O setor de fabricação de aeronaves já sentiu o primeiro golpe do tarifaço global imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. E isso pode favorecer a brasileira Embraer.
A companhia suíça Pilatus anunciou a suspensão da entrega de seus jatos modelo PC-24 para o mercado americano, citando as novas tarifas que colocam a empresa em “significativa desvantagem competitiva”, segundo informou a companhia suíça.
A questão é que a Suíça foi taxada em 39%, sobre os valores cobrados em produtos do país que chegam ao território americano. Porém, ao contrário da Embraer, que conseguiu entrar na lista dos itens isentos da cobrança de 50% sobre as exportações brasileiras, a empresa europeia não recebeu esse benefício do governo Trump.
Dessa forma, a potencial demanda para o mercado dos Estados Unidos, pelo menos em um primeiro momento, pode ser direcionada para a fabricante de aeronaves brasileira, com sede em São José dos Campos (SP).
“O PC-24 é o principal concorrente do Phenom 300E da Embraer, e esse desenvolvimento pode ajudar a induzir uma mudança de demanda, no curto prazo, para a alternativa brasileira no mercado americano, reforçando ainda mais o forte momento comercial e operacional da Embraer”, diz relatório do BTG Pactual.
Nesse sentido, o mercado financeiro parece já ter precificado essa possível vantagem da Embraer sobre a concorrente europeia. Na Nyse, as ações da fabricante de aeronaves operam em alta de 2,52%, por 11h30 (horário local) de terça-feira, 12 de agosto. Na B3, os papéis registram valorização de 1,9% na B3.
No documento, assinado pelos analistas Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Samuel Alkmin, o “vento favorável” para a Embraer está também no fato de que o modelo que compete diretamente com o jato da Pilatus tem fabricação americana. Com isso, o BTG reitera a recomendação de compra das ações.
“O Phenom 300E da companhia, já o jato leve mais vendido nos Estados Unidos, deve se beneficiar não apenas da redução da pressão competitiva, mas também de sua produção totalmente localizada em Melbourne, Flórida, o que o protege das tarifas recém-impostas”, diz o texto.
“Além disso, o fato de as aeronaves da Embraer e da Airbus terem sido isentas dos aumentos tarifários nos Estados Unidos pode fornecer um precedente legal e diplomático para que a Pilatus conteste as atuais restrições comerciais”, complementam os analistas do BTG.
Na competição com os demais concorrentes globais, o modelo de jatinho da Embraer tem 36% de participação de mercado, o que corresponde a 65 unidades comercializadas. A Pilatus, com seu PC-24, vem atrás com 28% de market share (51 unidades). Logo depois vem a americana Textron, com três modelos que possuem 15%, 13% e 8% de participação.
Até para tentar diminuir o impacto da perda temporária deste mercado, a Pilatus pretende redirecionar pedidos e entregas para outros mercados internacionais. Junto à essa decisão, a companhia suíça decidiu intensificar sua estratégia de marcar terreno em solo americano, com planos para estabelecer uma fábrica de montagem final na Flórida.
Do total de vendas da Pilatus em 2024, o continente americano registrou 46% de participação. A Europa ficou em segundo, com 29,6%. Ásia ficou com 14%, seguido por Austrália, na Oceania (8,4%) e África (2%).
No segundo trimestre, a companhia brasileira reportou carteira de pedidos da ordem de US$ 29,7 bilhões, um volume recorde da empresa. No período, também informou a entrega de 57 aeronaves, sendo 38 da aviação executiva (17 do Phenon 300) e 19 da aviação comercial.
Entre abril e junho, a empresa registrou receita líquida de R$ 10,27 bilhões, alta de 30,8% sobre os R$ 7,84 bilhões reportados no segundo trimestre de 2024. O Ebitda ajustado foi de R$ 1,39 bilhões, contra R$ R$ 995 milhões na mesma base do ano anterior. O lucro no período foi de R$ 675 milhões, 62,37% acima do registrado no mesmo período de 2024.
A estimativa do BTG para a Embraer é de uma receita líquida de US$ 7,45 bilhões (cerca de R$ 40,23 bilhões, na cotação atual) e um Ebitda de US$ 854 milhões. O preço-alvo das ações na bolsa dos Estados Unidos para os próximos 12 meses é de US$ 75. Hoje, está em US$ 59,23.
No acumulado de 2025, as ações da Embraer na B3 registram alta de 37,73%. A companhia está avaliada em R$ 58,7 bilhões.