As ações da Americanas fecharam em queda livre de quase 60% em meio a divulgação dos resultados auditados a respeito de 2023 e do primeiro semestre deste ano.

Uma combinação de fatores estão contribuindo para a queda de ações. De um lado, a varejista informou que vai descontinuar seus guidances “de forma a permitir que a companhia reavalie a expectativa de desempenho futuro”. De outro, o fim do lock-up das ações emitidas no processo de capitalização está exercendo (como o esperado) forte pressão vendedora.

Os dados divulgados mostram algumas evoluções na frente operacional, depois do pesadelo que a varejista, que entrou com um pedido de recuperação judicial em janeiro de 2023, passou a viver desde que revelou uma intricada fraude contábil da ordem de R$ 25 bilhões.

Nos primeiros seis meses deste ano, o prejuízo foi de R$ 1,4 bilhão, o que representa uma redução de 55,9% em relação ao mesmo período de 2023, com o Ebitda ficando positivo em R$ 1,3 bilhão, revertendo o número negativo do ano anterior.

Já no fechado de 2023, a Americanas registrou uma perda de R$ 2,3 bilhões, o que representa uma redução de 82,8% em relação a 2022. O Ebitda permaneceu no campo negativo, em R$ 2,8 bilhões, mas menor que o saldo negativo de R$ 6,5 bilhões de 2022.

“Conseguimos estancar a crise, cumprindo com boa parte das etapas da recuperação judicial. Essa página está virada”, disse Leonardo Coelho, CEO da Americanas na teleconferência com analistas e investidores. “Nosso foco passa a ser integralmente na operação.”

A capitalização da Americanas, operação homologada no fim de julho e que resultou na injeção de R$ 24,5 bilhões na Americanas, aumentou fortemente a quantidade de ações de 907 milhões para 19,7 bilhões.

Os investidores também reagem ao desempenho da Americanas, que teve prejuízo de R$ 1,8 bilhão no segundo trimestre deste ano, aumento 48,1%, e ainda vive dos efeitos do plano da recuperação judicial.

Na teleconferência para tratar dos resultados, Camille Faria, CFO da Americanas, afirmou que apesar da descontinuação do guidance, a companhia tem conseguido avançar em diversos pontos.

Ela destacou que a previsão de obter um patrimônio líquido positivo em 2025 deve ser antecipada, considerando a aplicação do plano de recuperação judicial e que a companhia caminha para uma cash neutral, sendo que espera para o ano que vem espera ter caixa líquido.

Coelho voltou a destacar que o foco operacional daqui para frente será na parte do varejo físico, que será o “coração” da companhia, com o digital complementando a linha de receita, com o 1P sendo desidratado.

O GMV do varejo físico totalizou R$ 7,2 bilhões no primeiro semestre, um crescimento de 15,9% em base anual, passando a responder por mais de 70% do GMV total, que somou R$ 10,1 bilhões, queda de 9%. A receita líquida nos primeiros seis meses do ano somou R$ 6,8 bilhões, recuo de 2,6%

Segundo Coelho, os ajustes no mix de produtos, com destaque para categorias em que é reconhecida pelo mercado e tem margens melhores, como chocolates e higiene, melhoria da precificação, além da estratégia ter uma base de lojas que dê retorno de fato tem surtido efeito. A margem bruta subiu 9,6 pontos percentuais, a 34,5%.

“Continuamos com esse processo, que ganha mais tração à medida que coloca mais dados na análise quantitativa e esperamos colher fruto na margem nos próximos trimestres”, afirmou.

A venda de ativos continua na mesa, uma vez que é parte das exigências que a Americanas precisa cumprir em seu plano de recuperação judicial e reduzir o endividamento, segundo Faria. A dívida líquida da Americanas somou R$ 38,8 bilhões no primeiro semestre, alta de 16,2% em relação ao consolidado de 2023.

Ela destacou que uma das empresas que devem ser desinvestidas é a Uni.Co, mas afirmou que ainda avaliam o momento certo para retomar a operação. No caso do Hortifruti Natural da Terra, o foco é otimizar a operação e que não há planos de retomar o processo de venda.