Em um trimestre em que boa parte dos analistas de bancos de investimentos estão de olho no nível de inadimplência, o Nubank divulgou um novo presidente e um resultado que mostrou um ligeiro aumento do NPL (Non-performing loan) acima de 90 dias quando comparado aos três primeiros meses de 2022.

No segundo trimestre de 2022, a inadimplência acima de 90 dias foi de 4,1%, um pouco acima dos 3,5% do mesmo período do ano passado. A boa notícia é que o NPL de 15-90 dias ficou estável em 3,7%. Um detalhe importante: neste trimestre, o Nubank passou a considerar como perda contábil os empréstimos não pagos depois 120 dias – antes, o critério era de 360 dias.

“Sempre fomos supercriteriosos no fornecimento do crédito e a maior parte dos nossos clientes são bancarizados”, diz David Vélez, cofundador e CEO do Nubank, ao NeoFeed. “Dos 65 milhões de clientes, apenas 4 milhões têm crédito. Temos crescido com muito cuidado e com limites baixos.”

A carteira de crédito do Nubank passou de US$ 8,8 bilhões para US$ 9,2 bilhões no segundo trimestre. Cerca de 75% desse volume é de cartão de crédito. O restante é de crédito pessoal, que cresceu 7% no segundo trimestre. “Reprecificamos o produto de 4% para 5,6%”, afirma Guilherme Lago, CFO do Nubank.

A fintech divulgou também, neste trimestre, o retorno sobre o capital de seus produtos de crédito. De acordo com Lago, o cartão de crédito tem um retorno de 80% e o crédito pessoal, 120%. “Fala-se muito da inadimplência, mas ela é só uma parte”, afirma o CFO do Nubank.

De acordo com Lago, o principal gargalo para o Nubank crescer em crédito não é a demanda, nem capital ou liquidez. “O único gargalo para crescer é o nosso conforto e o nosso apetite de crédito”, afirmou.

Ao mesmo tempo, o Nubank reduziu seu prejuízo líquido que passou de US$ 45,1 milhões, no primeiro trimestre deste ano, para US$ 29 milhões em abril, maio e junho de 2022. Mas o resultado é pior do que o segundo trimestre do ano passado, quando foi de US$ 17 milhões.

No Brasil, o principal mercado da companhia, o Nubank registou um lucro líquido contábil de US$ 13 milhões no primeiro semestre deste ano. Este dinheiro, segundo a empresa, foi reinvestido em outras verticais da fintech, bem como contribuiu para a expansão no México e Colômbia.

Crescimento de clientes e receita

O Nubank apresentou um aumento de 5,7 milhões de clientes, totalizando 65,3 milhões de clientes no Brasil, México e Colômbia, um aumento de 57% em relação ao mesmo período do ano passado.

A receita média por clientes ativos (ARPAC), passou de US$ 4, um ano atrás, para US$ 7,8. Com isso, a receita total alcançou um novo recorde no segundo trimestre, chegando a US$ 1,2 bilhão, um aumento de 108% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Na visão de Vélez, isso representa a diversificação dos produtos do Nubank. O cartão de crédito, por exemplo, conta com 29 milhões de clientes. A NuConta, 45 milhões. E o empréstimo pessoal, 4 milhões.

Outros produtos também contribuíram. As soluções de seguro, lançadas no ano passado, atingiram 700 mil clientes ativos. A plataforma de investimento NuInvest chegou a 5 milhões. E o NuCripto bateu 1 milhão em julho deste ano, apenas três semanas após o seu lançamento.

Reorganização

Junto com o resultado do segundo trimestre, o Nubank anunciou também uma reorganização no seu modelo operacional de gestão. Vélez seguirá como CEO e focado no longo prazo, incluindo o desenvolvimento de produto, a expansão para novos mercados e novas aquisições.

O executivo marroquino Youssef Lahrech, atual diretor de operações, assumirá uma nova função como presidente e se reportará diretamente para Vélez. Na nova posição, ele focará no dia a dia da operação e manterá o cargo de COO.

Lahrech está no Nubank há dois anos, período em que cuidou da estratégia de crédito. Fez carreira na Capital One, empresa americana de cartões de crédito e empréstimo pessoal, e é formado em matemática na França e com MBA pelo MIT.

Cristina Junqueira, que é cofundadora e CEO do Brasil, assumirá também a posição de diretora de crescimento, gerenciando as operações da equipe de mercado e as estratégias de crescimento com foco no Brasil, México e Colômbia.

“Nunca nos reorganizamos quando começamos com um cartão roxinho na rua Califórnia, em São Paulo, em 2013”, justificou Vélez, as mudanças. “Tínhamos uma estrutura focada no produto e agora ela será focada no cliente.”

As ações do Nubank fecharam nesta segunda-feira, 15 de agosto, em alta de 10,12%, cotadas a US$ 4,68, na expectativa dos investidores pelo resultado do segundo trimestre. A empresa vale US$ 21,6 bilhões na Bolsa de Nova York. No ano, os papéis têm perda de 53,1%.

Os principais bancos de investimento têm visões diferentes sobre o Nubank. O Bradesco BBI, o Santander e o Itaú BBA, por exemplo, recomendam a venda do papel e estimam um preço-alvo entre US$ 3,30 e US$ 4,50. Por outro lado, Goldman Sachs e o UBS recomendam compra das ações. O preço-alvo está entre US$ 11,50 e US$ 12.