Desde que a Comissão de Valores Mobiliários estabeleceu as primeiras diretrizes sobre tokenização de ativos financeiros, em 2020, o tema vem ganhando espaço entre as companhias como uma opção para levantar recursos. Quem decidiu encarar esse mercado foi a PraValer, que anunciou uma captação de R$ 60 milhões, nesta terça-feira, 19 de julho.
A fintech de crédito educativo privado realizou a emissão de 60 mil debêntures tokenizadas, precificadas a R$ 1 mil a unidade, todas elas adquiridas por investidores. A Vórtx QR Tokenizadora – joint venture entre a Vórtx, fintech de infraestrutura para o mercado de capitais, e a QR Capital, holding do setor de blockchain e criptoativos – foi a responsável pela operação. O Itaú BBA atuou como coordenador.
Segundo Haroldo Carvalho, CFO da PraValer, a opção de realizar uma emissão de debêntures tokenizadas partiu de conversas com o Itaú, um dos seus principais acionistas, dono de uma fatia 42,5% de participação da empresa.
Ele conta que já tinha lido sobre esse tipo de operação durante o auge da pandemia, e quando o banco trouxe a ideia desse formato de captação, achou que poderia encaixar no propósito de buscar financiamento para expandir a atividade da empresa.
“A gente conversou bastante e identificou como algo alinhado ao nosso DNA de inovação, que estava competitiva em termos de custos, tinha tudo que a gente precisava para esse momento”, afirma Carvalho ao NeoFeed. “Vimos como algo simples, seguro e descentralizado.”
Segundo ele, os recursos da emissão serão utilizados para o desenvolvimento da estrutura de tecnologia e realizar novas aquisições. A fintech experimentou o mundo de fusões e aquisições pela primeira vez no ano passado, com a aquisição da edtech Amigo Edu, e tem planos de continuar expandindo o portfólio de produtos.
Uma das vantagens da operação tokenização de debêntures para o emissor é a questão do custo, diz Juliano Cornacchia, CEO da Vórtx QR Tokenizadora. Segundo ele, a plataforma da empresa, em que a emissão é realizada, permite reduzir a quantidade de intermediários e descentralizar todo o processo, estimando que uma captação via debêntures tokenizadas pode ser 35% mais barata do que formatos tradicionais.
“Como a gente não tem uma depositária central, por exemplo, a nossa infraestrutura é infinitamente mais leve do que o que existe atualmente, permitindo que a gente seja mais ágil e barato”, diz Cornacchia.
Esta é a terceira emissão feita na plataforma da Vórtx QR Tokenizadora, lançada no começo de junho. Primeiro sistema baseado em tokens para o mercado regulado de capitais, a empresa realizou duas emissões naquele mês, também com coordenação do Itaú BBA.
Uma foi a emissão de 74 mil debêntures tokenizadas da Salinas Participações, no volume de R$ 74 milhões. A outra foi uma emissão de 8 mil cotas do fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) QR Rispar Crédito Cripto, lançado pela QR Asset, em uma operação de R$ 8 milhões.
A plataforma e as emissões operam dentro do âmbito do sandbox da CVM, em que a autarquia convoca empresas a proporem projetos que desafiem a regulação vigente do órgão. O regulador autorizou que a Vórtx QR Tokenizadora cadastre 12 empresas para que realizem emissões na plataforma, com as operações restritas a debêntures e cotas de fundos fechados.
Cornacchia afirma que a demanda de companhias por emissões desse tipo está alta, demonstrando otimismo em fechar o ano preenchendo as 12 vagas permitidas, com um total R$ 1 bilhão em ativos emitidos na plataforma.
“O mercado está dando os primeiros passos”, afirma Cornacchia. “Se formos ver, a plataforma foi lançada em junho, tem um mês e pouco de atividade, mas tem muita gente perguntando, com todo mundo procurando uma alternativa para ter um mercado mais desintermediado e barato.”
Apesar de pioneira na tokenização de ativos financeiros em mercados regulados, a Vórtx QR Tokenizadora deve começar a ganhar concorrência nessa área, ainda que seja de seu atual parceiro nas três emissões. O Itaú anunciou na quinta-feira, 14 de julho, o lançamento da Itaú Digital Assets, área que será responsável por ampliar o uso da tokenização de ativos da instituição.
A possibilidade de realizar novas emissões tokenizadas é algo que a PraValer deve considerar para o futuro, segundo Carvalho, destacando que não há planos imediatos neste sentido. A companhia é gestora de alguns FDICs para financiar sua carteira de estudantes, tendo captado R$ 350 milhões nesta modalidade no ano passado.
“Eventualmente podemos conversar sobre a tokenização dos nossos FDICs. Essa experiência [com debêntures tokenizadas] rodando bem, acho que temos um caminho para fazer. E a gente enxerga muito o mercado de capitais indo para essa tendência, de blockchain e de tokenização”, diz Carvalho.