Enquanto os tradicionais bancos vêm enxugando o número de agências nos últimos anos, o Sicoob pegou a direção contrária e tem acelerado a abertura de postos de atendimento. Neste segundo semestre, o plano do maior sistema cooperativo do País é inaugurar 89 unidades - cerca de uma a cada dois dias.

O foco da expansão são as regiões Norte e Nordeste, em que o Sicoob possui uma presença menor quando comparada com o Sul e o Sudeste – a instituição financeira cooperativa não divulgou a divisão dos postos de atendimento por geografia.

“Para o nosso negócio, economia de escala é muito importante”, diz Marco Aurélio Almada, presidente do Sicoob, ao NeoFeed. “Para alcançarmos níveis de escala equivalentes ao que é praticado por cooperativas no mundo desenvolvido, precisamos avançar [fisicamente].”

Esse ritmo acelerado de novos postos de atendimento se somará às 62 unidades abertas em 17 Estados no primeiro semestre de 2024. Com esses 151 novos postos de atendimento, o Sicoob elevará sua rede para 4,8 mil unidades, ampliando a distância para o Banco do Brasil, banco com a maior quantidade de agências físicas no País, com 4.007 unidades, segundo dados do Banco Central (BC).

Desde que as fintechs começaram a surgir com força nos últimos dez anos, o mercado bancário teve que se mexer para conseguir competir com essas startups, que têm como vantagem competitiva serem mais leves em termos de ativos.

Um levantamento da gestora Tivio, a partir de dados do BC, mostra que a quantidade de pontos de atendimento dos cinco maiores bancos do País recuou em cerca de 30% entre 2016 para 2024, a 14 mil.

Esse enxugamento das unidades físicas, porém, não representa uma tendência para todo o mercado financeiro. O Sicoob entende que o investimento em postos físicos atende a demanda de pessoas que ainda preferem resolver suas questões financeiras de maneira presencial.

É bom frisar que os postos cooperativos são estruturas mais simples do que as agências bancárias e não contam com serviços como câmbio e operações de tesouraria.

Almada destaca que o cooperativismo financeiro é um movimento essencialmente de lugar e proximidade, sendo um diferencial em relação aos bancos. “As pessoas não querem banco, elas querem atendimento bancário”, afirma Almada.

Atuação em expansão

A importância de se ter uma presença física relevante vem também da estratégia adotada pelo Sicoob nas últimas duas décadas para expandir sua atuação pelo País, baseada no atendimento de quatro frentes que não eram servidas pelo sistema tradicional e que se beneficiam de ter atendimento presencial.

Um deles é o produtor rural de pequeno e médio porte, que necessita de crédito para produção, mas sem espaço nos grandes bancos, mais interessados na grande indústria e grandes fazendeiros.

O mesmo ocorre para micro e pequenas empresas, outra frente que o Sicoob busca atender. A terceira são as pequenas cidades, que sofreram com o fechamento das agências dos grandes bancos, prejudicando aposentados que buscam sacar sua aposentadoria, ou então pessoas que preferem pagar boleto fora da internet. E a quarta é crédito para pessoa física sem consignação.

Marco Aurélio Almada, diretor-presidente do Sicoob

“Esses quatro segmentos foram muito propícios ao nosso crescimento”, diz Almada, destacando que o Sicoob respondeu por 45% do crédito para essas frentes dentro do sistema cooperativo. “O nosso racional estratégico sempre foi ocupar as lacunas deixadas pelo sistema financeiro, pelos bancos privados.”

O crescimento do Sicoob vem sendo cada vez mais visível nos últimos tempos, resultado do esforço de organização do sistema cooperativo nos últimos 27 anos, que atualmente conta com mais de 330 cooperativas de crédito singulares e 8 milhões de cooperados.

Almada conta que o Sicoob começou a deslanchar quando organizou as cooperativas sob uma única entidade, passo necessário para obter ganho de escala, formou colaboradores e coordenou processos, buscando unidade na forma de atuação. “As cooperativas pregavam a cooperação entre os cooperados, mas elas não cooperavam entre si”, diz.

Além da organização interna, Almada diz que o crescimento do Sicoob também dependeu de avanços regulatórios feitos no período.  O resultado desse trabalho pode ser visto no ano passado, quando o Sicoob obteve um lucro recorde, registrando um montante de R$ 8,4 bilhões em resultados contábeis, um aumento de 16,4% em relação a 2022.

Os ativos totalizaram R$ 298,4 bilhões, alta de 25%. As operações de crédito, como empréstimos e financiamentos, tiveram um crescimento de 14% no último ano, resultando em uma carteira de crédito total R$ 168 bilhões. O Sicoob, inclusive, viu a carteira ultrapassar a marca dos R$ 200 bilhões nos primeiros seis meses do ano, chegando a R$ 206,9 bilhões.

“O ritmo de crescimento e os ganhos sucessivos de mercado continuam sem sinais de que vamos ter uma inclinação para baixo da curva”, diz Almada. “Estamos vendo crescimento acima da média do mercado e deve permanecer assim por mais um tempo.”

Apesar da aposta na presença física, o Sicoob também vem investindo na oferta de serviços virtuais, com aplicativo oferecendo a possibilidade de investimentos e serviço de home broker.

“Produtos que o varejo consome, que produtor médio e pequeno consome, o produtor rural consome, a pessoa física consome, não temos déficit estrutural”, diz. “O ciclo da transformação digital ficou para trás.”

Mesmo destacando que o Sicoob não é banco, Almada apontou algumas prioridades estratégicas do Sicoob para o curto e médio prazo que se assemelham às preocupações e planos dos bancos tradicionais.

Segundo ele, o momento atual envolve melhorar a experiência do usuário e conquistar a principalidade, que no Sicoob passa por fortalecer o figital e desenvolver propostas de valor aderentes às quatro frentes de clientes.

“Esse é o game de todas as instituição para 2024, porque as pessoas estão fazendo experiências com diversos bancos. Então, se as pessoas têm contas em cinco bancos, que o meu seja a principal”, afirma Almada.