Operadora das redes de fast food Burger King e Popeyes no Brasil, além da Subway e do Starbucks, adicionadas recentemente a esse pacote, a Zamp entregou um combo, ao que tudo indica, bem indigesto aos investidores ao reportar seu balanço do quarto trimestre e do ano de 2024.
No saldo dessa conta, as ações da companhia abriram as negociações dessa sexta-feira, 21 de março, em queda de mais de 10% na B3. E, por volta das 13h10, recuavam 13,02%, cotadas a R$ 2,47, dando à empresa um valor de mercado de R$ 985,3 milhões.
Não foram poucos os ingredientes que desagradaram o mercado. A começar por um prejuízo líquido de R$ 40,6 milhões entre outubro e dezembro, revertendo o lucro líquido de R$ 59,3 milhões reportado em igual período, um ano antes. Em 2024, a perda foi de R$ 191,3 milhões, 95,6% maior que em 2023.
Uma outra combinação colocou mais tempero nessa desconfiança. O Ebitda ajustado trimestral recuou 34%, para R$ 108,2 milhões, enquanto a margem Ebitda ficou em 13,9%, o que representou uma retração de 7,2 pontos percentuais sobre igual período de 2023.
As quedas nessas linhas contrastaram com a elevação das despesas gerais e administrativas (SG&A), de R$ 151,7 milhões no trimestre, um crescimento de 146,5%, e de R$ 394,6 milhões no ano, alta de 72,6%. Já as despesas com vendas avançaram 19,1% entre outubro e dezembro e 16,6% em 2024.
Em conferência com analistas, Gabriel Guimarães, CFO e CEO interino – ele ocupará o cargo até a chegada de Pedro Zemel, ex-Grupo SBF, à operação – destacou um outro combo por trás desses indicadores.
“No SG&A, houve um impacto majoritariamente de despesas com as aquisições e incorporações”, afirmou ele, em referência à incorporação, em outubro, das operações da Subway e do Starbucks no Brasil. “Há um incremento de estrutura para suportar esse próximo ciclo.”
O executivo citou ainda os efeitos de uma provisão de impairment referente às lojas que a holding planeja fechar em 2025, como parte da “limpeza de portfólio” e de alguns itens do ativo imobilizado, como equipamentos, tecnologia e outros itens periféricos.
Já no que diz respeito às despesas com vendas, Guimarães apontou um outro vilão, além do efeito de um crédito tributário de R$ 45 milhões, não recorrente, de 2023, o que trouxe uma piora de 520 base points no custo de mercadorias vendidas (CMV).
“Houve uma piora nos custos, essencialmente na curva de proteínas, e, especialmente, na curva da carne. Essa volatilidade é a nossa maior preocupação”, observou. “Nós fizemos ajustes para acomodar, mas esse trabalho vai ter que ser contínuo para equilibrar esse impacto.”
Em relação ao Ebitda, ele voltou a citar, além do efeito do crédito tributário do fim de 2023, o descompasso entre a necessidade de investimento para alavancar as novas marcas no portfólio e o descompasso que a Subway e o Starbucks geram de resultados no “curtíssimo prazo”.
Esse descasamento entre o Ebitda e as despesas foi justamente um dos pontos ressaltados pelo Citi em relatório divulgado na manhã dessa sexta-feira, assim como a queda na margem Ebitda da operação do grupo.
O banco também citou outros indicadores aquém das projeções. Entre eles, a receita líquida, que ficou 4% abaixo das suas estimativas. Mas manteve a recomendação de compra e um preço-alvo de R$ 6 para a ação.
No trimestre, a receita operacional líquida da Zamp cresceu 20,7%, para R$ 1,29 bilhão, e a anual avançou 18,6%, para R$ 4,55 bilhões.O grupo encerrou o ano com uma dívida líquida de R$ 552,4 milhões, uma redução de 18,8%. A alavancagem foi de 1,6 vez, contra 2 vezes no fim de 2023.
“Temos uma alavancagem razoavelmente controlada, dado que nossos covenants estão perto de 3x”, disse Guimarães. “Há uma atenção com o custo de capital elevado, mas, no curto prazo, temos uma estrutura de dívida bem alongada, o que nos dá conforto para uma trajetória de desalavancagem.”
Quanto ao desempenho das operações recém-incorporadas, em outubro, o executivo ressaltou uma melhora de 10 pontos percentuais nas vendas mesmas lojas desde então. “No Starbucks, já conseguimos reverter a performance para um swing de mais de 20 pontos percentuais em mesmas lojas”, afirmou.
A partir do retrato trazido pelo balanço, Guimarães elencou as prioridades do grupo para 2025. A primeira delas, o foco no crescimento das vendas e da margem bruta, com atenção especial nas curvas de custos de café e, sobretudo, da carne.
“São pontos de preocupação, mas em níveis de maturidade e complexidade diferentes”, afirmou. “E temos oportunidades claras em todas as marcas. Mas Subway e Starbucks terão um ano ainda de transição pra que possamos reconquistar os clientes e trazer mais frequência às lojas.”