Quando o tarifaço de 50% imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as exportações brasileiras entrou em vigor, no dia 6 de agosto, a expectativa do mercado era sobre qual seria o impacto para a Weg, que tem forte exposição à economia americana.
Com a divulgação dos resultados do terceiro trimestre na quarta-feira, 22 de outubro, a avaliação de analistas do Santander e Itaú é que a rentabilidade da companhia foi atingida de forma moderada. Ou seja, na prática, o pior ainda está por vir.
No período, a empresa, que tem sede em Jaraguá do Sul (SC), reportou receita líquida de R$ 10,3 bilhões, alta de 4,2% sobre o mesmo período do ano anterior. O lucro líquido foi de R$ 1,65 bilhão, crescimento de 4,5% em relação à mesma base de 2024.
O Ebitda alcançado entre julho e setembro deste ano foi de R$ 2,3 bilhões, acréscimo de 2,3% sobre o mesmo período do ano passado. Para os analistas, porém, a rentabilidade poderia ter sido maior, não fosse o impacto da decisão de Trump sobre as exportações brasileiras.
“As tarifas dos Estados Unidos já começaram a afetar a lucratividade, mas de forma moderada”, dizem os analistas Lucas Barbosa, Lucas Esteves e Gabriel Tinem, do Santander.
“Por outro lado, uma melhora no mix de produtos elevou a margem Ebitda, o que compensou os impactos das iniciativas de mitigação relacionadas às tarifas mais altas impostas pelos EUA durante o período”, explicam os especialistas do Santander.
De qualquer forma, em um horizonte futuro, a perspectiva é que os conflitos comerciais provocados principalmente por pressões tarifárias de Donald Trump impactem a receita da companhia, afetando possíveis pedidos de motores de alta tensão e automação fabricados pela Weg.
“Olhando para frente, a administração comentou que as incertezas geopolíticas continuam levando os clientes a adiarem decisões de investimento, restringindo a demanda por equipamentos industriais de ciclo longo (motores de alta tensão e sistemas de automação)”, afirma o relatório do banco.
Ainda que a companhia não tenha detalhado, no balanço, os primeiros efeitos da cobrança extra imposta pela Casa Branca sobre os itens exportados, o Itaú acredita em uma maior pressão sobre o resultado financeiro do período entre outubro e dezembro.
“A empresa não divulgou o quão relevante foi o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos (principalmente na rentabilidade), mas esperamos um impacto maior no quarto trimestre”, afirmam os analistas Daniel Gasparete, Gabriel Rezende e Pedro Tineo, do Itaú.
Em comparação com o segundo trimestre, o faturamento da Weg registrou um crescimento tímido, de apenas 0,6%. Na interpretação do Santander, a alta modesta foi motivada por alguns fatores, como a expansão de 8% nos mercados internacionais, parcialmente compensada pela valorização de 1,6% do real no período.
O mercado nacional levou o resultado para baixo, com queda de 4% na receita no Brasil, devido à menor participação do setor de renováveis na divisão de Geração, Transmissão e Distribuição (GTD), com queda de 20% sobre o trimestre anterior.
Por outro lado, a demanda por eletroeletrônicos industriais no País (EEI) registrou crescimento de 13%, com foco maior na substituição de equipamentos.
“Na divisão GTD, a receita caiu 7% ano contra ano, desempenho pior do que o esperado, já que projetos relevantes de geração solar centralizada foram encerrados e não houve entregas de turbinas eólicas. Embora os fatores já fossem amplamente esperados, o efeito foi mais negativo do que o estimado”, afirma o Itaú.
A XP, no entanto, enxergou como ponto positivo o bom desempenho do segmento de eletroeletrônicos, o que fez os analistas vislumbrarem um cenário de crescimento.
“O resiliente segmento de EEI da WEG e os sinais positivos dos players sustentam uma perspectiva relativamente construtiva para os segmentos relacionados à indústria, com crescimento de lucros de dois dígitos esperado para retomar até 2027”, diz o relatório.
Em seu balanço, a Weg diz acreditar que sua presença global e a oportunidade de ampliação dos negócios pode ajudar a companhia nesta travessia geopolítica mais turbulenta.
“Acreditamos que nossa estratégia de diversificação de produtos e soluções, flexibilidade operacional e presença global contribui para navegarmos o ambiente de instabilidade macroeconômica atual, mitigando seus efeitos e aproveitando as oportunidades presentes no mercado”, diz o texto da empresa.
Mesmo com o impacto relativo do tarifaço na rentabilidade, o mercado financeiro reagiu bem ao resultado da companhia, refletindo as explicações sobre a diversificação das operações. As ações da Weg fecharam esta quarta-feira, 22 de outubro, em alta de 1,69% na B3.
No acumulado do ano, porém, o cenário é oposto. Os papéis da companhia registram desvalorização de 23,5% em 2025. O valor de mercado da Weg é de R$ 170,2 bilhões.