A nova gestão do Banco do Brasil está buscando dissipar a nuvem de desconfiança que paira sobre ela. Depois das interferências que a instituição sofreu durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, muitos temem que a prática possa voltar no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O temor do mercado é que o novo governo retome as políticas intervencionistas de Dilma, forçando o Banco do Brasil e a Caixa a concederem mais crédito do que podem para estimular o crescimento da economia. Durante o mandato da ex-presidente, a participação dos bancos públicos no mercado de crédito total passou de 40% para 60%, segundo estudo do Itaú BBA, pressionando os balanços das instituições.
Mas a nova presidente da instituição, Tarciana Medeiros, buscou tranquilizar analistas e investidores a respeito desse tema. Segundo ela, a governança corporativa evoluiu ao longo dos anos, impedindo que a política possa determinar a condução do banco.
“Somos um banco que conta com uma governança corporativa muito forte, que ao longo dos anos evoluiu bastante”, disse ela na terça-feira, 14 de fevereiro, na teleconferência de resultados do quarto trimestre. “Quanto aos riscos de interferência, acreditamos que estamos bem protegidos.”
A declaração ocorre após o Banco do Brasil ter fechado 2022 com resultados recordes, obtidos na gestão de Fausto Ribeiro, indicado ao comando em abril de 2021. Medeiros assumiu o cargo em 16 de janeiro.
O banco registrou em 2022 um lucro líquido ajustado de R$ 31,8 bilhões, aumento de 51,3% em relação a 2021. No quarto trimestre, o lucro líquido ajustado alcançou R$ 9 bilhões, alta de 8,1% em relação ao terceiro trimestre e 52,4% ante o mesmo período de 2021.
O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) anualizado alcançou 21,1% no ano, ficando acima de seus pares privados – o Itaú registrou um retorno de 20,3%, o Bradesco de 13,1% e o Santander de 16,3%.
Em time que está ganhando
Primeira mulher a comandar o Banco do Brasil em seus 214 anos de história, Medeiros afirmou que sua administração no Banco do Brasil pretende construir em cima daquilo que seus antecessores criaram. Segundo ela, o plano é manter o foco na disciplina de capital, no retorno ao acionista e no controle de despesas.
“Todos os meus antecessores trouxeram a empresa até aqui e cabe a nós assumir esse legado e avançar ainda mais, encontrando soluções e modelos de negócios para adaptar o bancos às mudanças no mercado”, afirmou.
O novo corpo diretor do Banco do Brasil citou que o guidance estabelecido para 2023 pressupõe uma relativa manutenção do que vinha sendo feito, embora destaquem que ajustes podem ser realizados ao longo do caminho.
O Banco do Brasil prevê fechar 2023 com lucro líquido ajustado entre R$ 33 bilhões e R$ 37 bilhões, com o diretor financeiro, José Ricardo Forni, avaliando que o ROE pode ficar um pouco abaixo do apurado em 2022, mas na casa dos 20%.
“Um pedaço do ROE tem relação com o nível de juros da economia e a perspectiva futura é de redução da taxa de juros então o nível em 2023 vai depender da conjuntura econômica e da Selic”, disse. “Mas o setor tem como girar com ROE de 18% a 20% no longo prazo, dependendo das decisões que forem tomadas.”
Os executivos também comentaram sobre o provisionamento feito pelo caso Americanas, sem citar a companhia nominalmente, como fizeram outros bancos.
O Banco do Brasil decidiu por provisionar R$ 788 milhões, correspondente a 50% da exposição ao ativo, ao contrário do que Itaú e Bradesco fizeram, decidindo por se proteger totalmente do caso. Já o Santander decidiu por um provisionamento de 30% de sua exposição.
A lista de credores da Americanas mostra que o Banco do Brasil tem cerca de R$ 1,5 bilhão a receber da varejista.
Segundo o vice-presidente de controles internos e gestão de riscos, Felipe Prince, a decisão de provisionar metade dos créditos foi tomada após os modelos de risco do banco indicarem que era suficiente.
Ele afirmou que o banco está atuando juridicamente para se proteger do caso, acreditando ser possível recuperar “ao menos parte” dos créditos.
Por volta das 13h15, as ações do Banco do Brasil subiam 4,34%, a R$ 42,36. Em 12 meses, elas acumulam alta de 12,4%, levando valor de mercado a R$ 121,3 bilhões.