O Porto do Açu anuncia nesta segunda-feira, 12 de agosto, a assinatura de um Memorando de Entendimentos (MoU) com a Consag Engenharia, do Grupo Andrade Gutierrez, e a Vertin, controlada pela Consag, para estudar a viabilidade de implantação de data centers com até 1 gigawatt (GW) de capacidade no complexo porto-indústria, o maior do País, situado no litoral norte fluminense.

O memorando, obtido com exclusividade pelo NeoFeed,  será assinado em São Paulo durante o Prumo Day 2024, evento anual da Prumo Logística - responsável pelo desenvolvimento estratégico do Porto do Açu -, com painéis de discussão sobre agronegócio e transição energética, entre outros temas.

A fase inicial da parceria prevê análises de pré-viabilidade operacional e financeira, possíveis áreas e tipos de infraestrutura adequada, entre outros requisitos para a construção de data centers no complexo. Com esse estudo concluído, o passo seguinte seria apresentar a proposta a possíveis investidores.

Entre os principais tipos de data center que serão avaliados estão o de colocation, que provê infraestrutura compartilhada para várias empresas, e o de hyperscale, projetado para armazenar e processar uma quantidade enorme de dados e geralmente utilizado por grandes provedores de serviços de nuvem.

Em operação desde 2014, o complexo do Açu conta com 11 terminais e 22 empresas que atuam em setores estratégicos, como petróleo e mineração, e acaba de entrar no agronegócio, servindo como porto exportador de soja e milho transgênico.

A ideia seria aproveitar a construção no complexo das usinas GNA1 e GNA2 - que, juntas, formam o maior parque termelétrico a gás natural da América Latina, com obras tocadas pela Consag - e a expertise da Vertin, especializada na implantação de parques de data centers, para viabilizar essa nova frente de utilização do complexo, que ainda tem 44 km2 de área disponível para industrialização.

Eugênio Figueiredo, CEO do Porto do Açu, diz que o mercado de data centers, com potencial de 60% de crescimento nos próximos quatro anos, aliado à infraestrutura disponível e potencial de ampliação no complexo são fatores fundamentais para atrair investidores.

Ele cita o tripé capacidade de energia, água abundante de múltiplas fontes (incluindo de reuso industrial) e até a conectividade, com cabos de fibra ótica submarina próximos do porto, como diferenciais do Porto do Açu.

“Temos acesso à energia limpa com conexão ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e duas usinas térmicas a gás natural, uma já em operação, com 3 GW de capacidade, além de uma planta solar em desenvolvimento, de 220 megawatts (MW)”, afirma Figueiredo, citando a infraestrutura para suprir a alta demanda de energia exigida de data centers para armazenar dados nos servidores.

O executivo explica que a parceria com a Vertin, muito demandada por investidores do Brasil e do exterior para novos projetos de data centers, pode acelerar essa fase de estudos, com condições até de estruturar projetos sob medida até o fim do ano, de acordo com a demanda exigida.

“Estamos também mapeando outros modelos de negócios que podem se interessar em se instalar no Porto do Açu com a construção de um parque de datacenters”, afirma.

Em operação desde 2014, o complexo do Açu conta com 11 terminais e 22 empresas
Em operação desde 2014, o complexo do Açu conta com 11 terminais e 22 empresas

Em 2023, a Prumo anunciou um plano de investimentos de R$ 15 bilhões para os próximos dez anos, boa parte em energia verde, incluindo a criação do maior hub de hidrogênio verde do mundo. Há ainda previsão de investimentos em plantas de produção de biogás, de biometano e de biocombustíveis, além da construção de um gasoduto.

Mercado global

O Brasil é o principal mercado de data centers na América Latina. Segundo levantamento da Arizton Advisory & Intelligence, estão previstos investimentos de US$ 4,43 bilhões até 2028 em data centers no País.

Atualmente, há 51 unidades prontas no Brasil e outras 22 em construção, cada uma com capacidade acima de 5 MW.  O País responde por 1,4% do mercado global, que soma cerca de 12 mil data centers e é avaliado em US$ 350 bilhões.

Para se ter uma ideia da capacidade de até 1 GW sugerida no memorando de entendimento anunciado, os dois maiores data centers em construção na América Latina, pela Vertin, em São Paulo, somam 76 megawatts (MW) de capacidade.

Isso significa a opção de construir no complexo do Açu um parque com várias unidades, e algumas delas de grande porte, os data centers hyperscale, instalações gigantescas que lidam com grande volume de dados.

Essa possibilidade abre caminho para atrair data centers voltados para inteligência artificial (IA), algo que Figueiredo classificaria como “cereja do bolo” do projeto. “Estamos mirando mais projetos de hyperscale, com grande demanda”, despista.

Guilherme Odaguiri, diretor geral da Vertin, observa que o complexo do Açu possui, além de todas as características de infraestrutura para fornecer energia para um data center de grande porte, um cabo de fibra óptica de latência baixa – algo essencial para os servidores que processam grande quantidade de dados, como de IA.

O executivo da Vertin diz ser difícil avaliar o custo para erguer um parque de data center que ofereça 1 GW de capacidade.  Um data center voltado para IA, porém, exige 30% a mais de investimento.

“Mesmo os data centers hysperscale são atraentes para o Porto de Açu, porque as empresas que lidam com grande volume de dados fazem backup em outros países, e o Brasil é um país visado por não ter terremotos e outros tipos de desastres naturais”, diz Odaguiri.

O temor de o complexo não dispor de energia suficiente para incorporar um projeto de data center de IA – que utiliza de cinco a dez vezes mais eletricidade do que um equipamento voltado para provedores de serviço de nuvem – não assusta os responsáveis pelo projeto.

De acordo com Fernando Orsini, vice-presidente de Renováveis, Transmissão e Óleo e Gás da Consag Engenharia - construtora voltada para obras de energia -, como um data center exige fornecimento de energia elétrica 24 horas por dia e sete dias por semana, as usinas termelétricas a gás do complexo devem garantir fornecimento seguro ininterrupto e as plantas renováveis, apesar da intermitência, complementariam esse fornecimento.

“O investidor que atua no segmento de data centers busca justamente esse mix de fornecimento de energia, sendo que o Porto do Açu tem esse apelo pela sustentabilidade”, diz Orsini.