Em fevereiro deste ano, a Meta, dona do Facebook, vendeu a tecnologia e ativos relacionados à Diem, seu projeto de criptomoeda, ao Silvergate Bank. O acordo encerrou um trabalho de mais de dois anos. Mas não colocou um ponto final nas ambições de Mark Zuckerberg e seus pares no mercado financeiro.

Segundo o jornal britânico Financial Times, a empresa planeja lançar moedas virtuais, tokens e serviços de crédito em seus aplicativos. A nova guinada seria uma tentativa de buscar novas fontes de receitas à medida que os carros-chefes do seu portfólio, Facebook e Instagram, perdem usuários e popularidade.

Batizado de Meta Financial Technologies, o braço financeiro da companhia está explorando a criação de uma moeda virtual para o metaverso, conceito que, desde o fim de 2021, passou a guiar as apostas da empresa e motivou, inclusive, a mudança de nome do grupo, de Facebook para a marca atual.

Internamente, a moeda em questão foi apelidada de Zuck Bucks. É pouco provável que o ativo seja uma criptomoeda baseada em blockchain. A Meta deve lançar tokens em seus aplicativos, que seriam controlados diretamente pela empresa, em um modelo semelhante ao usado por aplicativos de jogos, como a moeda Robux, da plataforma de games Roblox.

De acordo com memorandos da empresa e pessoas com conhecimento desses planos, a companhia também está avaliando a criação de “tokens sociais” ou “tokens de reputação”, que podem ser emitidos, por exemplo, como recompensas em grupos do Facebook.

Outra alternativa na mesa são as “creator coins”, como são chamadas as moedas customizadas associadas a um criador específico, por exemplo, um influenciador, um músico ou um atleta. No caso da meta, o ativo estaria conectado com o Instagram.

Além desses projetos, a Meta está investindo no desenvolvimento de serviços financeiros mais tradicionais, como a oferta de empréstimos, nesse caso, mais voltada a pequenas empresas. A companhia já teria, inclusive, conversado com parceiros potenciais nessa área.

Segundo as fontes familiarizadas com essas frentes, muitas dessas iniciativas ainda estão em estágios iniciais ou mesmo de discussão e podem mudar de roteiro ou serem abandonadas. Esse não parece ser o caso da integração de tokens não-fungíveis (NFTs) em seus apps.

Esse plano, que foi confirmado pelo próprio Zuckerberg em uma reportagem anterior do Financial Times, está em fase mais avançada e terá como ponto de partida, em breve, o Instagram.

Em outro memorando interno recente, ao qual o jornal teve acesso, a Meta também fala da intenção de lançar, em meados de maio, um projeto-piloto envolvendo NFTs no Facebook. De acordo com outro documento, esses ativos poderão ser monetizados no futuro por meio de taxas e/ou anúncios.

No caminho para avançar nesse terreno, a Meta terá que superar algumas barreiras, entre elas, as autoridades americanas. O projeto da Diem, por exemplo, foi encerrado e vendido justamente por não ter obtido o sinal verde dos órgãos regulatórios do país.

Diante desse cenário, nos últimos seis meses, a divisão financeira da Meta sofreu com a debandada de muitos profissionais. Entre eles, David Marcus, que respondia pela unidade de negócios e deixou a empresa no fim de 2021, ao lado dos principais engenheiros e de boa parte dos times de compliance e da área jurídica.

Aqueles poucos que ficaram procuram agora alternativas para desenvolver e oferecer uma moeda digital que possa estar menos sujeita aos escrutínios regulatórios. No fim de janeiro, Stephane Kasriel, substituto de Marcus no comando da Meta Financial Technologies, deu algumas pistas do que será feito em um documento distribuído internamente.

Entre outras ações, o executivo ressaltou que a empresa irá acelerar os investimentos nos pagamentos via WhatsApp e Messenger. Ele também sinalizou o plano de integrar a plataforma de pagamentos Facebook Pay com a Novi, carteira digital lançada pelo Facebook em outubro de 2021.