Desde a sua criação, em 2017, a empresa de private equity EB Capital, com R$ 3,5 bilhões em ativos sob gestão, se posicionou como uma gestora focada em buscar negócios com alto potencial de retorno e que geram impacto para sociedade.
Foi com essa tese que a companhia investiu em setores como o de fibra óptica (na Sumicity e na Mob Telecom), focando na inclusão digital; e de educação técnica (na Essa e na Enferminas), mirando no primeiro e segundo empregos dos jovens.
O discurso ficou ainda mais claro depois que a onda ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) começou a ser propagada no mercado financeiro brasileiro, principalmente no ano passado.
Mas agora a empresa está dando um passo adiante. A companhia revelou com exclusividade ao NeoFeed que acaba de trazer a executiva Tarcila Ursini, um dos principais nomes do Brasil na área de sustentabilidade e governança corporativa, para ser a sua Chief Purpose Partner, liderando o propósito da companhia.
“Enxergamos a onda do ESG não a partir da perspectiva de risco, mas a partir de uma perspectiva de oportunidade de negócios”, diz Luciana Antonini Ribeiro, sócia da EB Capital. “Com o crescimento da EB Capital, vimos a necessidade de criar uma posição, que é essa figura do Chief Purpose Partner, para solidificar a nossa visão.”
Não há notícia de nenhuma grande empresa brasileira que tenha criado esse cargo. No exterior, também não é muito comum. “Não é uma tendência nas empresas globais”, diz Álvaro Almeira, diretor da consultoria GlobeScan no Brasil, sócio da Report Sustentabilidade e autor da coluna Além do Carbono no NeoFeed.
De fato, poucas empresas contam com um Chief Purpose Officer (CPO) em seus quadros. Dá para contar nos dedos das mãos. Nos EUA, companhias como a consultoria PWC, a de bens de consumo The Honesty Company e a de brinquedos Hasbro – que criou a posição em janeiro deste ano – já têm esse profissional atuando.
Na visão de alguns analistas, esse papel já é desempenhado pelo próprio CEO, que tem a missão de espalhar a cultura e o propósito para todos os stakeholders. Mas não é tão simples assim. Nem sempre o CEO está 100% focado nessa missão.
Diante dessas questões, cabe uma indagação: afinal, o que Tarcila Ursini fará como Chief Pupose Partner? “A minha ideia é apoiar o time para trazer uma robustez maior criando cultura dentro da própria EB e também para as investidas”, diz ela ao NeoFeed.
O papel compreende supervisão estratégica das formulações de pautas de ESG e de ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU), participação em comitês de investimento e mentoria para a equipe interna que faz essa implementação.
Além disso, a EB Capital criou um comitê de propósito onde serão discutidos o posicionamento estratégico da companhia olhando para três pilares: como se tornar uma empresa melhor, contribuir para um setor melhor e construir um mundo melhor.
A meta é fazer com que a EB Capital se torne referência em cultura de ESG e também seja referendada como uma companhia B-Corp, as empresas que têm o mais alto padrão de sustentabilidade. Para isso, Tarcila vai ajudar na aprimoração de processos e produtos, na maneira como os investimentos são analisados, nos critérios de alocação de capital e nas teses.
“Estamos organizando essa inteligência e esse posicionamento que já existem na EB Capital”, diz Tarcila. A gestora também está preparando programas de valor com as investidas. “A ideia é aprimorar esses processos e criar programas que engajem as investidas nessa cultura ESG de impacto.”
Cada vez mais gestoras mundo afora estão atentas ao portfólio de investimentos e às ações de suas investidas. No ano passado, a BlackRock, gestora americana com quase US$ 8 trilhões em ativos sob gestão, chegou a “punir” 53 investidas que não haviam avançado em seus planos para reduzir o impacto ambiental.
No início desse ano, por meio de sua tradicional carta anual, Larry Fink, o CEO da gestora, cobrou de suas empresas investidas planos de como elas se tornarão compatíveis com a economia neutra em carbono no longo prazo.
Indagada sobre como se posicionará em relação às investidas, Luciana, da EB Capital, afirma que sua realidade é diferente. “Como somos mais recentes, o nosso portfólio está sendo montado a partir dessa perspectiva”, diz ela.
O trabalho de consultoria de Tarcila junto às investidas ainda está sendo estruturado, mas Luciana afirma que a cultura de cada uma será respeitada. “O propósito já está no core do negócio e isso facilita o nosso trabalho”, diz ela. Facilita também ter uma profissional com muita bagagem nesse segmento.
Atualmente, Tarcila é conselheira e atua em comitês de conselhos de sustentabilidade, estratégia, pessoas e inovação, em empresas como Korin, Agrogalaxy, grupo Simpar e grupo Baumgart. Tarcila também fez parte de conselhos de companhias como Santander, Duratex, GRI Global e ISE B3.
Seu nome figura nas principais organizações do setor. Ela atua como conselheira do Capitalismo Consciente Brasil, Instituto Ethos e representa o País no Comitê de multinacionais do BLab (certificadora das B-Corp). Tarcila também é embaixadora do Black Jaguar Foudation e é coordenadora e professora nos cursos de formação de conselheiros no Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
O discurso da EB Capital e o currículo de Tarcila são bonitos, mas, no fim do dia, os investidores ainda querem ver o lucro. “Somos uma gestora que dá muito resultado. E fazemos isso levando desenvolvimento para o País. Não existe negócio, no presente e no futuro, que não tenha que ter esse tipo de atenção”, diz Eduardo Sirotsky Melzer, conhecido como Duda Melzer, sócio da EB Capital ao lado de Pedro Parente, Luciana Antonini Ribeiro e Fernando Iunes.
Luciana afirma que a gestora tem entregado uma rentabilidade de 25% ou mais por ano aos investidores. E uma das áreas que deve movimentar muito a companhia é a de fibra. Em novembro do ano passado, a EB Capital captou R$ 1,5 bilhão junto a investidores institucionais para consolidar o setor de banda larga por meio da EB Fibra.
Atualmente, a companhia de fibra óptica, comandada por Pedro Parente, conta com 380 mil assinantes e é dona da Sumicity, na região Sudeste, e da Mob Telecom, no Nordeste. A meta é fazer sete aquisições até o fim do ano, atingir 1 milhão de assinantes e alcançar um faturamento de R$ 1 bilhão, ainda em 2021.
Paralelo a isso, a EB Capital iniciou conversas com investidores para levantar um novo fundo de R$ 1 bilhão. Batizado de Preferred Futures Fund I, ele tem como tese investir em companhias que atuem em áreas que vão de economia circular, passando por cidades inteligentes até agricultura sustentável.
É o tema que tem atraído cada vez mais investidores no mundo inteiro. De acordo com a BloombergNEF, o braço de análises e pesquisas da agência de notícias, o mercado global de títulos sustentáveis atingiu US$ 732 bilhões em 2020, um crescimento de 29% em relação a 2019, o que mostra o crescente interesse pelo ESG.
“Não tenho nenhuma dúvida de que os temas ambientais e sociais estão transformando os negócios. Existe uma pressão no mundo por uma transformação”, diz Luciana. “Brinco que, pelo amor ou pela dor, os negócios estão mudando. Os millennials estão mudando, os bancos centrais europeus estão mudando, os investidores estão mudando. Não consigo pensar em uma empresa que saia ao mercado sem pensar nisso.”