Em um momento de em que o mercado brasileiro de capitais está perto de completar quatro anos sem um IPO (o último foi o do Nubank, em dezembro de 2021), a Nasdaq intensifica seus esforços para atrair potenciais empresas do País interessadas em listar seus papéis nos Estados Unidos.

Pela primeira vez no Brasil, Jay Heller, vice-presidente e head de mercados de capitais e execução de IPOs da bolsa americana, afirma que o trabalho é de longo prazo e baseado em relacionamentos. “O objetivo é justamente plantar sementes para ver o que pode florescer no futuro. E isso não dá para fazer se você chega só no fim do processo”, afirma Heller, ao NeoFeed.

Com sede em Nova York, a Nasdaq é uma das maiores bolsas de valores do mundo, conhecida por abrigar gigantes da tecnologia como Nvidia, Apple, Microsoft e Alphabet. Ao todo, a bolsa reúne mais de 3 mil companhias listadas, que, juntas, somam mais de US$ 40 trilhões em valor de mercado. Na B3, a soma do valor de mercado das empresas listadas não passa de US$ 1 trilhão.

Em uma curta estadia no País, Heller e Todd Heinzl, CEO da 3Dots, consultoria especializada em abertura de capital, têm cumprido uma agenda intensa de reuniões com fundadores e executivos de empresas brasileiras que avaliam, em algum momento, listar ações no mercado americano de capitais.

Dado o maior acesso a investidores globais e a liquidez oferecida pelo mercado americano, os Estados Unidos têm se tornado um destino cada vez mais recorrente para empresas brasileiras. Casos como o da BR Partners, que recentemente se listou na Nasdaq, e os de JBS e Inter, que migraram suas ações para o mercado norte-americano, ilustram esse movimento.

Nos bastidores dos bancos de investimento, esse interesse vem crescendo entre empreendedores locais, que buscam maior visibilidade, múltiplos mais altos e um ambiente regulatório mais previsível para expandir seus negócios.

Atualmente, a Nasdaq já conta com uma dezena de companhias brasileiras listadas. Entre elas, XP, Patria Investimentos, Stone, Inter, Vinci Partners, BR Partners, Afya, Vasta e Zenvia. A expectativa é que essa lista aumente nos próximos anos, a depender dos esforços de Heller e da aproximação crescente da bolsa americana com o mercado brasileiro.

Heinzl conta que a estratégia adotada no Brasil segue um roteiro já testado em outros mercados. Ele cita o caso da Itália, onde a Nasdaq e a 3Dots realizaram um movimento semelhante nos últimos anos.

“Fizemos um evento em Milão e, dois anos depois, estamos voltando com 14 empresas de maior porte que agora querem abrir capital em 2026”, diz o CEO da 3Dots.

Hay Heller, head de IPO da Nasdaq
Hay Heller, head de IPO da Nasdaq | Foto: Marina Malheiros

Embora reconheçam que a taxa de juros no Brasil — o Copom manteve a Selic em 15% ao ano na reunião de quarta-feira, 5 de novembro, o maior patamar em quase 20 anos — tem limitado o apetite de empresários por abrir capital, os executivos afirmam que os esforços da Nasdaq independem do ciclo econômico.

“Não dá para prever o momento exato em que o mercado vai reabrir, mas isso não muda o nosso trabalho”, diz Heinzl. “O foco é estar presente, educar e construir relacionamentos para quando esse momento chegar.”

Entre as inúmeras reuniões realizadas no Brasil, Heller afirmou ter conversado com empresas de diferentes portes e setores, incluindo executivos de companhias já listadas na B3. Ele, no entanto, faz questão de destacar que não enxerga a bolsa brasileira como uma concorrente direta.

“Não vejo a B3 como concorrente. A B3 pode ser uma parceira complementar. Se uma empresa decide ter sua listagem principal na B3 e também um recibo de depósito (ADR) na Nasdaq — ou o contrário — não importa para nós”, afirma o head de IPO da Nasdaq.

O tom competitivo ganha outra forma quando o assunto é a Nyse, principal rival da Nasdaq em solo americano. Heinzl observa que a disputa entre as duas bolsas vai além das listagens, já que a Nasdaq também oferece uma ampla gama de serviços de tecnologia, governança e relações com investidores.

Únicas bolsas listáveis dos Estados Unidos, Nasdaq e Nyse têm uma rivalidade histórica, que também se reflete na disputa por empresas brasileiras. A Nasdaq reúne nomes como XP, Stone, Inter e Sigma Lithium, enquanto a Nyse abriga companhias como Nubank e JBS. Outras grandes companhias brasileiras, como Vale, Itaú, Eletrobras e Sabesp, também mantêm ADRs listados na Nyse.

Essa concorrência, no entanto, vai além das listagens: ambas as bolsas têm expandido sua oferta de serviços tecnológicos, dados e governança corporativa para fortalecer laços com as companhias listadas. “Conhecemos empresas listadas na Nyse que utilizam todos os serviços da Nasdaq, de soluções de RI a iniciativas de sustentabilidade”, afirma ele.

Heller acrescenta que a competição faz parte da essência da bolsa americana. Questionado se a proporção de empresas brasileiras listadas nos Estados Unidos deve continuar crescendo nos próximos anos, Heller evita fazer previsões, mas garante que a Nasdaq estará cada vez mais presente no país.

“Voltaremos. Já estamos aqui hoje e teremos outra viagem em breve. Acreditamos nesta região, acreditamos no crescimento e estamos empolgados com o que o futuro reserva”, diz Heller.