A situação não anda fácil para a Hapvida. A operadora de saúde verticalizada vem empilhando trimestres negativos, prejudicada por questões como custos médicos elevados, resiliência da sinistralidade e as fracas perspectivas da economia.

Para tentar lidar com a situação, entre as iniciativas sendo estudadas estão ações para melhorar sua estrutura de capital. Em fato relevante divulgado na quarta-feira, dia 9 de março, a Hapvida informou que avalia a venda de ativos não relacionados às suas atividades principais. Entre eles estariam uma empresa de transporte de pacientes e outra de tecnologia.

Ela também divulgou que estuda alternativas para o fortalecimento de sua estrutura de capital junto de sua base acionária, bem como com novos investidores. Isso inclui a possibilidade de emissão de novas ações em aumento de capital, algo que dependerá de condições favoráveis de mercado e aprovações pelos órgãos societários.

Este último ponto, entretanto, não caiu bem entre os investidores, como se pode ver pelo comportamento das ações nesta quinta-feira, dia 9 de março. Depois de entrarem e saírem de leilão por diversas vezes ao longo do dia, os papéis fecharam com queda de 33,56%, a R$ 1,94.

Essa foi a oitava maior queda diária desde janeiro de 2010 considerando as ações da atual carteira do Ibovespa, fazendo com que o valor de mercado da empresa registrasse queda de R$ 6,95 Bilhões, fechando o dia em R$ 13,77 bilhões. Em 12 meses, as ações acumulam queda de 84,2%.

Em relatório divulgado no começo do dia, os analistas do Itaú BBA anteciparam que a notícia de um aumento de capital poderia não ser bem digerida pelo mercado. Segundo eles, o fato de a diretoria considerar a operação neste momento indica que a situação da companhia é mais complexa do que o imaginado.

“Em meio a diversas discussões sobre a solvência da empresa, dadas as exigências regulatórias no nível operacional, que limitam o uso de recursos para honrar dívidas e juros da holding, a menção de um aumento de capital como uma opção no momento em que o valuation está tão pressionado (nos níveis atuais) sugere um cenário mais estressado do que o antecipado”, diz trecho do relatório assinado pelo analistas Vinicius Figueiredo, Lucca Generali Marquezini e Felipe Amancio.

Os resultados do quarto trimestre mostraram como a empresa vive um momento delicado. A Hapvida registrou um prejuízo de R$ 316,7 milhões, revertendo um lucro de R$ 200,2 milhões no mesmo período de 2021. Enquanto a receita subiu 11%, para R$ 6,5 bilhões, o Ebitda ajustado caiu 9,2%, para R$ 599 milhões.

Entre os pontos que pesaram estão a falta de melhora da sinistralidade caixa. Ela permaneceu em 72,9%, comparado com o que foi visto no terceiro trimestre. O fluxo de caixa livre foi negativo em R$ 223,6 milhões e as despesas financeiras líquidas saltaram 23,7 vezes, para R$ 515,8 milhões, com a alavancagem financeira atingindo 2,45 vezes.

Por conta dos prejuízos acumulados nos últimos 12 meses, a Hapvida registra atualmente um P/L negativo de 23,67 vezes. O resultado dilapidou o valor de mercado da companhia. No pregão seguinte à divulgação do balanço, dia 1º de março, as ações fecharam com queda de 32,74%. A companhia chegou a perder mais de R$ 11 bilhões em valor de mercado, equivalente à soma dos valores de mercado da OdontoPrev e da Dasa juntas.

A expectativa é de que a situação na Hapvida permaneça complicada, segundo disseram os analistas da XP Investimentos no dia seguinte à publicação do balanço. “Vemos os resultados (do quarto trimestre) como muito negativos, especialmente porque eles apontam para um curto e médio prazo difícil em termos de crescimento e margens”, escreveu o analista Rafael Barros na ocasião.

“Entre os principais motivos para a avaliação negativa estão crescimento normalizado abaixo das nossas estimativas, nenhum sinal de melhora da sinistralidade no radar e resultado financeiro ainda prejudicando o lucro líquido”, completou.

Nota atualizada para constar dados sobre o fechamento das ações.