Um dos piores eventos climáticos da história do País, as enchentes no Rio Grande do Sul tiveram duros efeitos sobre o Grupo Panvel em maio. Instalada em Eldorado do Sul, que fica na região metropolitana de Porto Alegre e foi uma das cidades mais atingidas do Estado, a companhia perdeu acesso à sua sede e ao seu maior centro de distribuição.

Mais de 80 lojas no Rio Grande do Sul foram atingidas direta ou indiretamente, com 18 delas alagadas, e o laboratório Lifar, onde são produzidos os itens da marca própria da empresa, ficou submerso por mais de 40 dias.

A situação naturalmente se refletiu nos resultados do segundo trimestre, com o episódio tendo um impacto negativo direto de R$ 15,2 milhões no balanço. Com isso, o lucro líquido ajustado caiu 23% em relação ao mesmo período de 2023, para R$ 20,1 milhões, e o Ebitda ajustado recuou 14,2%, para R$ 49 milhões.

Ainda assim, a Panvel teve um aumento de 5% da receita bruta consolidada, para R$ 1,2 bilhão, e viu as vendas voltando ao normal em julho. A missão, agora, é retomar o plano de expansão, sem qualquer revisão.

“Confesso que, para mim, isso tudo que conseguimos atingir é surpreendente, porque nós passamos por um período muito duro”, diz Julio Mottin Neto, CEO da Panvel, ao NeoFeed. “Agora, nossa prioridade número um é retomar a inauguração de lojas, temos 40 unidades para inaugurar até dezembro.”

A companhia começou o ano com o plano de investir R$ 160 milhões em 2024, acima dos R$ 139,5 milhões realizados no ano passado. Deste total, cerca de R$ 100 milhões foram reservados para a expansão geográfica, enquanto o restante será utilizado para reforçar as partes de tecnologia e logística.

No primeiro semestre, a Panvel inaugurou 20 unidades e agora corre atrás para cumprir com o guidance, de encerrar o ano com 60 novas lojas. A empresa fechou o segundo trimestre com 601 unidades no total, acima das 574 registradas no mesmo período do ano passado.

O foco é a região Sul, com destaque para Santa Catarina e Paraná. Mottin diz que a questão da proximidade com o Rio Grande do Sul facilita o aspecto da logística para o atendimento dos consumidores, com o tema da conveniência sendo fundamental para competir no setor de farmácias. Mesmo assim, a Panvel planeja algumas aberturas para São Paulo, em que tem 11 lojas, mercado em que quer ser mais conhecida.

“Temos uma participação aquém do que gostaríamos no Paraná e em Santa Catarina, em torno de 7% em cada um desses Estados, e a gente entende que pode chegar a 15% sem canibalização de lojas”, afirma o CEO, sem informar quando pretende atingir a meta. “Grande parte dos casos de insucesso no varejo farmacêutico foram casos ligados à pulverização de lojas em vários Estados.”

A distribuição geográfica foi um fator que ajudou a mitigar os efeitos das enchentes do Rio Grande do Sul na receita da Panvel. Depois de uma alta de 18,6% em abril, em base anual, as vendas da parte de varejo tomaram uma pancada em maio, com o crescimento desacelerando a 5,4%.

A partir de junho, com os efeitos das enchentes começando a ser contornados, houve uma retomada, com expansão de 11%. Na parte de atacado, por conta da inacessibilidade do centro de distribuição de Eldorado do Sul por um longo período, não houve venda em maio e junho, fazendo com que a receita recuasse 59,6% em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 43,4 milhões.

As expectativas da Panvel é de uma retomada da receita a partir do segundo semestre, diante dos primeiros sinais na parte de varejo, mantendo o ritmo visto no começo do ano, quando as vendas cresceram mais de 16%. As vendas cresceram 15% em julho, em comparação com o mesmo mês do ano passado, com a venda média por loja batendo recorde, de R$ 700 mil.

“Todos os impactos da enchente ficaram restritos ao segundo trimestre, seja de vendas, seja de perdas”, diz Antonio Napp, CFO da Panvel. “Começamos julho ‘limpo’ e voltando ao patamar que a gente entende que é o nosso patamar normal, de crescimento de pelo menos 15% [de vendas], o que reforça o nosso otimismo para o segundo semestre e com o cumprimento com nosso plano de investimento.”

Também ajuda nesse plano o fato de a companhia ter conseguido manter o endividamento em patamares baixos. No segundo trimestre, a relação entre a dívida líquida e o Ebitda ajustado atingiu 0,89 vez, pouco acima do 0,86 vez apurado no primeiro trimestre.

A Panvel apresentou um fluxo de caixa livre positivo de R$ 13,2 milhões, alta de 8%, com a companhia tendo priorizado a preservação de recursos por conta das enchentes no Rio Grande do Sul.

No acumulado do ano, as ações PNVL3, da Panvel, registram queda de 18%, levando o valor de mercado da companhia para R$ 1,6 bilhão.