Em meio à perda de mercado e aos ajustes operacionais, a montadora alemã Volkswagen registrou no terceiro trimestre de 2025 seu primeiro prejuízo desde o início da pandemia de Covid-19.
A companhia alertou também que o resultado anual deve sofrer impacto de € 5 bilhões, provocado pelos ajustes feitos pela Porsche em seus planos para carros elétricos — o “calcanhar de Aquiles” do grupo alemão.
A Volkswagen anunciou nesta quinta-feira, 30 de outubro, que encerrou o terceiro trimestre com prejuízo operacional de € 1,3 bilhão, revertendo o lucro de € 2,8 bilhões registrado no mesmo período do ano anterior.
A média das projeções de analistas consultados pela Visible Alpha apontava para uma perda de € 1,7 bilhão, segundo o Financial Times. A última vez que a empresa registrou prejuízo trimestral foi no segundo trimestre de 2020, no início da pandemia, com perda de € 2,4 bilhões.
Em comunicado, o CFO da Volkswagen, Arno Antlitz, afirmou que a empresa registrou custos e despesas de € 7,5 bilhões, principalmente devido ao aumento de tarifas, ao ajuste na estratégia de produto da Porsche e à baixa contábil relacionada à mudança na marca de carros de luxo.
No mês passado, a Porsche anunciou a revisão de seu portfólio de produtos, diante da fraca demanda por carros elétricos. Segundo a empresa, a nova série de SUVs acima do Cayenne não será lançada inicialmente como veículos totalmente elétricos, como previsto, mas com motores a combustão e híbridos.
Entre os fatores citados para a revisão estão a queda na demanda por elétricos na China e a tarifa extra de 25% sobre veículos importados imposta pelos Estados Unidos. “O aumento das tarifas comerciais e os efeitos negativos no volume vão nos onerar em até € 5 bilhões no ano”, afirmou Antlitz.
Essa estimativa torna a Volkswagen, maior montadora da Europa, uma das principais afetadas pela guerra comercial promovida por Donald Trump. A Stellantis divulgou uma estimativa menor para o impacto das tarifas — € 1 bilhão, abaixo dos € 1,5 bilhão projetados anteriormente.
As tarifas e a revisão da Porsche se somam a uma série de contratempos enfrentados pela Volkswagen nos últimos anos. O volume de vendas permanece baixo — a receita subiu 2,3% no terceiro trimestre, totalizando € 80,3 bilhões — enquanto os planos de expansão em veículos elétricos avançam em ritmo inferior ao esperado, diante da concorrência das marcas chinesas.
A companhia também enfrenta perda de competitividade, com uma estrutura considerada excessivamente inchada. No fim do ano passado, anunciou o fechamento de fábricas na Alemanha, algo inédito em seus 87 anos de história.
Após protestos e paralisações pontuais, a Volkswagen chegou a um acordo com o sindicato da categoria para cortar mais de 35 mil empregos até 2030. A medida deve gerar economia de € 15 bilhões (US$ 17,6 bilhões).
No comunicado que acompanha o balanço, Antlitz defende que a companhia precisa se reestruturar para enfrentar o novo cenário.
“Precisamos implementar rigorosamente os programas de desempenho em vigor, impulsionar medidas de eficiência e desenvolver novas abordagens. Nosso foco será — entre outros — no uso direcionado de nossa escala e na exploração de sinergias dentro do grupo de forma mais eficaz”, afirmou.
A Volkswagen manteve suas projeções para o ano. A empresa espera margem de lucro operacional entre 2% e 3% para 2025 e fluxo de caixa líquido próximo de zero. No ano passado, a margem operacional foi de 5,9%.