O processo de desalavancagem financeira pelo qual muitas varejistas de alimentos vem passando nos últimos anos vai permitir a retomada de fusões e aquisições no segmento, em que a escala se torna essencial para competir e se manter no mercado.

De acordo com Jorge Faiçal, CEO da Plurix, o setor registrou  R$ 1 trilhão em faturamento no ano passado, segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Apesar disso, é altamente pulverizado. Das 1,2 mil companhias no Brasil, a maioria delas não consegue registrar um faturamento anual de R$ 1 bilhão.

“Muitas empresas endividadas devem voltar ao balcão de compras e ir em busca de consolidar o mercado”, disse Faiçal na terça-feira, 27 de agosto, durante painel na 25ª Conferência Anual do Santander. “Existem muitas oportunidades do ponto de vista regional.”

Esse movimento deve ser particularmente benéfico para a Plurix, holding de varejo alimentar criada pelo Patria Investimentos em 2021. A empresa já realizou 12 transações pelo País, chegando a faturamento de R$ 10 bilhões. O foco da empresa são empresas de supermercados no interior, algo que não deve mudar.

“Continuamos em um estágio acelerado de M&A e não devemos parar em R$ 10 bilhões de faturamento”, afirmou Faiçal. “Queremos ser um player ativo.”

A avaliação da retomada dos M&As no segmento não está restrita apenas a um nome cuja tese tem como um dos pilares o crescimento inorgânico. Para Eric Alencar, CFO do Carrefour Brasil, é “inevitável” que o segmento passe por essa tendência, mas disse que o processo ainda está nos primeiros estágios, sendo difícil traçar uma tendência.

“Vejo [o movimento de consolidação] como inevitável, mas o que não eu tenho percepção é de como vai ocorrer essa consolidação, se vai ser em supermercado, de público A ou B, se vai ser no atacarejo”, afirmou Alencar.

Ainda que seja vista como uma tendência no setor, a consolidação não deve contar com participação em peso de dois grandes nomes do varejo nacional. No caso do Carrefour, Alencar conta que o momento é de concluir a “digestão” da aquisição do grupo Big, anunciada em 2021, pelo qual pagou R$ 7 bilhões.

Já o Grupo Pão de Açúcar (GPA) segue focado no processo de turnaround, de acordo com o CEO Marcelo Pimentel, com o fortalecimento da estrutura de capital. Nesse sentido, a empresa está priorizando o crescimento orgânico, o que inclui avançar com as lojas de proximidade e os supermercados para o público premium, especialmente em São Paulo.

Oportunidades para M&A precisarão passar por um funil bastante estreito, tornando muito difícil que o GPA vá às compras. “Quando tem uma oportunidade que parece interessante para consolidar, a gente avalia quanto precisamos investir lá e comparamos com quanto posso investir num modelo em que posso crescer de forma orgânica e em que tenho controle”, disse Pimentel.