Capitaneado pela família Pinheiro, fundadora e controladora da operação, o movimento de “resgate” da Hapvida fez com que as ações da companhia disparassem mais de 19% no decorrer de terça-feira, 28 de março, na B3.

Na noite da segunda-feira, 27 de março, o clã anunciou a compra de R$ 1,25 bilhão em imóveis da companhia. Detentora de 36,2% das ações da operadora de planos de saúde, a família também se comprometeu a investir mais R$ 360 milhões em uma potencial nova oferta de ações da empresa (follow on).

A reação positiva ao movimento não se restringiu às ações da companhia, que fecharam o pregão em alta de 18,47%, dando à empresa um valor de mercado de R$ 18,6 bilhões, um acréscimo de R$ 2,9 bilhões em apenas um dia.

É um movimento de alta forte, mas insuficiente para recuperar a queda brusca registrada ao longo da primeira semana de março, quando as ações acumularam uma perda de 43%.

Quem engrossou o coro favorável ao resgate da Hapvida foi o Santander. Entre outros pontos, o banco destacou em relatório a operação de venda de imóveis para a família Pinheiro que, posteriormente, irá alugar as propriedades a um cap rate de 8,5% em operação de sale e leaseback.

Para os analistas Caio Moscardini e Guilherme Gripp, a venda e a locação dos imóveis, somadas a um follow on potencial de R$ 877,4 milhões, irão melhorar “consideravelmente” a percepção do mercado sobre a empresa.

“Além disso, preocupações recentes com relação à alavancagem e a solvência devem diminuir. Nesse ponto, continuamos esperando alguma volatilidade em relação aos índices de sinistralidade médica, mas nossa expectativa é que os aumentos de preço se mantenham e melhorem gradualmente”, escreveu a dupla.

A operação imobiliária envolve 10 hospitais que serão vendidos e alugados automaticamente. Na taxa acertada e que será ajustada anualmente pelo IPCA, o negócio deverá movimentar cerca de R$ 106 milhões ao ano.

“Os termos de venda e locação aparentemente seguiram um bom padrão de governança corporativa”, cita o relatório. “O cap rate de 8,5% foi um negócio sólido, especialmente considerando a estimativa de taxa Selic de nossa equipe de macroeconomia de 13%, 11% e 8% em 2023, 2024 e 2025, respectivamente.”

Histórico da Hapvida

No dia 8 de março, a Hapvida já havia informado que estava avaliando a venda e a locação de alguns imóveis como forma de rentabilizar ativos fixos. Na época, as ações caíram mais de 33% com a chance de emissão de novas ações.

Dias antes, a cotação dos papéis da companhia desabou cerca de 30% com a divulgação de resultados da empresa. Os números reportaram prejuízo líquido de R$ 316,7 milhões no quarto trimestre. Um ano antes, a empresa havia registrado lucro líquido de R$ 200,2 milhões no mesmo período.

O Santander também destacou o fato de a família Pinheiro ter se comprometido a exercer seu direito de preferência em um follow on com um investimento de R$ 360 milhões. “Isso sugere que a família não quer ter sua participação diluída nesse momento”, observam os analistas.

Com recomendação de outperform para a empresa, o Santander tem um preço-alvo para os papéis em 2023 de R$ 7,00. No ano, as ações da Hapvida seguem em queda, com uma desvalorização acumulada de mais de 48%. Desde o seu pico, em fevereiro de 2021, a companhia já perdeu mais de 85% de seu valor de mercado.