessa feita há cerca de quatro meses de que tingiria, ainda em 2023, a última linha do seu balanço de azul.
“É um marco importante pra gente, mas é só mais um passo”, diz Marcelo Kalim, cofundador e CEO do C6 Bank, ao NeoFeed. Ele projeta, no entanto, dar sequência a essa trajetória. “Eu tenho bastante convicção que o lucro mensal não só será recorrente, como será crescente, cada vez mais.”
Essa barreira já havia sido cruzada justamente por nomes como Nubank e Inter. O primeiro, em 2022. E o segundo, no terceiro trimestre de 2021. O que, teoricamente, só ampliava a expectativa para que o C6 Bank seguisse o mesmo rumo. Kalim discorda, no entanto, dessa pressão.
“Eu nunca senti essa cobrança, até mesmo porque não somos e, provavelmente, nunca seremos uma companhia aberta”, afirma ele. “Então, eu devo satisfação ao meu board e aos meus acionistas.” Entre eles, o J.P. Morgan, sócio da operação desde 2021 e que, em agosto deste ano, ampliou sua fatia de 40% para 46% no negócio.
Na conversa, Kalim fala sobre essa associação com o banco americano, além de outros temas. Confira:
O que o break even diz sobre o momento do C6 Bank?
É um marco importante pra gente, mas é só mais um passo. Não tem absolutamente nada de diferente que aconteceu este mês e nada de diferente do que acontecerá nos próximos meses. A nossa fórmula é de receitas crescentes, custos estáveis e provisões para devedores duvidosos (PDD) estáveis. Infelizmente, nos últimos dois anos, a gente não teve PDD estável. Ela foi crescente e foi isso que a gente acertou na casa. Agora que está estabilizado, essas duas curvas se cruzaram e a gente teve lucro.
Quando esse trabalho começou a ser feito e o que vocês priorizaram nessa virada?
Principalmente no fim do ano passado e no primeiro semestre deste ano. Fomos mais conservadores na concessão de crédito, em particular, no crédito não colateralizado [sem garantia]. Isso não quer dizer que essa não seja uma área no nosso foco. Ela é bastante importante. Só estamos sendo mais conservadores. Eu não vejo nenhuma melhora no cenário externo, no cenário Brasil, naquilo que não é inerente a nós.
Em números, quais foram os resultados desses esforços?
Tivemos uma diminuição da inadimplência, que saiu de 5,3%, no fim de 2022. Devemos fechar este ano por volta de 3,5% na carteira acima de 90 dias, um número já bastante baixo. Outro dado interessante é o crescimento da carteira de crédito, que saiu de R$ 31 bilhões e deve terminar o ano com R$ 47 bilhões.
Em relação à última linha do balanço, qual é a perspectiva?
Como as receitas vão seguir crescendo e os custos e despesas estão absolutamente sob controle, eu tenho bastante convicção que o lucro mensal não só será recorrente, como será crescente, cada vez mais.
Mas qual é a fotografia hoje? E quando o C6 projeta reportar lucro trimestral?
A gente teve um prejuízo acumulado de R$ 380 milhões no terceiro trimestre de 2023. Neste trimestre, vamos ter uma perda acumulada de menos de R$ 100 milhões. Tivemos lucro neste mês, teremos em dezembro, mas, com o número de outubro, ainda vamos dar prejuízo. Mas vamos ter lucro no primeiro trimestre do ano que vem e lucro em todos os meses de 2024.
“Eu nunca senti essa cobrança, até mesmo porque não somos e, provavelmente, nunca seremos uma companhia aberta”
Como você lida com as cobranças do mercado sobre o C6 ser lucrativo?
Eu nunca senti essa cobrança, até mesmo porque não somos e, provavelmente, nunca seremos uma companhia aberta. Então, eu devo satisfação ao meu board e aos meus acionistas. E do meu board e dos meus acionistas nunca teve essa pressão. Muito pelo contrário. Todos sempre confiaram bastante na estratégia e na implementação dessa estratégia.
Mas no mercado há críticos que apontam uma cultura de queima de caixa no banco. Como você enxerga essas alegações?
Nós nunca prometemos que íamos fazer isso ou aquilo. Sempre fomos fazendo e, ao longo do tempo, quando os marcos iam acontecendo, deixávamos o mercado saber de algumas dessas coisas. E acho que isso fez com que quem não tinha acesso ao C6 duvidasse do projeto por puro desconhecimento. E que outros, principalmente quem tem um modelo diferente e um custo muito maior, torcessem para não dar certo, porque, dessa maneira, o modelo de negócio deles ficaria em xeque.
De que maneira a chancela do J.P. Morgan vem contribuindo para virar essa chave?
Quando o J.P. Morgan decidiu ser nosso sócio, eles literalmente olharam operações bancárias no mundo inteiro e escolheram o único investimento num banco de varejo aqui no Brasil, na gente. Isso é um testemunho positivo para o mercado bancário brasileiro. E para nós. Por outro lado, ser sócio de um banco desse tamanho, também nos ajuda a evoluir para ser um banco desta mesma liga, né? De ter as melhores práticas do maior banco do mundo.
Antes do aumento da fatia do J.P. Morgan no C6, em agosto, chegou a haver um burburinho de que eles desistiram dessa sociedade. O que você tem a dizer sobre esses comentários?
Eu sou da comunidade judaica. E, nesse momento de guerra, teve um líder da comunidade que fez um discurso, sobre o misto que estamos vendo hoje, da ignorância com o antissemitismo. Então, eu vou parafraseá-lo. O J.P Morgan estava para sair, mas aumentou a participação? Eu não preciso rebater. A minha única explicação para alguém tecer esse comentário é a congruência da ignorância com a inveja.