Ao longo de pouco mais de três meses, a Campari Academy promoveu uma série de testes às cegas com espumantes brasileiros. Os especialistas do laboratório de coquetelaria da centenária multinacional italiana estavam em busca da bebida nacional que fizesse a combinação que eles consideram perfeita com o Aperol, um destilado de laranja e ervas aromáticas que serve de base para o drink Spritz, o quinto mais consumido no mundo.

Entre as 15 marcas que foram compradas por eles para o experimento, uma foi aprovada: a Lovin’ Wine, marca gaúcha de vinhos em lata com apenas dois anos de existência. “Temos uma barreira grande do Aperol Spritz em razão da necessidade de abrir uma garrafa de espumante para o preparo”, diz Gustavo Rela Bruno, diretor-geral da Campari no Brasil, em entrevista ao NeoFeed.

A parceria com a Lovin’ foi a maneira que a Campari encontrou de entrar na onda do Ready to Drink (RTD) com o Aperol no Brasil. Em outros países, a Campari vende o Aperol Spritz pronto, em garrafas individuais, com o espumante desenvolvido pela própria empresa.

É como a Diageo faz com o Tanqueray Gin e Tônica e a Jack Daniels com o refrigerante de cola, drinks que já estão presentes no mercado nacional. Mas a decisão da multinacional italiana foi encontrar um parceiro no Brasil para vender um combo em uma embalagem, com a garrafa e a lata separadas para que o mix seja feito pelo consumidor.

Esse mercado de coquetéis prontos para consumo é estimado em US$ 800 milhões em todo o mundo e tem projeção de crescimento de 12% ao ano nos próximos cinco anos. O Brasil está entre os 10 mercados mais importantes, que concentra 85% do volume global, segundo a consultoria IWSR. E a expansão nesses países, especificamente, é de 24%, o dobro da média mundial.

A sinergia entre Campari e Lovin’ é justamente no volume dos líquidos à venda. Uma garrafa aberta de espumante dificilmente é consumida poucas horas depois, ao contrário de refrigerantes usados em outros tipos de drinks. A lata do vinho garante que não haverá desperdício e possibilita novas aquisições para persistir nessa mixologia com o Aperol.

“Uma garrafa de espumante permite fazer cerca de 13 Spritz, algo que uma pessoa não bebe sozinha. Com a lata do espumante, são três drinks, a dose exata do consumo fora de casa. Com isso, o tíquete fica menor e diminuímos a barreira de entrada”, diz João Paulo Sattamini, CEO da Lovin’ Wine.

Lançada em agosto de 2020, a Lovin’ era uma startup no modelo DNVB (Digitally Native Vertical Brand), ou seja, cuidava de todo o processo de fabricação à venda no seu e-commerce. Nesses dois anos e meio, foram mais de 500 mil vinhos em lata vendidos.

Esse modelo de negócio atraiu investidores como a gestora NVA, de Eduardo Glitz, Pedro Englert e Marcelo Maisonnave. Já foram três aportes, totalizando um investimento de R$ 6 milhões. Duas dessas rodadas foram realizadas via Captable. Em 2021, a captação de R$ 2 milhões pela plataforma de crowdfunding demorou menos de 24 horas para encerrar.

A parceria com a Campari é fundamental na estratégia de crescimento da Lovin’ em 2023. “A meta neste ano é triplicar o volume do negócio. Essa parceria deve representar de 20% a 30% das vendas”, afirma Sattamini, que concluiu outra parceria, com a Gol Linhas Aéreas. Desde dezembro, seus vinhos em lata são oferecidos em duas rotas internacionais: Buenos Aires, na Argentina, e Punta Cana, na República Dominicana.

A startup vai se beneficiar do sistema de distribuição para entrar com força em todas as regiões do País. Isso porque em abril do ano passado, na mesma época em que os testes com as marcas de espumantes começaram, a Campari anunciou que sua logística passaria a ser comandada pelo Sistema Coca-Cola, a mesma que faz as entregas da marca de refrigerantes e da cerveja Heineken pelo Brasil. As embalagens de Aperol Spritz com Lovin’ começaram a aparecer em dezembro nos pontos de venda das principais redes varejistas do País, como Pão de Açúcar e Carrefour.

A Lovin’ começa a sentir a mudança na sua operação e as vendas offline já estão próximas de ultrapassar a online. Na projeção da Campari, a expectativa é que essa parceria mexa com o mix do Aperol. Se hoje 80% do volume é destinado a bares e restaurantes e apenas 20% para residências, a Campari estima que essa combinação esteja em 60% a 40%, respectivamente, em dois anos.

O Apperol é um fenômeno global para a Campari. Na divulgação de resultados do terceiro trimestre do ano passado, a bebida registrou um crescimento orgânico de 31,4% em todo o mundo. Foram 10,2 pontos percentuais acima da expansão média das seis marcas consideradas carro-chefe pela companhia. O valor de mercado na bolsa de Milão é de 11,5 bilhões de euros.