A ação da Gol recua mais de 80% no ano, mas na manhã desta sexta-feira, 24 de maio, o papel chegou a ser negociado com alta de 15% na B3. Em um cenário bastante similar, a ação da Azul acumula uma desvalorização de quase 30% em 2024, mas, no mesmo pregão, superou a casa de 10%.

O que está mexendo com o ânimo dos investidores é o acordo de codeshare anunciado pelas duas companhias aéreas no apagar das luzes da quinta-feira, 23 de maio. Azul e Gol vão compartilhar rotas domésticas exclusivas de cada empresa, em uma parceria que inclui ainda seus programas de fidelidade.

Ao que tudo indica, o acordo está sendo visto como um primeiro passo para um movimento que vem sendo ventilado recentemente no mercado: a fusão das duas operações. “O namoro ficou mais sério”, afirmou uma fonte do setor, ao NeoFeed.

Essa alternativa começou a decolar de fato como uma possibilidade cerca de dois meses depois de a Gol acionar o Chapter 11 – equivalente à recuperação judicial – nos Estados Unidos, com uma dívida de R$ 20,2 bilhões. O processo foi registrado em janeiro deste ano.

Em um primeiro momento, os rumores apontaram para a compra da Gol pela Azul. Na sequência, porém, a agência Bloomberg trouxe a informação de que a opção que ganhou força é a união das duas empresas. A companhia combinada teria ainda a Abra – holding da Gol e da Avianca – como acionista.

No mês de abril, em entrevista ao programa É Negócio, parceria do NeoFeed e da CNN Brasil, John Rodgerson, CEO da Azul, não titubeou quando questionado a respeito da possibilidade de um acordo com a Gol, diante da situação da empresa.

“O mercado é cruel, o mercado não tem amigos, o mercado é o que é. Então, temos um dever sempre para olhar a oportunidade que existe”, afirmou. Na entrevista, ele afirmou que vinha acompanhando o que estava acontecendo com a rival em seu processo de recuperação judicial.

“Eu acho que há uma possibilidade que alguma coisa aconteça, mas eu estou super focado no que nós temos na Azul hoje”, observou. Rodgerson não se furtou a comentar, no entanto, sobre as possíveis barreiras de concentração para uma fusão entre as duas aéreas.

“A TAP tem 90% do mercado em Portugal, a Avianca tem 70% da Colômbia, a British Airways tem 70% da Inglaterra. O que o mercado precisa é de empresas fortes.”, disse ele, na oportunidade. “Olho a oportunidade para criar alguma coisa que é bom para o povo brasileiro, que cresce muto, que investe.”

À parte dessas questões, o fato é que o codeshare anunciado na noite da última quinta-feira e uma eventual negociação para uma aquisição ou associação com a Gol remete a um outro percurso recente da Azul.

Em 2020, a companhia firmou um acordo de codeshare com a Latam. Um ano depois, no entanto, a cooperação foi encerrada – de maneira pouco amistosa – quando a parceira entrou em recuperação judicial nos Estados Unidos e a Azul se movimentou para comprar suas operações.

Agora, no que seria o passo inicial para um relacionamento com um final feliz, a cooperação comercial vai permitir que a Azul e a Gol, que somam cerca de 1,5 mil decolagens diárias, passem a oferecer 2,7 mil de opções de viagens a seus clientes.

“Esta notícia poderá aumentar a percepção dos investidores sobre a possibilidade de uma fusão entre as duas companhias aéreas”, escreveram os analistas do Itaú BBA em relatório divulgado nesta sexta-feira a respeito do anúncio.

Na visão do banco, o anúncio é positivo para a Azul e, tanto o acordo de codeshare como uma eventual fusão das duas companhias poderia desbloquear “sinergias substanciais de receitas”, além da redução de custos para a empresa combinada.

Por volta das 13h20, as ações da Azul estavam sendo negociadas com alta de 7,92%, cotadas a R$ 10,63 e dando à empresa um valor de mercado de R$ 3,6 bilhões. Já os papéis da Gol registravam alta de 14,17%, cotados a R$ 1,44. A companhia está avaliada em R$ 4,6 bilhões.