A Organização das Nações Unidas (ONU) projeta que 68% da população mundial viverá em cidades até 2050. Atualmente, 55% vivem em áreas urbanas. O desafio global é incluir essas pessoas em locais já densamente ocupados. Para a proptech Planet Smart City, é possível tanto cuidar do déficit habitacional como criar novos projetos sustentáveis.

“Há um desafio de operar no déficit de moradias, o que é uma oportunidade de negócio, mas também com planejamento para novos projetos. No Brasil, se isso não for feito, o número de favelas aumenta”, diz a italiana Susanna Marchionni, CEO da Planet Smart City no Brasil.

Criada em 2015 por Susanna e Giovanni Savio, dois especialistas com mais de 25 anos de experiência em real estate, eles decidiram fundar a empresa após uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Milão sobre os impactos dos tipos de moradia nas cidades. E perceberam que era possível alcançar uma economia de escala em projetos para a baixa renda.

Começaram a Planet Smart City com € 41 milhões de recursos próprios, de familiares e amigos e buscaram oportunidades pelo mundo. Além da Itália, há filiais no Reino Unido e na Índia. No Brasil, existem sete projetos em Aquiraz, no Ceará; São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte; e em São Paulo.

“O segredo do real estate é a compra dos terrenos”, diz Susanna. “Aqui entramos no projeto Minha Casa Minha Vida, que tem subsídio, oferecendo qualidade para as pessoas, com serviços e tecnologias simples que mudam a vida e o comportamento dos moradores.”

A primeira cidade inteligente foi construída a 55 quilômetros de Fortaleza. Chamada de Smart City Laguna, o bairro ocupa um espaço de 330 hectares e é composto por 7 mil lotes. O projeto prevê a circulação de 25 mil pessoas, mas as construções são feitas por fases para não provocar nenhum tipo de gargalo.

planet smart city casa aquiraz
Casa projetada pela Planet Smart City em Aquiraz, no Ceará

Com casas que variam de 57m² a 85m², a infraestrutura oferecida é de alto padrão, mesmo sendo voltada para a baixa renda. O entorno conta com biblioteca, bicicletas compartilhadas, câmeras de monitoramento, cinema e wi-fi gratuitos e iluminação pública inteligente (parte é gerada via energia cinética na academia do bairro). O tíquete médio é de R$ 55 mil para loteamentos e R$ 150 mil para imóveis prontos para morar.

No fim de maio, o Smart City Laguna recebeu um subsídio de um programa da ONU para o uso sustentável de energia. Com verba de US$ 1 milhão, painéis fotovoltaicos com gerenciamento digital de energia serão instalados em cerca de 150 casas.

“O condomínio fechado é um conceito brasileiro. O que fazemos, de certa forma, é gestão social”, afirma Susanna.

Um plano que dá retorno

A Planet Smart City tem uma Taxa Interna de Retorno (TIR) de 30%. No ano passado, o faturamento no País foi de R$ 295 milhões, um crescimento de 21% em relação a 2021. A projeção para este ano é um Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 300 milhões.

A empresa ganha dinheiro de duas maneiras: com a venda de terrenos ou imóveis e com a participação pelos serviços oferecidos com os projetos (a empresa fica pelo menos dois anos fazendo a gestão dos espaços). Como todos os moradores têm acesso a um aplicativo do bairro, a Planet Smart City, por exemplo, negocia ofertas exclusivas com empresas para os moradores. Em troca, recebe um rebate das vendas.

Neste ano, a proptech reservou R$ 1,5 milhão para investir em uma área de consultoria para edifícios residenciais no Brasil. A Planet Idea quer levar para clientes de alto padrão o mesmo tipo de serviço oferecido nas habitações sociais.

Os dois primeiros projetos-piloto serão implementados em São Paulo e Fortaleza, locais onde a empresa já atua com cidades inteligentes proprietárias.

“A ideia com esse novo braço é ‘smartizar’ outros condomínios já existentes no mercado, além de ajudar construtoras a desenvolver projetos com esse foco”, afirma Susanna.

Até o ano que vem, a CEO da Planet Smart City diz que tudo a ser feito “é puro investimento”. Mas que o lucro do negócio está projetado para 2025. E a ideia é listar a proptech em dois ou três anos na Nasdaq.