A V.tal, empresa controlada por fundos do BTG Pactual, está conquistando um reforço de peso para sua tese de rede neutra, em um momento que sua principal cliente e sócia minoritária, a Oi, passa por uma nova recuperação judicial e colocou à venda sua operação de banda larga de fibra óptica.

A companhia, que tem também como sócios o CPP Investments, o maior fundo de pensão do Canadá, e o GIC, o Fundo Soberano de Cingapura, acaba de fechar um contrato com a Sky, empresa de tevê por assinatura que tem aproximadamente 4 milhões de clientes.

A meta da Sky, que tem pouco mais de 40 mil clientes de banda larga, é se tornar uma das maiores empresas nessa área. “Entramos no jogo da conectividade não para ser mais um provedor. Queremos figurar entre os 10 maiores do Brasil”, afirma Rodrigo Fernandes, diretor da Vrio, holding da Sky.

Para isso, a Sky terá, ao menos, de ultrapassar a Unifique, a 10ª maior em banda larga, com mais de 700 mil assinantes, de acordo com ranking da Teleco, uma consultoria especializada em telecomunicações, que inclui na conta clientes com fibra, como também outras tecnologias. A líder é a Claro, seguido da Vivo e da Oi, que observou seu número cair em 2023.

Para a V.tal, é chave expandir a sua base – por isso, a importância do acordo com a Sky. “Esse é um contrato grande”, diz Pedro Arakawa, vice-presidente de negócios de infra para varejo da V.tal. “Vamos oferecer nossa rede nacional.”

A companhia conta com 80 clientes que usam sua infraestrutura para oferecer serviços de banda larga fixa, que tem 22 milhões de casas passadas (isso indica que podem ser conectadas em banda larga). Entre eles, estão nomes como TIM, Claro, Vero, Obvious e Ligga.

Mas, segundo apurou o NeoFeed, são contratos restritos a regiões onde essas empresas não atuam e que, apesar de serem nomes grandes e que chamam a atenção, não movimentam o ponteiro da V.tal. “São clientes menores, nem se comparam a Oi”, diz uma fonte do setor de telecomunicações.

Nos nove primeiros meses de 2023 (dado mais atual), a receita líquida da V.tal atingiu R$ 4,3 bilhões, um crescimento de 10% em comparação ao mesmo período do ano anterior. O Ebitda, por sua vez, foi de R$ 2,5 bilhões, alta de 40%.

Apesar desses números, a V.tal e o BTG Pactual monitoram de perto a crise da Oi, que tem dívidas na casa de R$ 30 bilhões. E a razão é simples. Apesar da diversificação de clientes, V.tal e Oi estão umbilicalmente ligadas.

Em sua segunda recuperação judicial, a operadora de telefonia colocou à venda sua área de banda larga fixa que inclui os clientes de fibra óptica (chamada de ClientCo na RJ) e a fatia que detém na V.tal (que é de 31%, mas vai ser diluída para 17% em 2025), segundo o mais recente plano de RJ apresentado aos credores.

A Oi fixou um preço mínimo de R$ 7,3 bilhões pela ClientCo. E, no caso da V.tal, o valor mínimo chega a R$ 8 bilhões – em duas fatias. A primeira delas em 2025 (R$ 3,7 bilhões por 8,5%) e a segunda um ano depois (R$ 4,3 bilhões por 8,5%).

O Citi e BTG Pactual foram contratados para vender a ClientCo. Caso não encontrem um comprador, não está descartado, segundo apurou o NeoFeed, que o próprio BTG possa adquirir esses clientes da Oi – embora não seja essa uma opção considerada a melhor solução por fontes próximas à V.tal.

Quando comprou a operação de fibra óptica da Oi, um negócio de R$ 12,9 bilhões, os fundos do BTG negociaram um acordo em que recebem um pagamento por cada cliente da Oi, mas também estabeleceram metas de crescimento da base.

O número de assinantes da Oi, no entanto, está estagnado por conta das dificuldades financeiras da Oi e das negociações com credores. No terceiro trimestre de 2023, a Oi fechou com 4,06 milhões de clientes de fibra, uma queda de 30 mil assinantes em comparação com o trimestre anterior. A meta era ter 4,7 milhões em 2023.

A troca de comando da Oi (saiu Rodrigo Abreu e entrou Mateus Affonso Bandeira como CEO) se deu por pressões de credores, mas também para colocar à frente da empresa de telefonia um executivo que olhasse mais para o dia a dia da operação, enquanto as negociações sobre a recuperação judicial estão acontecendo – uma assembleia está marcada para o começo de março.

O que está em jogo também é um contrato que tem cláusulas vantajosas para a V.tal. “Quem adquirir a ClientCo leva também esse compromisso com esses valores. E isso é o que está na mesa: os possíveis compradores condicionarem a aquisição perante uma flexibilização do contrato com a V.tal”, afirma um empresário do setor, que acompanha o desenrolar desse caso.

Um laudo da consultoria EY, que acompanha o novo plano de recuperação judicial da Oi, tocou nesse assunto, o que deu margem para que o mercado acredite que os valores pagos pela Oi pelo uso da rede de fibra da V.tal convirjam para valores de mercado em meio às negociações da RJ.

"Importante mencionar que a estimativa da Oi, em relação ao valor da ClientCo, considera renegociações contratuais com a V.tal para a revisão de custos de utilização da infraestrutura de rede neutra, e essas negociações poderão impactar as condições de venda", diz um trecho do laudo da EY.

Não bastasse isso, um comprador misterioso chegou a mais de 5% da Oi através do fundo “Nova Oi”, gerido pela Trustee e que tem apenas dois cotistas. No mercado, a aposta é de que se trata de Nelson Tanure, que já foi acionista da Oi, o que pode “bagunçar” a RJ.

Questionado se a situação da Oi não preocupa a V.tal, Arakawa respondeu. “A Oi vem honrando todos os compromissos com a V.tal. Naturalmente, acompanhamos o processo. E, caso a Oi tenha sucesso com a venda da ClientCo, tenho confiança que vão utilizar a rede neutra da V.tal.”

O executivo da V.tal não forneceu detalhes sobre o acordo com a Oi, alegando que são contratos confidenciais, assim como todos os que são fechados com outras empresas de telefonia para prestação de serviços de rede neutra.