Um dos nomes tradicionais no mercado de celulares, a americana Motorola ficou em segundo plano com a chegada dos smartphones, mesmo após ser comprada pela Lenovo, em 2014, por US$ 2,9 bilhões.
Hoje, a empresa que desenvolveu o primeiro aparelho dessa indústria na década de 1970 não aparece em destaque nos rankings globais de vendas do setor. Mas o cenário é diferente no Brasil.
Por aqui, a marca não só manteve sua relevância como ganhou espaço na disputa com os principais players. O País é um dos três principais mercados globais da Motorola, ao lado de Estados Unidos e Índia, e está no centro de uma investida mais recente da companhia.
“Desde 2013, nós mais que triplicamos nosso market share e chegamos à segunda posição no Brasil, com uma participação de 34,2%”, diz Rodrigo Vidigal, presidente da Motorola no Brasil, ao NeoFeed. “Já somos muito fortes no mercado intermediário. Agora, nosso desafio é crescer no segmento premium.”
Com pouco mais de 11 anos de Motorola, divididos em duas passagens, Vidigal foi nomeado presidente da operação em setembro de 2023. Ele substituiu José Cardoso, que assumiu o comando da marca na América Latina. Globalmente, a companhia também tem um brasileiro, Sergio Buniac, como CEO.
A companhia não parte do zero nessa nova etapa que a coloca em rota de colisão com a Apple, além de reforçar a concorrência, agora em um novo espaço, com a Samsung. Levando-se em conta todos os segmentos do mercado, a fabricante sul-coreana é a líder no Brasil, com um market share de 51%.
Conforme outros dados compilados pela consultoria GfK e obtidos pelo NeoFeed, no segmento premium, que inclui os aparelhos com preço entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, a participação de mercado da Motorola é de 14,6%, contra 72% da Samsung e 15% da Apple.
Já no segmento chamado de super premium, com smartphones acima de R$ 3 mil, a fatia da Motorola ainda é de apenas 2%. Nessa faixa, a Apple domina com um market de share de 72%, enquanto a Samsung detém uma participação de 25%.
Na terça-feira, 23 de janeiro, a Motorola apresenta suas mais novas “armas” para ganhar corpo nessa disputa. Com um preço sugerido de R$ 6.999, a primeira delas é o smartphone com tela dobrável Motorola razr 40 ultra. A segunda é o Motorola edge 40 neo, cujo preço sugerido é de R$ 2.499.
Disponíveis a partir de hoje, inicialmente na loja online da marca, os dois dispositivos resumem a principal aposta da Motorola para avançar no segmento, ao investir em uma estratégia batizada internamente de lifestyle-tech.
“Há uma lacuna no mercado, com muitos players focados apenas em tecnologia e configuração”, explica Vidigal. “Claro, isso é importante e somos competitivos nessas frentes, mas o consumidor, em especial, o brasileiro e o mais jovem, também gosta do estilo, do design, da cor e de outras características.”
Nesse contexto, além de recursos como aplicações de inteligência artificial para as câmeras, como ajustes automáticos, os aparelhos serão lançados com a cor Peach Fuzz, desenvolvida a quatro mãos com a empresa americana Pantone.
Uma outra parceria envolve a criação de fragrâncias exclusivas que acompanham as embalagens dos aparelhos, em um trabalho conjunto com o grupo suíço Firmenich e que teve início em 2021, com a construção de uma “identidade olfativa” para as lojas físicas e quiosques da marca.
Um dos focos da campanha de lançamento desses aparelhos, as lojas físicas também são parte essencial nessa nova etapa, como ponto de experimentação dos produtos. E reforçam a relevância do Brasil no mapa global da operação, dado que, em 2021, o País foi palco do projeto-piloto da empresa no varejo.
Atualmente, além de mais de 100 quiosques, a empresa tem cinco Motostores no Brasil, em capitais como São Paulo, Fortaleza e Curitiba. Embora não revele uma projeção de crescimento dessa base em 2024, Vidigal ressalta que essa expansão terá como principal norte as cidades do interior do País.
Outra ponta dessa estratégia, e que só é ofertada pela Motorola no Brasil, são os serviços financeiros, lançados no fim de 2022. Batizada de Dimo, a conta digital traz ainda recursos como cartão de crédito, pagamentos e oferta de crédito, todos integrados aos smartphones da marca.
“Nós já chegamos a oferecer planos de upgrades na troca de aparelhos, mas descontinuamos porque precisávamos fazer essa transição para o segmento premium”, diz Vidigal. “Agora, estamos estudando retomar essa frente e a conta digital pode ser um desses caminhos.”
Enquanto costura esses novos planos, à parte da concorrência no premium, Vidigal não teme os impactos do desembarque de novas fabricantes chinesas no País, especialmente no segmento intermediário, onde a marca já tem boa presença, com uma participação de 35,9%.
“Já conhecemos essas marcas de outros mercados e não há problemas, desde que a disputa seja dentro das mesmas regras”, afirma o o presidente da Motorola. “E, no fim do dia, quem compete com Samsung e Apple compete com Honor e Oppo.”