Enquanto a maioria das salas de aula do País segue vazia em função da Covid-19, no mercado de sistemas de ensino, a perspectiva é de muitas movimentações. Uma das provas desse cenário veio em agosto, com a abertura de capital da Somos, braço B2B de educação básica da Cogna, na Nasdaq.
Dona de marcas como Anglo, Pitágoras e Maxi, a companhia captou R$ 2 bilhões, de olho em aquisições. Em caminho semelhante, em 2018, a Arco Educação levantou R$ 780 milhões em seu IPO, também na Nasdaq, e, desde então, vem reforçando seu foco no crescimento inorgânico.
Com mais de 140 mil alunos, em mais de 480 escolas de todo o País, o Sistema de Ensino Poliedro se mantém independente diante desse cenário iminente de consolidação. E entende que essa posição lhe dá algumas vantagens na disputa com os gigantes do setor.
“É um desafio ser um peixe no meio dos tubarões e não ter o mesmo poder de fogo”, diz Artur Costa, diretor-executivo do Sistema de Ensino Poliedro, ao NeoFeed. “Ao mesmo tempo, temos liberdade para buscar disrupções sem ter que dar retorno de curto prazo para os investidores.”
Com menos amarras, uma das grandes apostas do Poliedro para preservar seu espaço e seguir relevante é uma nova plataforma, cujo lançamento foi revelado com exclusividade ao NeoFeed. A ferramenta vai ao encontro da reforma do Ensino Médio, que entra em vigor em 2021.
A regulamentação prevê a oferta de disciplinas obrigatórias combinadas com conteúdos específicos em quatro áreas de conhecimento: Linguagens; Matemática; Ciências da Natureza; e Ciências Humanas e Sociais.
No primeiro caso, a carga máxima será de 1,8 mil horas. Já a segunda vertente, que reunirá itinerários formativos, deverá ter, no mínimo, 1,2 mil horas. As escolas terão até 2023 para adaptar os três anos do ensino médio a esse novo formato.
“Vamos oferecer uma espécie de Netflix da educação”, afirma Costa, sobre a nova plataforma de itinerários formativos do Poliedro, que traz trilhas de aprendizado nas áreas propostas pela reforma e já conta com 1,2 mil horas de conteúdo produzidas em temas como Empreendedorismo, Gamificação e Brasilidades.
A plataforma também permite que os professores dos colégios clientes criem conteúdos. A decisão de restringir esse material aos seus alunos ou compartilhá-lo com toda a rede de escolas da base é do docente. Nesse último caso, o modelo prevê a compra dos direitos de uso pelo Poliedro.
A nova plataforma do Poliedro já conta com 1,2 mil horas de conteúdo produzidas em temas como Empreendedorismo, Gamificação e Brasilidades
O modelo de venda também segue a inspiração do Netflix. As escolas parceiras pagarão R$ 800 pela assinatura anual de cada aluno. Pelo mesmo preço, alunos e colégios fora da rede poderão acessar a solução. “A plataforma pode abrir outras portas de entrada para ampliarmos nossa base de escolas”, diz Costa.
A princípio, não haverá um aplicativo do serviço. No caso do acesso via smartphones ou outros dispositivos além de notebooks e PCs, a ferramenta é responsiva e se adapta à tela em questão.
Operação de guerra
Em desenvolvimento desde 2009 e com a perspectiva de seguir criando conteúdos, a plataforma contou com o envolvimento de mais de 100 funcionários do Poliedro, entre pedagogos, professores e a equipe de tecnologia. No total, o grupo tem um quadro de mais de 1,3 mil profissionais, levando-se em conta as operações de sistema de ensino, os colégios próprios e o curso pré-vestibular.
Esse mesmo time responsável pela nova plataforma integrou a operação de guerra montada pelo sistema, a partir da chegada da pandemia e o fechamento progressivo das escolas atendidas pela rede. “Nós trabalhamos de domingo a domingo para colocar em pé um ambiente virtual de aprendizagem”, conta Costa.
A plataforma em questão envolveu desde recursos para ministrar aulas ao vivo até plantões de dúvida e conteúdos e trilhas gravadas por disciplina. Além de ferramentas para facilitar o controle das escolas e professores nessa nova realidade.
“A pandemia foi um catalisador para furar a bolha do mercado de educação básica, que ainda é muito tradicional”, diz Paulo Presse, coordenador de estudos de mercado da Hoper. Segundo a consultoria, o setor movimentou R$ 75,6 bilhões no País em 2019, sendo que 6%, ou R$ 4,5 bilhões, vieram dos sistemas de ensino.
Ele entende que Somos e Arco, mais capitalizadas, largam na frente nesse cenário de esperado aumento da demanda por digitalização. Mas faz uma ressalva: “O mercado tem muitas marcas regionais fortes”, afirma. “E o pós-pandemia vai trazer muitas oportunidades de inovação. A competição está aberta.”
Para Costa, um dos desafios nesse contexto é justamente uma das vias que o Poliedro planeja explorar. “Há uma mudança de paradigma no setor”, diz o executivo. “O mercado vai ter que sair desse modelo padronizado, de sistematização, para construir plataformas de aprendizagem personalizada.”
Segundo a consultoria Hoper, o mercado de educação básica movimentou R$ 75,6 bilhões no País em 2019. Desse montante, 6% vieram dos sistemas de ensino
Ele ressalta que o Poliedro tem quatro grandes projetos em andamento nessa direção. Uma das iniciativas, uma plataforma de aprendizagem adaptativa de matemática, já está sendo testada no decorrer desse ano com cerca de 200 alunos de colégios próprios do grupo Poliedro, que, além de São Paulo, mantém duas escolas em São José dos Campos e Campinas, no interior do estado.
A plataforma em questão inclui algoritmos que estabelecem o nível de conhecimento de cada aluno na disciplina. E a partir dessa análise, sugere atividades personalizadas para a evolução de cada estudante, com o uso de recursos de gamificação.
Depois do projeto piloto, o plano é estender a ferramenta para todas as escolas atendidas pelo Poliedro em 2021, do quinto ao nono ano do ensino fundamental.
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