Mais uma dose. É claro que a maioria das pessoas está a fim. Mas ela não será em um bar por conta da pandemia da Covid-19. E isso tem influenciado a importação de bebidas alcóolicas no Brasil.
É o que demonstra uma pesquisa da consultoria Ideal, especializada na análise de importação de bebidas alcoólicas. Nos primeiros quatro meses de 2020, vinho e licor foram as únicas bebidas alcoólicas que cresceram em volume entre as cinco mais importadas para o Brasil.
No sentido contrário, uísque, cerveja e gin registraram quedas expressivas de janeiro a abril, na comparação com igual período do ano passado.
“Vinho e licores são bebidas que as pessoas consomem mais em casa, daí a procura”, afirma Felipe Galtaroça, sócio da Ideal. “O gin, que está tão na moda, é uma bebida dos bares, de consumo fora de casa.”
Neste período, a importação de vinho, bebida alcoólica que lidera este ranking, aumentou 6,6% em volume de garrafas, somando 3,4 milhões de litros. A de licores, que ocupa a quinta posição, cresceu 27,5%, com 33,5 mil litros.
Em valores, o vinho teve uma queda de 0,2%, totalizando US$ 89,2 milhões (valor FOB, sem os impostos), enquanto os licores tiveram alta de 25,7%, com US$ 1,9 milhão.
O uísque, que ocupa a segunda posição, com 850.413 litros importados de janeiro e abril, o equivalente a US$ 17,6 milhões, amargou uma queda de 23,8% em volume e de 28,3% em valor.
No caso da cerveja importada, a terceira bebida neste ranking com quase 65 mil litros e US$ 6,4 milhões, a queda foi ainda maior: 77,6% em volume e 74,1% em valor.
Já o gin, com 143 mil litros e US$ 2,6 milhões, a retração foi de 35,2% e 54,1%, em volume e valor, respectivamente.
A vez dos supermercados e e-commerces
Além do local de consumo, influiu também significativamente nestes números a forte desvalorização do real frente ao dólar e ao euro.
No vinho, a importação é mantida principalmente pela ação dos supermercados e de sites de e-commerce, como Wine e Evino.
Se analisados apenas os números de abril, o vinho passa a apresentar queda também em volume de importação. Na comparação com o mesmo mês de 2019, houve uma redução de 11,3% no volume total de garrafas enviadas para o Brasil e de 24,5% no valor destes vinhos.
A explicação para a queda em valores ser mais do que o dobro da de volume está na importância crescente que os supermercados e os canais de venda online estão conquistando nesta quarentena. Eles importam mais garrafas, mas de vinhos com valores mais baixos.
Em abril, os supermercados cresceram 34,6% em volume e 33,6% em valor de suas compras de vinho, comparado com igual mês de 2019. No e-commerce, houve um aumento de 78,4% em volume e 16,1% em valor. Em queda estão as compras das importadoras focadas nas vendas para os restaurantes.
Supermercados e sites de e-commerce devem seguir ganhando relevância neste ranking, em comparação com as importadoras tradicionais.
No último sábado de maio, por exemplo, a plataforma Pão de Açúcar Adega realizou uma agressiva promoção de seus vinhos (a ação era compre duas garrafas e leve quatro) e faturou o equivalente a 25% do total de vendas de 2019. Mais de 230 mil garrafas foram vendidas na data.
Novas ações promocionais devem acontecer desses dois canais de venda (supermercados e sites de e-commerce), até como forma de compensar a esperada retração do poder aquisitivo na compra destas bebidas, acredita Galtaroça.