Desde agosto deste ano, Carlos Augusto Piani, ex-CEO da PDG e da Equatorial e com passagens pelo Banco Pactual, Vinci Partners e Kraft Heinz, tem feito um trajeto diferente em seu dia a dia. Ele sai de São Paulo e vai para Cotia ou Santana do Parnaíba, cidades próximas à capital paulista.
É nestas duas pequenas cidades que Piani está voltando a assumir o cargo de CEO, depois de tirar do papel o SPAC HPX (que levantou US$ 250 milhões e se fundiu com a Ambipar Responde para abrir o capital na Bolsa de Nova York em março deste ano) e de uma longa carreira como conselheiro (ele ainda atua no board de Ambipar, Equatorial, Hapvida e Bemobi).
Piani está à frente da Modular, uma empresa que constrói data center modulares fundada por Marcos Peigo e Alinie Mendes, dois profissionais com longa trajetória no setor de tecnologia (Peigo é atualmente CEO da Scala Data Centers e sócio do fundo americano DigitalBridge e Mendes atuou na UOL/Diveo).
“Acompanho esse investimento há algum tempo e, dado que acabou o ciclo do SPAC, agora é uma oportunidade para acelerar o crescimento da Modular”, diz Piani, com exclusividade ao NeoFeed.
A Modular é uma espécie de "Lego" dos data centers. Em vez das empresas construírem data centers gigantes, a companhia que Piani agora toca faz isso, como o próprio nome diz, de forma modular. A vantagem não é o custo, mas o tempo de construção, que cai de, pelo menos, dois anos para seis meses.
E, como a construção é feita em módulos, a empresa que está erguendo o data center (que é essencialmente uma obra de engenharia civil) pode ir encaixando os blocos como se fosse um Lego e se expandir conforme os contratos com os clientes forem fechados.
Com esse modelo de negócio, a Modular está também crescendo de forma acelerada. Em 2020, quando foi fundada ao comprar a propriedade intelectual e uma unidade industrial da Gemelo, em Mococa, no interior de São Paulo, a companhia faturava R$ 20 milhões. Desde o começo deste ano, tem R$ 600 milhões contratados até meados de 2024. O número de funcionários saltou de 50 para 800.
Para dar conta dessa demanda, a Modular tem três fábricas. Uma delas está em Cotia, com 7 mil metros quadrados de área fabril. Duas estão sendo inauguradas agora em Santana do Parnaíba, com 40 mil metros quadrados somadas. A unidade de Mococa foi fechada.
“As duas novas unidades devem estar 100% operacionais em outubro”, diz Alinie Mendes, que ficou à frente da Modular até a chegada de Piani. “Já temos clientes na América Latina para atender.” Agora, com o novo CEO, ela vai se focar cada vez mais na parte operacional como COO da Modular.
A missão de Piani é levar a Modular para outras geografias, bem como ajudar na captação de recursos para esse novo passo. “O Piani é qualificado como gestor, já se provou em negócios diferentes, fez IPO e sabe acessar o mercado de capitais nacional e internacional”, diz Peigo, que nunca teve uma função executiva na Modular – hoje, ele é o chairman do board.
Até agora, os recursos para tirar a Modular do chão vieram de alguns investidores pessoas físicas, incluído o próprio Piani. E não foi pouco dinheiro: US$ 80 milhões. Quase metade desses recursos foi de investimento dos sócios. Outro montante foi conseguido através de financiamento de fornecedores e de linhas de crédito levantadas no mercado financeiro.
Os recursos foram investidos para atrair profissionais de empresas como Embraer, Vale e GE, Siemens e IBM à diretoria da Modular e a na ampliação de capacidade industrial para atender os contratos. Os clientes são variados, desde empresas de telefonia e órgãos públicos até grandes nomes globais do setor de data center.
Agora, a Modular está se preparando para expandir para os Estados Unidos e Europa. E para isso vai precisar buscar capital, missão na qual Piani tem também larga experiência. No Pactual, ele comandou um fundo de tecnologia. E na Vinci Partners estruturou a área de private equity.
A lógica da expansão internacional não é construir uma fábrica e sair caçando clientes. O objetivo é exatamente o contrário: ganhar os contratos e, só depois, começar os investimentos para construir as peças do Lego dos datas centers. “Já estou prospectando terreno nos Estados Unidos”, diz Piani.
Mas o que motiva esse otimismo? A resposta é simples. Embora o nome dos clientes da Modular estejam protegidos por contratos de sigilo, não há tantas empresas de porte global que atuam nesse mercado. São companhias como AWS, Google, Meta, Oracle e Microsoft. “Um desses clientes homologou a nossa solução”, diz Piani, referindo-se a uma empresa global.
Outra razão para essa confiança é o setor na qual a Modular está inserida. O mercado global de data centers modulares movimentou US$ 23 bilhões em 2022, segundo dados da consultoria MarketsAndMarkets. Em 2030, a estimativa é que chegue a US$ 88 bilhões.
“A Ásia/Pacífico e a América Latina são regiões com oportunidades inexploradas porque terão altas taxas de adoção”, diz um trecho do relatório da MarketsAndMarkets.
Esse setor se beneficia também da expansão da infraestrutura digital, como a tecnologia 5G e a inteligência artificial. Essas duas tendências tecnológicas ajudam a explicar a explosão por dados e – por consequência direta – de data centers.
Os concorrentes globais da Modular são companhias de grande porte como a francesa Schneider, a chinesa Huawei e a americana Vertiv, que vale US$ 14,6 bilhões na Bolsa de Nova York. Mas esta última fez um acordo com a Modular na América Latina. E as outras duas tem múltiplos negócios e não são 100% focadas em data centers modulares.
O diferencial da Modular, segundo Alinie Mendes, é o fato de ter a empresa desenvolvido uma tecnologia que aumentou a escala dos datas center modulares.
Os concorrentes da companhia brasileira, em geral, atuam no que ficou conhecido no mercado de “data center em um contêiner”. A referência não é gratuita, pois os módulos são construídos respeitando as medidas de um contêiner.
A Modular foi além e fez módulos maiores, que podem ser usadas em estruturas chamadas edge, que são data centers menores e que ficam na ponta. Os clientes são, em geral, empresas de telefonia que usam essas estruturas nos locais onde instalam suas antenas. E, com a tecnologia 5G, vai ser necessário muitas mais antenas do que no 4G.
Ao mesmo tempo, a Modular desenvolveu módulos para os data centers chamados de hyperscaling, que são dimensionados para uma demanda crescente e são construídos por empresas globais para atender clientes como Netflix ou Spotify, para citar dois exemplos de empresas que precisam desse tipo de infraestrutura digital.
Caberá, agora, a Piani, profissional formado em processamento de dados, mas que nunca atuou na área, a juntar todas essas peças desse Lego para tentar levar a Modular para outro patamar.