A evolução apresentada pelo Brasil nos últimos anos não foi suficiente para aumentar o fluxo de investimentos estrangeiros estratégicos ao País. Mesmo com as mais recentes reformas, a robustez das contas externas e os esforços do Banco Central (BC) em controlar a inflação, acertando o timming da política monetária, o dinheiro não tem vindo para cá.
Isso fica claro quando se olha para os recursos direcionados para a bolsa de valores. No acumulado do ano, o saldo é negativo em R$ 34,6 bilhões, segundo dados da B3, com o mercado tendo um dos piores desempenhos entre os emergentes.
As explicações invariavelmente acabam apontando para dois fatores: a situação fiscal e os juros extremamente elevados nos Estados Unidos. Mas para Axel Christensen, estrategista-chefe de investimentos para a América Latina da BlackRock, o principal fator para a aparente falta de interesse dos estrangeiros é o crescimento. Ou melhor, a falta dele, especialmente para o mercado de ações.
“A preocupação é como o Brasil pode entregar crescimento de longo prazo”, disse ele na quinta-feira, 6 de junho, durante painel no MKBR24, evento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e da B3. “Tivemos bons números [recentemente], mas se olharmos para as perspectivas de crescimento de longo prazo, não é forte o suficiente.”
Essa falta de perspectiva de expansão robusta e consistente dificulta a possibilidade de atrair investidores de longo prazo, fazendo com que o País perca espaço para outros mercados emergentes com projeções melhores.
Christensen cita os casos do México, que está se beneficiando do processo de nearshoring e da força da economia dos Estados Unidos, e da Índia, que apresenta boas perspectivas no segmento de tecnologia e com a demografia.
Para ele, o Brasil precisa de uma “narrativa sólida” de crescimento para voltar ao radar dos estrangeiros, considerando que o País é grande e tem setores bastante promissores. No primeiro trimestre de 2024, o PIB do Brasil avançou 0,8% (em linha com a expectativa do mercado), revertendo dois trimestres de crescimento virtualmente nulo).
“O País precisa demonstrar aos estrangeiros a força de seu crescimento em setores importantes para a expansão global, como as seguranças alimentar e energética”, afirmou o estrategista da BlackRock. “O Brasil precisa trabalhar para ter uma história interessante para atrair investidores.”
A volta do crescimento passa por resolver alguns dos velhos problemas que o Brasil possui. Segundo Daniel Popovich, gestor de portfólio da Franklin Templeton, as reformas aprovadas ajudaram a destravar valor na economia, mas ainda é preciso fazer mais para criar as condições para a expansão do País.
“É preciso reformas, para criar um ambiente de negócios mais favorável no Brasil”, afirmou. “O sistema legal é muito complexo, muito diferente do restante do mundo. O sistema tributário também é uma questão.”
Juros em patamares mais baixos também servirão de “vento de cauda” para a economia brasileira, segundo Popovich. E nisso, o equilíbrio fiscal é um fator essencial para estimular o crescimento da economia e, por consequência, atrair investidores estrangeiros para a Bolsa.
“O custo de capital para empresas brasileiras é muito alto e, com os juros caindo, será muito positivo ao Brasil”, afirmou. “Se vermos mais reformas, mais compromisso em com a política fiscal, talvez isso por si só possa gerar força para rever valuation e atrair investidores, para aumentar os investimentos na Bolsa.”