A Sigma Lithium, responsável pela operação de uma mina de lítio e de uma unidade industrial de óxido de lítio (insumo usado na produção de baterias) no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, viu tanto o faturamento como o seu prejuízo crescer em 2024.

No ano passado, a receita foi US$ 181 milhões em 2024, alta de 34%. Por outro lado, o prejuízo líquido foi de US$ 51,39 milhões, crescimento de 84,1%, causado principalmente pela necessidade de ajuste de preços do exercício de 2023.

“Em uma empresa que está investindo muito, isso é normal. Prejuízo é um exercício contábil. O que é importante é o fluxo de caixa da companhia”, afirma Ana Cabral, CEO da Sigma Lithium, ao NeoFeed.

No fim de 2024, a posição de caixa da Sigma Lithium foi US$ 46 milhões, em um cenário cuja a “cotação do lítio está em baixa”, de acordo com Cabral. “Acionista quer retorno e margem. E é isso que estamos alcançado”, diz a CEO, que também é sócia da A10 Investimentos, fundo de private equity brasileiro que detém 46% de participação da Sigma.

“Como estamos investindo, ainda teremos prejuízo por um tempo. Já avisei aos acionistas que os dividendos só começarão a ser pagos em dezembro de 2026”, acrescenta Cabral.

A cotação do lítio também influencia no resultado da receita da companhia. Em 2024, o preço médio de venda do lítio foi de US$ 854 por tonelada métrica seca, tendo como base o custo logístico para a China. No quarto trimestre de 2024, os preços do mercado de lítio tiveram queda de 44% sobre o mesmo período de 2023. Há dois anos, os valores caíram 80%.

A produção reportada pela empresa em 2024 seguiu em linha com o guidance apresentado pela empresa, de 240 mil toneladas de óxido de lítio. No quarto trimestre, a companhia passou a adotar uma tecnologia inédita de reprocessamento de rejeitos, sem a necessidade de criação de barragem, que garantiu, no período, um aumento de 28% na produção.

Além da redução de custos, a técnica criada pelo setor de pesquisa e desenvolvimento da companhia garante uma vantagem do ponto de vista ambiental. Sem precisar escavar a mina, a empresa conseguiu ter ganho de produção e de receita.

“É uma tecnologia inovadora, que chamamos de centrifugação acelerada. Com o empilhamento a seco dos rejeitos, mostramos o quanto é mais econômico e sustentável reciclar esse material, e que vai gerar mais lítio”, afirma Cabral. “Na prática, com nosso modelo greentech, aumentamos nossa produção com a reutilização desse material, sem precisar aumentar a mineração de lítio.”

Por isso, em uma projeção anualizada (levando em conta o resultado do quarto trimestre), a Sigma Lithium estima, ao fim de 2025, alcançar a marca de 270 mil toneladas da atual fábrica, também beneficiada pela técnica de reutilização da pilha de rejeitos, sem que haja possibilidade de risco ambiental. “Sustentabilidade traz ganhos monetários. E estamos mostrando isso. De todas as empresas produtoras de insumos para baterias, ninguém no mundo faz isso.”

Produção dobrada

A expectativa da mineradora é de dobrar a produção ao fim de 2026, alcançando a marca de 520 mil toneladas. Para isso, a empresa iniciou, em dezembro do ano passado, a construção de uma nova unidade, ao lado da anterior, e que vai utilizar o mesmo método sustentável de reaproveitamento de rejeito para mais produção de oxido de lítio.

Com previsão de produzir 250 mil toneladas anuais (um pouco menos do que a primeira unidade), a nova fábrica deve ser entregue em novembro deste ano, justamente no período de realização da COP30, que será em Belém. “Em um momento em que essa discussão climática está sendo colocada globalmente em segundo plano, a gente mostra aos acionistas e stakeholders que é possível ter resultado com tecnologia verde.”

Para isso, a empresa conta com um capex de US$ 100 milhões em 2025, obtidos por meio do Fundo Clima, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que apoia projetos relacionados à redução de emissões de gases de efeito estufa e à adaptação das mudanças climáticas. O desembolso do banco público deve ocorrer ainda neste semestre. Enquanto isso, a empresa vem usando recursos próprios.

Como a nova fábrica entra em operação ainda neste ano, a Sigma Lithium projeta que ela já deve produzir 30 mil toneladas em 2025, o que, somados aos 270 mil da primeira fábrica, alcançará uma produção de 300 mil toneladas de óxido de lítio em 2025.

E, em uma estratégia comercial que garante mais rentabilidade, segundo a CEO, a empresa parou de comercializar diretamente a empresas japonesas e chinesas e, desde novembro, exporta toda a produção para uma trade liderada pelo governo dos Emirados Árabes Unidos. A partir daí, o produto é revendido globalmente para as companhias que produzem baterias.

Segundo a CEO da Sigma Lithium, a demanda do insumo está longe de ser suprida pelas companhias que produzem óxido de lítio no mundo. “Seriam necessários pelo menos mais seis empresas do tamanho da Sigma Lithium para atender ao mercado, principalmente pelo forte consumo na China.”

O aumento de produção de baterias no mundo está diretamente conectado ao aumento da frota de veículos elétricos no país asiático. Do que é produzido em solo chinês, somente 16% são exportados. O resto é para mercado interno. Na Europa, por exemplo, 88% dos carros elétricos são direcionados à exportação.

Dados da plataforma de inteligência de mercado EV Volumes mostra que a venda de carros elétricos na China aumentou 44% no último trimestre. Nos Estados, a alta foi de 12%. “Isso mostra porque tomamos decisões de investimentos, o que faz com que nossos guidances sejam alcançados”, afirma Cabral.

Lista na Bolsa de Toronto e na Nasdaq, e com emissão de BDRs na B3 desde julho de 2023, a Sigma Lithium registrou queda de 4,90% nas ações nos últimos 12 meses. A companhia está avaliada em 1,83 bilhão de dólares canadenses (US$ 1,28 bilhão).