O mercado de ações do Japão está consolidando uma recuperação que não era vista desde que o país mergulhou em um longo processo de crise econômica no início dos anos 1990, que deu início à chamada “década perdida”, com sinais remanescentes até os dias de hoje, com deflação e juros negativos.
O índice Nikkei, o mais importante da Bolsa de Tóquio, ultrapassou na sexta-feira, 9 de fevereiro, a linha de 37.000 pontos pela primeira vez em 34 anos.
O iene fraco frente ao dólar e uma série de resultados empresariais positivos, liderada pelo SoftBank, Toyota entre outras empresas, puxaram o índice para cima, reforçando a confiança do mercado.
O resultado, em contraste com a queda do mercado de ações da China neste ano, pressupõe uma inversão entra as duas economias gigantes da Ásia.
Por trás da alta do dia na Bolsa de Tóquio está uma tendência que teve início há 18 meses, quando fundos globais que investiam nas bolsas chinesas começaram a migrar para o mercado japonês, em meio a preocupações em torno do fraco desempenho da economia da China e do mercado de ações local, que caiu mais de 10% este ano.
Os números do Ministério das Finanças mostram que os investidores estrangeiros compraram US$ 19 bilhões em ações japonesas desde janeiro, sendo que US$ 2 bilhões foram adicionados na semana passada.
Operadores do mercado financeiro japonês não esconderam a surpresa com o recorde do dia, atribuído principalmente à desvalorização do iene frente ao dólar no comércio asiático antes da divulgação da revisão dos dados de inflação dos EUA, aliada a algumas das compras estrangeiras mais intensas dos últimos anos.
"O iene mais fraco foi um vento favorável para as ações japonesas”, afirmou Shuutarou Yasuda, analista de mercado do Tokai Tokyo Research Institute, à agência Reuters.
Segundo ele, isso ocorreu depois que o ganho do iene em relação ao dólar limitou os ganhos do índice Nikkei no final do ano passado.
Um iene mais fraco ajuda os exportadores, pois aumenta o valor dos lucros estrangeiros em termos de ienes quando as empresas os repatriam para o Japão.
A ações da operadora da rede de varejo de roupas da marca Uniqlo, da Fast Retailing , por exemplo, lideraram as altas do dia, com 3,83% de valorização.
Mesma diretriz
Os bons números este ano do índice Nikkei reacenderam a esperança de que o mercado de ações do Japão tenha finalmente recuperado após o colapso da “era da bolha” há mais de três décadas.
Mas Shinichi Uchida, vice-governador do Banco do Japão (BoJ), o banco central japonês, deixou claro que a autoridade monetária japonesa deve manter a mesma diretriz dos últimos anos.
Falando aos líderes empresariais na quinta, 8 de fevereiro, Uchida disse que “mesmo que o banco colocasse um fim à política de taxas de juro negativas, é difícil imaginar um caminho no qual continuaria a aumentar rapidamente os juros”.
O mercado interpretou o comentário como um sinal de que a tão esperada “normalização” da política do banco central, após oito anos de taxas de juro negativas e controle da curva de rendimentos, não desencadearia aumentos dos juros, o que, por sua vez, impulsionariam o iene.
A crise japonesa teve início no fim dos anos 80, quando o iene se valorizou fortemente em relação ao dólar e os exportadores japoneses foram duramente atingidos. Para reverter a crise econômica, o BC japonês continuou cortando as taxas de juros, injetando liquidez maciça nos mercados de ações e imóveis.
Quando a bolha estourou, deixou um rastro de bancos em dificuldades e dívidas corporativas excedentes, o que levou à estagnação econômica do Japão.