Liderada pela BYD, a ofensiva dos carros elétricos chineses além do seu mercado doméstico vem encontrando barreiras no aumento recente das taxas impostas a esses veículos pelos Estados Unidos e na possibilidade de a Europa seguir o mesmo percurso.

Essas medidas, em tese, beneficiariam os fabricantes americanos e do Velho Continente. Mas, nesses dois grupos, há quem discorde que esse seja o melhor caminho e prefira “rodar” sem proteção. Esses são os casos da americana Tesla e da alemã Volkswagen.

“Sou a favor da ausência de tarifas”, afirmou Elon Musk, CEO da Tesla, na quinta-feira, 23 de maio, durante a sua participação na conferência VivaTech, que está sendo realizada nesta semana em Paris, na França.

O bilionário disse que não apoia as políticas anunciadas pelo governo de Joe Biden na semana passada. Entre outros produtos de origem chinesa, o presidente americano elevou a taxa de importação de carros elétricos de 25% para 100%, em mais um capítulo da guerra comercial entre os dois países.

Ao adotar essa medida, a Casa Branca ressaltou que os subsídios concedidos pelo governo chinês estão permitindo que os fabricantes locais produzam um volume bem acima do que a demanda interna consegue absorver, e a um custo bastante reduzido.

“Nem a Tesla nem eu pedimos essas tarifas. Sou a favor da ausência de taxas e de incentivos para veículos elétricos ou para petróleo e gás”, afirmou Musk, que acrescentou. “A Tesla compete muito bem no mercado da China, sem taxas e nenhum subsídio.”

Essas palavras vão na contramão do que Musk disse em janeiro deste ano, durante a conferência de resultados da Tesla. Na ocasião, ele destacou que as fabricantes chinesas de veículos elétricos “atropelariam” os concorrentes de outros países caso não fossem adotadas barreiras comerciais.

Enquanto a postura dúbia de Musk deixa dúvidas acerca da sua verdadeira opinião sobre o tema, a União Europeia avalia uma possível elevação nas tarifas impostas aos carros elétricos dos fabricantes chineses.

Nesse contexto, Arno Antlitz, CFO da Volkswagen deixou clara a sua posição em postagem feita em seu perfil no LinkedIn. Nela, o executivo questionou a eficácia de uma eventual elevação dos impostos.

“O comércio livre, bem como os mercados abertos, são a base para a prosperidade, o emprego e o crescimento sustentável em todo o mundo. Assim, é muito questionável se a atual discussão tarifária nos levará na direção certa”, escreveu Antlitz, em 23 de maio.

O executivo ressaltou, porém, que a adoção de tal medida pode proteger os fabricantes europeus num primeiro momento, o que abre uma oportunidade para essas empresas. “Temos que aproveitar os próximos dois a três anos para nos tornarmos ainda mais competitivos em termos de custos”, afirmou.

A possibilidade de aumento das taxas sobre carros elétricos chineses começou a ser avaliada em setembro de 2023, quando a União Europeia anunciou que iria investigar os incentivos concedidos pelo governo da China às montadoras do país.

Na época, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse que continente estava aberto à competição, mas não “a uma corrida ao fundo do poço”.

“Os mercados globais estão inundados agora com carros elétricos mais baratos e os seus preços são mantidos artificialmente baixos por enormes subsídios estatais”, afirmou von der Leyen na ocasião, abrindo as portas para uma possível elevação nas barreiras a esses veículos no continente.

Atualmente, a Europa cobra um imposto de 10% sobre os veículos chineses. De 2020 a 2023, as importações de carros elétricos da China na região saltaram de um volume de US$ 1,6 bilhão para US$ 11,5 bilhões.

As medidas adotadas pelos Estados Unidos e em avaliação na Europa não devem ficar, porém, sem resposta. Nesta semana, a China sinalizou que pode impor uma tarifa de até 25% para os carros importados desses dois mercados. Atualmente, essa taxa é de 15%.