As perspectivas para os carros elétricos no mercado dos Estados Unidos já não eram das mais otimistas. E só pioraram após o governo do presidente Donald Trump decidir encerrar as políticas de subsídios para a categoria.

Nesta semana, em um dos exemplos mais recentes de como esse trajeto promete ser tortuoso, a General Motors (GM) anunciou uma revisão da sua capacidade de produção no segmento, o que resultou em um impacto negativo de US$ 1,6 bilhão em seu balanço do terceiro trimestre.

Entretanto, o percurso menos favorável para os carros elétricos parece não se restringir aos Estados Unidos. Não faltam exemplos de que a categoria está perdendo força em outros mercados, que também estão colocando o pé no freio em suas ambições nessa categoria, até pouco tempo, tão incensada.

Um dos sinais nessa direção foi dado por Mark Carney, primeiro-ministro do Canadá. Há um mês, ele anunciou que o país estava adiando em um ano a exigência de que os veículos com emissão zero representassem pelo menos 20% das vendas das montadoras, a partir de 2026.

Curiosamente, o premiê canadense citou as tarifas impostas por Trump como a principal razão por trás do anúncio. “Temos um setor automotivo que, devido à mudança maciça na política comercial dos Estados Unidos, está sob enorme pressão”, afirmou ele, acrescentando:

“O mandato para veículos elétricos se soma aos problemas de liquidez e aos desafios financeiros desses fabricantes. Eles já têm preocupações suficientes, estão, estamos tirando isso da pauta”, observou Carney.

A União Europeia também cedeu à pressão das montadoras da região para repensar sua meta de eliminar as emissões de dióxido de carbono dos carros, um roteiro estabelecido para ser cumprido até 2035.

“Há uma percepção de que, ‘Ei, essa transformação não está acontecendo tão rápido quanto gostaríamos”, afirmou Patrick Schaufuss, sócio da consultoria McKinsey, ao The Wall Street Journal. “Carros elétricos não são smartphones”.

Presidente da Nissan Americas, Christian Meunier, reforçou essa visão ao jornal americano. “Há mais realismo de que os veículos elétricos provavelmente serão uma boa solução no futuro, mas isso não será imposto aos consumidores”, afirmou. “É pragmatismo”.

Como parte desse contexto, as montadoras ressaltam que o modelo de negócios da categoria tem um longo caminho pela frente para se tornar lucrativo, em função dos custos ainda altos das baterias, das redes de recarga instáveis e, agora, com os subsídios governamentais cada vez menores.

Nesse cenário, na contramão dos investimentos bilionários feitos na categoria nos últimos anos, os exemplos de montadoras reduzindo a marcha por conta dos carros elétricos ou especificamente na categoria são crescentes.

Esse foi o caso da Volkswagen. Em dezembro de 2024, pressionada pela conta pesada dos investimentos em eletrificação, a montadora alemã anunciou a demissão de 35 mil profissionais da sua operação.

O corte deu a partida para que a União Europeia abrisse um canal de negociações com as montadoras, logo na sequência. E, no mês passado, após uma nova rodada de conversas, o bloco informou que a meta inicialmente traçada para 2035 será revisada o mais rápido possível.

Antes, o salão do automóvel de Munique foi palco de diversas manifestações de executivos das montadoras europeias. Presidente-executivo da Volkswagen, Oliver Blume, por exemplo, pediu uma melhor infraestrutura de recarga, eletricidade mais barata e subsídios para modelos de entrada.

Na mesma época, a indústria automobilística europeia reforçou, em nota, os desafios à frente para o setor na região, o que incluiu as tarifas mais elevadas para os Estados Unidos e a ascensão na região das marcas chinesas, bastante subsidiadas pelo governo de Xi Jinping.

Principal mercado global, há tempos, da categoria, a China, por sua vez, também não escapa das previsões menos otimistas. Um relatório recente da consultoria AlixPartners projeta que a maioria das 118 marcas que operam no país não serão viáveis daqui a cinco anos.

Já no que diz respeito ao mercado americano, a consultoria projeta agora que os carros elétricos irão representar 18% das vendas de veículos novos até 2030. O índice representa a metade da sua estimativa anterior, feita há dois anos.

Em números, as perspectivas são de piora também para a Europa. A consultoria EV Volumes ampliou sua projeção de queda nas vendas no Velho Continente em 2025 de 0,3% para 1,1%, com um total de 14,8 milhões de unidades, bem abaixo das 18 milhões registradas em 2019.

A consultoria destacou ainda que não espera que o mercado europeu retorne ao nível de seis anos atrás, em se mantendo as condições atuais, até 2040.