Em novembro de 2020, a Boeing recebeu a notícia que tanto aguardava. Envolvido em dois acidentes que vitimaram 346 pessoas, o modelo 737 MAX recebeu, enfim, a recertificação da Agência Nacional de Aviação Civil dos Estados Unidos (FAA) para voltar a voar.
A decisão encerrava 20 meses de espera e abria caminho para que a fabricante americana tentasse superar a maior crise da sua história, agravada, além das tragédias, pela Covid-19. Mas, passados cinco meses do sinal verde, o problemático modelo volta a desafiar a recuperação da empresa.
Nesta sexta-feira, 9 de abril, a Boeing informou que alertou 16 clientes sobre um problema elétrico envolvendo um grupo específico de aviões 737 MAX e recomendou que essas empresas tirassem essas aeronaves de operação até que a questão fosse resolvida.
“Estamos trabalhando em estreita colaboração com a FAA nessa questão de produção. Também estamos informando nossos clientes sobre números específicos de aeronaves afetadas e forneceremos orientações sobre as ações corretivas apropriadas”, afirmou a empresa, em nota.
A Boeing não divulgou quais companhias aéreas foram afetadas pelo problema. Entretanto, empresas como American Airlines, United Airlines e Southwest Airlines confirmaram que estão entre as integrantes desse grupo, sendo 63 aviões 737 MAX pertencentes ao trio. No Brasil, a única companhia a usar o modelo é a Gol.
A Southwest está entre as companhias que ampliaram sua carteira de pedidos da família 737 MAX recentemente, com a encomenda, em março, de 100 aeronaves e a sinalização de um contrato potencial para 600 novos aviões até 2031.
A decisão de proibir os voos com o 737 MAX foi tomada em março de 2019, após um acidente da Ethiopian Airlines, com 157 vítimas fatais. Cinco meses antes, um voo da Lion Air, com o mesmo modelo, caiu na Indonésia, causando 189 mortes. Com a suspensão, 382 aeronaves ficaram imediatamente fora de operação em todo o mundo.
As investigações dos dois acidentes encontraram um ponto comum em um defeito do software de controle da aeronave. A constatação deu início a um longo processo de recertificação e expôs, nos meses seguintes, uma série de falhas nos processos de desenvolvimento e de produção da Boeing, além de arranhar a imagem da própria FAA, acusada de ter sido displicente na certificação do modelo.
Com o 737 MAX, sua principal aposta na competição com a rival Airbus, no chão e sua reputação em xeque, a empresa entrou em uma espiral de problemas que afetaram seriamente seus resultados. A situação ganhou contornos ainda mais críticos com a chegada da pandemia.
Antes disso, a crise desencadeada pelos problemas com o 737 MAX foi, inclusive, um dos motivos alegados pela fabricante americana para encerrar as negociações para a formação de uma joint venture com a brasileira Embraer, na área de aviação comercial.
A derrocada se traduz em números. Em 2020, a Boeing reportou uma receita de US$ 58,1 bilhões, um recuo de 24% sobre 2019. A cifra chama ainda mais atenção pelo fato de que os resultado do ano anterior já tinha sido bastante impactado, com uma queda também de 24% no mesmo indicador.
No ano passado, a fabricante também apurou um prejuízo líquido de US$ 11,9 bilhões, contra a perda de US$ 636 milhões registrada na última linha do balanço de 2019.
Outro número que ilustra a difícil situação da empresa é sua avaliação no mercado de capitais. Em março de 2019, na época do segundo acidente envolvendo o 737 MAX, a Boeing estava avaliada em US$ 238,7 bilhões. Hoje, o valor de mercado da companhia é de US$ 146,3 bilhões.
Em março de 2020, com o agravante da Covid-19, o Boeing chegou ao seu ponto mais baixo de avaliação, de US$ 53,6 bilhões, desde o início da crise do 737 MAX.
Em 2021, no entanto, a empresa dava sinais de recuperação no mercado. Até o fechamento da quinta-feira, suas ações acumulavam alta de 17,1% no ano. No pregão de hoje, os papéis da companhia operavam em baixa de 1,66% na Bolsa de Nova York, por volta das 11h45, horário local.