Em 2019, quando tinha apenas uma fábrica na China e se preparava para abrir uma segunda, a multinacional brasileira Iochpe-Maxion, líder global em produção de rodas para veículos, deu pouca importância à possível escalada de uma guerra comercial entre os chineses e os Estados Unidos, tema que mais preocupava o mundo financeiro naquele momento.
No fim daquele ano, porém, a China foi o epicentro de uma pandemia global que fez o mundo se trancar dentro de casa. Apesar da diversificação geográfica, a companhia, que tem presença em 14 países, precisou interromper os planos de expansão, que tinham países asiáticos como principal alvo.
Agora, com a Ásia na dianteira do processo de reabertura das economias, a Iochpe-Maxion começa a correr atrás para recuperar o tempo perdido. Com a segunda fábrica na China, uma terceira na Índia e uma ampliação de capacidade na Tailândia, a multinacional nascida no Rio Grande do Sul espera que o continente possa representar 15% do seu faturamento em até cinco anos. Hoje, está em 11%.
“A Ásia equivale a 45% da produção mundial de carros e é, hoje, o nosso foco de expansão internacional, que começou na Europa e na América do Norte”, afirma Marcos Oliveira, CEO da Iochpe-Maxion, ao NeoFeed.
Para chegar lá, a Iochpe-Maxion conta principalmente com os frutos de investimentos que somam US$ 120 milhões. Metade teve como destino a nova fábrica da Índia. A unidade começou a produzir em 2019, mas ainda segue em processo de “ramp-up”, uma elevação da produção em fases, com volumes menores e numa velocidade reduzida, um procedimento normal para unidades novas.
A fábrica, que foi feita para produzir 2 milhões de rodas de alumínio por ano, só deve chegar à capacidade máxima em 2022, segundo Oliveira. No momento, tem operado com um pouco menos de 50%. Esta é a terceira unidade industrial da companhia no país. As outras duas produzem rodas de aço.
A outra metade dos investimentos serviu para erguer uma segunda fábrica na China, que acabou de ser concluída, depois de atrasos causados pela pandemia. Também com capacidade para 2 milhões de rodas de alumínio, começará a produzir protótipos neste segundo semestre.
A unidade chinesa, no entanto, deve iniciar a produção para valer no início do ano que vem, com expectativa de chegar à operação plena só em 2023. Essa fábrica é uma joint-venture com a chinesa Dongfeng, uma das maiores montadoras do país.
A Iochpe-Maxion fez ainda uma ampliação na capacidade da fábrica da Tailândia, que passou de 1,6 milhão para 2 milhões de rodas de alumínio e só deve começar a produzir a todo vapor no ano que vem.
Os projetos, todos voltados para rodas de alumínio, fazem parte de um esforço da companhia para abocanhar o promissor mercado asiático de veículos leves. Antes, a Iochpe-Maxion era mais focada em produção de rodas de aço, em geral destinadas a veículos comerciais, como caminhões e ônibus.
“A China é o mercado mais importante do mundo de veículos leves”, diz Oliveira. “No ano passado, foram produzidos 23,5 milhões de veículos e, neste ano, as previsões indicam 25 milhões.”
É fácil, então, de entender, porque a Iochpe-Maxion quer aumentar sua presença no mercado asiático, em especial no chinês. Apesar de ser uma companhia global, com 35% de seu faturamento vindo da Europa, 27% da América do Norte e 25% da América do Sul, a Ásia tem ainda uma fatia pequena da receita.
No ano passado, o faturamento líquido da empresa chegou a R$ 8,7 bilhões, queda de 12,5% em relação a 2019. No primeiro trimestre deste ano, no entanto, as vendas já começaram a se recuperar, chegando a R$ 3,1 bilhões, um recorde para a empresa em um trimestre, puxado pelas vendas no Brasil, América do Norte e Ásia.
Por estar em 14 países, a Iochpe-Maxion tem diferentes concorrentes em cada região. No Brasil, os principais são a Mangels Industrial e a Neo Rodas, ambas com foco em rodas de alumínio para veículos leves. Globalmente, a rival que mais se destaca é a americana Dana, que também atua com outros componentes para veículos, como sistemas de transmissão.
Mas há desafios para os planos da Iochpe-Maxion para avançar na Ásia. O principal deles é a escassez de semicondutores, que está afetando toda a indústria automobilística durante a pandemia. Segundo as montadoras, essa crise deve se prolongar pelo menos até 2022.
Se os fabricantes de veículos não conseguem avançar na produção pela falta de um insumo, os demais fornecedores da cadeia produtiva, como a Iochpe-Maxion, acabam ficando de mãos atadas.
Em 2020, prejudicada pela queda de demanda e pelos problemas de insumos das montadoras, que levaram a Iochpe-Maxion a ter de renegociar dívidas, as ações da companhia na B3 derreteram.
Elas caíram de R$ 24, em janeiro de 2020, para R$ 9,97 em abril do mesmo ano. O papel, porém, conseguiu recuperar parte da perda desde então. Na sexta-feira, 23 de julho, fechou negociado a R$ 15,06. A companhia vale R$ 2,3 bilhões na B3.
Para o analista Gustavo Wolf, da Meraki Capital, a diversificação da Iochpe-Maxion deve ajudá-la a sofrer menos com o prolongamento da escassez de semicondutores. “Cerca de 40% da receita da empresa vem de rodas para veículos comerciais, que foram menos afetados pela falta do insumo”, diz o analista.
Wolf ressalta que as montadoras têm procurado alternativas para driblar o problema, como uma migração da produção de leves para pesados, e lembra que a Iochpe-Maxion tem relacionamento com quase todas as montadoras.
“A empresa consegue direcionar para quem está conseguindo produzir e por isso será mais resiliente”, diz Wolf, que vê potencial para a ação da empresa subir para algo em torno de R$ 20 a R$ 25, com uma perspectiva de recuperação rápida do nível de alavancagem da dívida.
Sobre os planos da companhia de crescer na Ásia, Wolf acredita que há convergência com a ideia de apostar em um mercado com alto potencial de crescimento. Ainda assim, vê espaço para avançar também nos mercados mais maduros, como Europa e EUA, impulsionados pela reabertura das economias. “Globalmente, a previsão é de aumento de 10% da produção de veículos em 2021 e 10% em 2022”, afirma o analista da Meraki Capital.