Na semana passada, o argentino Rodolfo Spielmann deixou o comando do Canada Pension Plan Investment Board (CPP Investments) na América Latina. Ele poderia agora estar de férias ou se preparando para um sabático.
Mas menos de uma semana após se despedir do CPP Investments, Spielmann está anunciando, nesta quinta-feira, 7 de julho, a criação de sua gestora de private equity South Patagonia Capital, que tem a pretensão de levantar R$ 1 bilhão para investir em empresas de serviços financeiros e de saúde neste ano.
“Já estou trabalhando em duas frentes: o pipeline de oportunidades de investimento e desenvolvendo o relacionamento com family offices”, diz Spielmann, ao NeoFeed. “O foco é buscar empresas em estágio avançado que precisem de capital para crescer.”
Neste primeiro momento, Spielmann vai trabalhar no modelo de club deals e diz já ter conversas avançadas com family offices da América Latina, EUA e Europa para participar dos primeiros negócios. Até o fim do ano, o investidor espera anunciar o primeiro aporte.
A South Patagonia Capital será uma gestora cujo objetivo é comprar fatias minoritárias de empresas que têm um valuation entre US$ 500 milhões e US$ 800 milhões. Os cheques devem variar entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões.
A busca é por empresas maduras, lucrativas e na qual o controlador não queira sair e tenha uma visão de longo prazo, a exemplo do que Spielmann fazia na CPP Investments, mas com um cheque bem menor do que o do seu antigo emprego.
A ideia de Spielmann é estar envolvido com até dois investimentos neste momento, no qual ele vai participar ativamente no conselho de administração, influenciando na governança e na estratégia. Ele tem conversas para trazer mais sócios para a South Patagonia Capital e ampliar a tese para outros setores e mais empresas.
Pelo menos nos três primeiros anos, Spielmann deve trabalhar no modelo de club deals, prospectando negócios e apresentando os aportes para sua base de investidores. Depois, ele considera criar um fundo tradicional para investir nas empresas.
A saída de Spielmann do CPP Investments não foi uma surpresa. Ela foi anunciada no ano passado e, durante esse tempo todo, o investidor se dedicou a fazer a transição na companhia, conversando com as empresas investidas e com o mercado.
Nesse meio tempo, ele começou, em suas horas vagas, a estruturar a sua gestora, delineando a estratégia, o perfil de atuação e os primeiros passos – ele diz que está prestes a assinar o contrato de aluguel do escritório que deve ficar na região da Faria Lima, em São Paulo.
Com passagens pelo Deutsche Bank e pela Bain Company, onde esteve por 21 anos, Spielmann abriu o escritório da CPP Investments na América Latina em 2014. Na época, começou a operação com quatro pessoas. Hoje, são mais de 40.
Os investimentos na região também cresceram e o CPP Investments se tornou um dos maiores investidores institucionais da América Latina, com mais de US$ 20 bilhões investidos na região em áreas como private equity, infraestrutura, energia, real estate e crédito privado. Globalmente, o fundo de pensão canadense gerencia quase US$ 520 bilhões.
Na gestão de Spielmann foram realizados investimentos na Votorantim Energia, Igua Saneamento e Smartfit – o CPP Investments tem uma participação de mais de R$ 9 bilhões nesses investimentos. O fundo de pensão canadense investe também no México, Chile, Peru e Colômbia.
Na South Patagonia Capital, o Brasil será o foco da gestora neste começo. Mas a ideia é avançar em busca de empresas na América Latina. A Argentina, país natal de Spielmann, e de onde buscou a inspiração para batizar a gestora, não está nos planos.
A razão é simples e não se resume apenas à crise econômica. De acordo com Spielmann, um país precisa de ao menos governos sucessivos que respeitem as regras e dê estabilidade regulatória para receber investimentos estrangeiros. Não é o caso da Argentina, onde ele é dono de uma vinícola, em Mendonza, a Spielmann Estate.
Sobre o momento de captação, Spielmann concorda que o cenário internacional é complexo, mas que os investidores têm necessidade de alocar recursos em ativos alternativos e que a classe de private equity, em geral, promove bons retornos. “E os investidores precisam de um mix que inclua países emergentes”, afirma Spielmann.