Anunciada ao mercado em março deste ano, a mais recente fábrica de empanados de frango da Seara, em Rolândia (PR), será inaugurada oficialmente nesta sexta-feira, 27 de outubro. E a empresa da JBS vai aproveitar a ocasião para embalar outra novidade nesse pacote.
A companhia acaba de divulgar que vai dar início, nas próximas semanas, às operações de uma nova fábrica no local, voltada à produção de salsichas. A unidade ocupará 23 mil metros quadrados dentro de uma área total de 257 mil metros quadrados da instalação.
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Voltadas inicialmente ao abastecimento do mercado brasileiro, as duas fábricas concentraram um aporte de R$ 1 bilhão, o maior valor já destinado pela Seara em produção. Essa cifra integra o plano anunciado pela JBS no fim de 2019, de investir R$ 8 bilhões no mercado brasileiro em um prazo de cinco anos.
“Estamos cumprindo esse plano um ano antes do que havíamos estabelecido”, diz Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, ao NeoFeed. “Ao todo, considerando os investimentos adicionais feitos por parceiros e produtores rurais, foram R$ 11 bilhões investidos no Brasil nesses quatro anos.”
O executivo cita alguns dos racionais por trás da última parcela bilionária aportada pela JBS no Brasil por meio da Seara. Um desses fatores, já adotado como um mantra no grupo, é o foco no crescimento de marcas de alto valor agregado. Ele adiciona, porém, outros componentes para justificar os projetos.
“A Seara estava limitada no atendimento ao mercado por conta da sua capacidade de produção”, diz. Ele não revela o ganho nessa frente com as novas unidades. “Ao mesmo tempo, com esse investimento vamos trazer inovações que temos no Reino Unido, nos Estados Unidos e no México para o Brasil.”
Sob essa ótica, Tomazoni ressalta que os dois novos projetos incorporam o que há de “mais moderno” em tecnologia, com um grau elevado de automação. E trazem uma nova camada de inovação ao complexo, que, até então, abrigava uma unidade de frangos temperados.
Com 4,5 mil funcionários, dos quais, 700 foram incorporados a partir das novas unidades, as duas fábricas contam com recursos como o segundo maior forno de cozimento e defumação de salsichas do mundo, além da combinação do uso de inteligência artificial e de armazenamento de dados na nuvem.
O projeto do complexo já prevê outras sete linhas de empanados e mais três de salsicha, com um quadro total de 6 mil funcionários. Ainda não há, porém, uma projeção para essas novas etapas, dado que essa expansão estará atrelada ao crescimento da operação e à demanda pelo portfólio da Seara.
Nesse sentido, outro grande mote desse investimento é reforçar o menu nessas categorias na disputa, em particular, com a Sadia e a Perdigão, marcas do portfólio da BRF. Há diferenças de abordagem, no entanto, nas estratégias em empanados e salsichas.
“Diferentemente de empanados, o mercado de salsichas já é mais maduro e estável”, diz João Campos, CEO da Seara, ao NeoFeed. “Então, o primeiro foco aqui é atender a demanda reprimida pela marca Seara e investir em complementar o mix. Mas as inovações viram num segundo momento.”
Em contrapartida, a entrada em operação da fábrica de empanados de frango em Rolândia, em abril, foi “temperada”, já em sua largada, com um ingrediente de inovação. Na época, a Seara lançou mais de 10 produtos produzidos a partir de cortes íntegros de frango, na contramão dos itens processados a partir de pedaços de frango, que ainda são a tônica do mercado.
“Esse é um mercado que, na Europa e nos Estados Unidos, a penetração nos lares é de 54% a 66%, enquanto no Brasil é de apenas 33%”, observa Campos. “Então, nosso plano aqui é crescer o mercado e o consumidor vem reagindo às inovações que estamos trazendo.”
Um indicador traduz um pouco dessa resposta. Segundo o Instituto Kantar, entre agosto de 2022 e agosto de 2023, a Seara ganhou 2,7 pontos percentuais e alcançou uma participação de mercado de mais de 30% na categoria.
Apesar dessa evolução, os números da Seara não foram bem digeridos no balanço do segundo trimestre de 2023 da JBS. A marca reportou uma queda de 3,5% em sua receita líquida, para R$ 10,3 bilhões, na comparação com um ano antes. No período, a receita total da JBS cresceu 3,1%, para R$ 89,3 bilhões.
Entre outros dados, o Ebitda ajustado da Seara recuou 72,1%, para R$ 420 milhões, enquanto a margem Ebitda teve queda de 10 pontos percentuais, para 4,1%. Avaliada em R$ 44,2 bilhões, a JBS atribuiu o desempenho a fatores como a queda nos preços médios, na esteira do excesso na oferta global de aves.
Há cerca de dois meses, Campos, que até então respondia à JBS Brasil, passou a se reportar diretamente a Tomazoni, que, por sua vez, liderou a reestruturação e a integração da Seara em 2013, quando a operação foi comprada pela JBS, por R$ 5,8 bilhões.
Questionado sobre a razão desse movimento, Tomazoni recorre justamente a esse seu histórico com a Seara e ao peso dessa operação e da marca dentro do universo do grupo para justificar a mudança.
“A Seara é um negócio importantíssimo para a JBS e eu participei ativamente da construção da empresa”, diz. “A ideia é desenvolver todo esse investimento que fizemos e minha proximidade com o João vem para acelerar a troca de informações, de experiências e agilizar as tomadas de decisões.”
Outra questão que tem tomado parte da agenda de Tomazoni é o processo de dupla listagem da JBS nos Estados Unidos. Em setembro, o grupo reforçou que está empenhado em concluir esse passo, visto como essencial para multiplicar seu valor de mercado, até o fim de 2023.