O resultado trimestral da Usiminas não agradou os investidores. A ação da empresa, que abriu o pregão de sexta-feira, 28 de julho, aos R$ 7,49 estava sendo negociada em torno de R$ 7,14 às 15h30. O recuo de 4,6% era a resposta de que a expectativa do mercado com dias melhores para a companhia ainda não chegaram.
A Usiminas fechou o segundo trimestre com um lucro líquido de R$ 287 milhões, queda de 73% em relação ao mesmo período de 2022. A receita líquida recuou 19%, a R$ 6,88 bilhões, e Ebitda ajustado caiu 81%, para R$ 366 milhões.
A dívida líquida somou R$ 965 milhões, alta de 112%, impactada pela redução do caixa, em razão, principalmente, dos investimentos no valor de R$ 879 milhões. A alavancagem financeira alcançou 0,38 vez.
“Estamos em um momento de transformação, executando uma série de reformas que estão em pleno andamento”, disse o argentino Marcelo Chara, que assumiu o cargo de CEO em 4 de julho deste ano, em teleconferência com analistas. “Temos uma perspectiva positiva de melhora dos resultados em 2024, considerando que teremos concluídas as intervenções que estamos fazendo.”
A principal intervenção da Usiminas é no alto forno 3 da usina de Ipatinga, Minas Gerais, obra que já teve seu orçamento elevado e o prazo de conclusão da reforma esticado e que tem pesado sobre as operações da companhia.
A expectativa é de que o equipamento volte a operar em setembro, com o ramp up ocorrendo ao longo de algumas semanas, com os executivos prevendo que ele pode chegar perto da sua capacidade nominal de produção, de 3 milhões de toneladas. “Uma vez completadas as intervenções, elas trarão uma configuração produtiva competitiva, com eficiência nos combustíveis”, disse Chara.
Mercado desfavorável
Enquanto o reforço operacional não vem, a Usiminas vai ter que lidar com um mercado desfavorável. Chara afirmou que a demanda por aço está enfraquecida e as expectativas não são de melhora.
Projeções do Instituto Aço Brasil apontam que as vendas internas devem atingir 19,1 milhões de toneladas em 2023, redução de 6% ante o ano passado, enquanto o consumo aparente, que considera vendas internas mais importações, deve chegar a 22,9 milhões de toneladas, recuo de 2,6%.
Além dos efeitos do elevado nível da taxa de juros, Chara citou os efeitos das importações de produtos acabados da China, que aumentaram “sensivelmente”, com os produtos do gigante asiático trabalhando com margens negativas, algo que a indústria local não pretende realizar.
“Isto [importações da China] gera preocupação e estamos olhando com muita atenção a evolução no segundo semestre”, afirmou.
Um fator que tem colaborado para as importações de aço é a questão dos preços, que estão baixos no mercado interno e que acabou pesando sobre o desempenho do segmento de siderurgia da Usiminas. Mesmo a parte de mineração sofreu com a queda da cotação do minério no mercado internacional.
“Estamos tendo no mercado uma forte pressão de preços, as margens estão comprimidas e efetivamente a gente enxerga os preços relativamente estáveis para frente, sem grandes variações que a gente possa observar nos próximos meses”, afirmou Miguel Homes, diretor vice-presidente comercial da Usiminas, em referência às perspectivas para o aço.
Na parte de custos, tema apontado como o destaque negativo dos resultados do segundo trimestre da Usiminas por muitos analistas, o diretor financeiro Thiago Rodrigues disse que a expectativa, desde o trimestre anterior, é de que o custo de produção siga estável, no atual patamar, até o final do ano. “Não existe nenhum indicador mostrando o contrário”, afirmou.
O que os analistas pensam
Os resultados decepcionaram os analistas, que destacaram o cenário complexo para a Usiminas em 2023. O Ebitda ficou 35% abaixo da média de projeções do mercado, com a maior diferença sendo do Goldman Sachs, com o valor vindo 51% abaixo do esperado pelos analistas Marcio Farid, Gabriel Simões e Henrique Marques.
"Os resultados da Usiminas continuam sendo voláteis e difíceis de serem projetados, uma vez que os ativos de mineração estão próximos do fim do ciclo de vida (e são menos estáveis) e a companhia está passando pela manutenção de seu principal alto forno, gerando uma maior dependência da compra de placas de aço", diz trecho do relatório do Goldman Sachs.
Eles mantiveram a recomendação de compra para as ações, pelo fato de elas estarem sendo negociadas a um múltiplo EV/Ebitda de 3,2 vezes para 2024, abaixo da média histórica de 6,0 vezes. O preço-alvo é de R$ 9,80.
Os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner, do BTG Pactual, possuem uma recomendação neutra para as ações da Usiminas. Eles destacaram as questões que a companhia enfrenta na frente de custos, junto com as despesas relacionadas ao alto-forno 3, e alertaram que faltam perspectivas positivas no curto prazo.
Por conta do valuation baixo, eles esperam que os investidores comecem a considerar retornar para o papel em 2024, a depender do cumprimento das promessas da empresa. "Nossa impressão é que isto somente vai ocorrer depois da conclusão da manutenção do alto-forno 3, algo que ainda temos pouca visibilidade, por isso estamos neutros neste momento", diz trecho do relatório. O preço-alvo da ação está em R$ 8.