Poucas ondas foram tão intensas quanto a dos SPACs (special purpose acquisition company), veículos conhecidos como "empresas de cheques em branco" pois captavam recursos com investidores para se fundir com uma companhia privada e abrir o seu capital.
Em 2020, os SPACs levantaram US$ 83,5 bilhões em 248 veículos. No ano passado, a soma de recursos captados quase dobrou, atingindo US$ 162,5 bilhões, em 613 negócios, de acordo com dados da SPAC Research, consultoria que acompanha esse mercado.
Ao longo de 2022, os negócios com SPACs já tinham minguado, na esteira do aumento das taxas de juros e da queda de valor das empresas de tecnologia nas bolsas de valores. Agora, as "companhias de cheque em branco" enfrentam um novo cenário dramático: a liquidação desses veículos.
Uma das características dos SPACs é que os investidores que aportaram recursos em um veículo podem resgatar o dinheiro antes de o negócio de fusão ser fechado. Os maus resultados dos SPACs que se tornaram públicos e um imposto federal de 1% sobre recompra de ações, que entra em vigor em 2023, estão colaborando para um frenesi de liquidações.
De acordo com dados do SPAC Research, cerca de 70 "empresas de cheques em branco" foram liquidadas e devolveram dinheiro aos investidores desde o início de dezembro. Trata-se de uma taxa de cerca de quatro liquidações por dia neste mês, quase o mesmo ritmo em que estavam sendo lançados quando o setor atingiu o pico no início do ano passado.
Isso é mais do que o número total de liquidações de SPACs na história do mercado. Os criadores dessas "companhias de cheque em branco" perderam mais de US$ 600 milhões em liquidações este mês e mais de US$ 1,1 bilhão este ano, mostram os dados da SPAC Research.
Ainda existem cerca de 400 SPACs que captaram aproximadamente US$ 100 bilhões e que ainda não fecharam negócios com uma empresa privada. Boa parte deles têm até o primeiro semestre de 2023 para concluir a fusão, pois o prazo para achar um alvo é de até dois anos.
Se não acharem um alvo, o dinheiro será devolvido. Se cerca de 200 dos SPACs forem liquidados, as perdas para os criadores ficarão bem acima de US$ 2 bilhões.
Existem outros cerca de 150 SPACs com cerca de US$ 25 bilhões que chegaram a acordos de fusão, mas não tiveram os negócios ainda concluídos. Alguns deles provavelmente serão cancelados, de acordo com a SPAC Research.
A onda de SPACs chegou até o mercado latino-americano, com vários veículos sendo criados por fundos e empresas da região. Entre os que apostam em SPACs estão os fundos Kaszek, Crescera Capital, Pátria, Softbank e Valor Capital.
A Alpha Digital foi uma das poucas que fechou o negócio. O SPAC que tem como sponsors Alec Oxenford e Rafael Steinhauser levou a brasileira Semantix para a Nasdaq, em agosto deste ano. Deste então, os papéis caíram quase 90%. A companhia brasileira de big data e inteligência artificial está avaliada em US$ 71,6 milhões.