O Walmart anunciou nesta quinta-feira, 20 de novembro, ter iniciado o processo de transferência de suas ações da New York Stock Exchange (Nyse) para a Nasdaq, onde passarão a ser negociadas a partir de 9 de dezembro.

A mudança rompe um vínculo que vinha desde 1970, quando a empresa passou a ser listada na bolsa de Nova York. A gigante do varejo, avaliada em US$ 854 bilhões, afirma que a transferência reflete um “forte alinhamento” com a Nasdaq, citando “uma abordagem orientada por tecnologia" e "inovação”.

A transferência de bolsas não é inédita no mercado americano, onde Nasdaq e Nyse travam essa disputa há décadas. Recentemente, Palantir e Kimberly-Clark deixaram a Nyse rumo à Nasdaq, enquanto o caminho inverso foi percorrido por Ameris Bancorp e Southside Bancshares.

Mas ainda que quase 200 anos mais nova, a Nasdaq tem levado alguma vantagem, como indicam os dados mais recentes divulgados por ambas as companhias.

Apenas no primeiro semestre, a Nasdaq conseguiu 11 transferências de listagem para sua bolsa. No ano passado, alcançou a marca de 500 empresas “tiradas” da Nyse ao longo de duas décadas, somando US$ 2,7 trilhões em valor de mercado. Do outro lado, a Nyse afirma que cerca de US$ 1,5 trilhão em capitalização de mercado migrou da Nasdaq para sua plataforma.

No que diz respeito às novas listagens, a Nasdaq também tem levado vantagem sobre sua principal concorrente. No primeiro semestre de 2025, a bolsa recebeu 142 IPOs, que somaram US$ 19,2 bilhões em captação. Desse total, 83 eram empresas operacionais e 59 eram SPACs. Já a Nyse registrou 15 IPOs no período, que levantaram cerca de US$ 7,8 bilhões. Ao todo, a Nasdaq tem cerca de 3.600 empresas listadas e a NYSE, 2.100.

Essa disputa, no entanto, não se limita às empresas americanas e já ultrapassa as fronteiras dos Estados Unidos. No Brasil, por exemplo, a Nasdaq vem intensificando presença, com executivos como Jay Heller, head de IPOs da bolsa, vindo ao país para prospectar fundadores e discutir potenciais listagens — algo raro anos atrás, quando a presença recorrente era da Nyse.

A estratégia da Nasdaq, que nos 1990 tinha regras mais brandas para listagens de empresas em estágio inicial, abriu caminho para que a bolsa se tornasse o berço das companhias de tecnologia que liderariam o capitalismo nos anos 2000.

Enquanto a Nyse concentrava nomes consolidados como Nike, McDonald’s e Exxon, a Nasdaq passou a abrigar Amazon, Microsoft e Alphabet — que se tornariam sinônimos de tecnologia e do novo ciclo econômico digital.

Hoje, as seis maiores empresas do mundo em valor de mercado (Nvidia, Apple, Alphabet, Microsoft, Amazon e Broadcom) estão listadas na Nasdaq — dominância que, por si só, torna a bolsa um polo natural de atração para outras companhias, especialmente aquelas que se veem, ou gostariam de ser percebidas, como negócios de tecnologia.

As vitórias acumuladas pela Nasdaq no ambiente de listagens ajudaram suas ações a saltarem cerca de 110% nos últimos cinco anos, elevando seu valor de mercado para US$ 51 bilhões. A forte valorização, porém, não foi suficiente para superar a Intercontinental Exchange (ICE), dona da Nyse, que mesmo com uma alta mais modesta, de aproximadamente 50% no mesmo período, segue à frente em valor de mercado, hoje na casa dos US$ 87,5 bilhões.

Nem tudo é IPO

Essa maior percepção de valor da ICE entre os investidores não é por acaso, já que a parte de bolsa e listagem de ações é apenas uma fração do negócio de ambas as empresas. Uma parte relevante do valor que o mercado atribui à ICE está justamente nas linhas ligadas a derivativos, juros e outras negociações estruturadas.

Em ações à vista e opções de ações, a ICE registrou apenas US$ 105 milhões em receita no terceiro trimestre, enquanto listagens somaram US$ 125 milhões. Os montantes são modestos quando comparados a outras divisões da empresa.

Somente com negociações de energia (como petróleo), a ICE faturou US$ 482 milhões no terceiro trimestre, enquanto renda fixa e serviços de dados atingiram US$ 618 milhões em receita e a de tecnologia para hipotecas, US$ 528 milhões.

No caso da Nasdaq, a área de Market Services — que inclui negociação de ações, opções, derivativos e serviços de clearing — gerou US$ 303 milhões em receita líquida no terceiro trimestre.

Mas o grosso do faturamento veio da divisão de Solutions, que somou US$ 1 bilhão no período. A unidade reúne os negócios de tecnologia e dados da companhia, incluindo as plataformas de acesso ao mercado — usadas por empresas listadas para RI, governança, ESG, índices e licenciamento — e o segmento de tecnologia financeira.

No terceiro trimestre, a Nasdaq registrou receita líquida de US$ 1,315 bilhão, um crescimento de 15% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já a ICE, dona da NYSE, reportou US$ 2,4 bilhões em receitas, alta de 3%. O lucro operacional da ICE também foi maior, de US$ 1,174 bilhão no trimestre contra US$ 732 milhões registrados pela Nasdaq, com ambos crescendo na mesma proporção das receitas.

Aquele estereótipo de que empresas da Nasdaq são associadas a crescimento acelerado, enquanto as da NYSE carregam uma imagem mais consolidada, até agora, também tem prevalecido na briga das bolsas.