Acostumada a trazer boas notícias aos investidores e analistas, a Totvs surpreendeu negativamente nos resultados do quarto trimestre. Na quarta-feira, 7 de fevereiro, os números divulgados vieram abaixo do esperado para o período, especialmente quando se olha para a rentabilidade.

As ações da companhia registram uma das principais quedas do pregão de quinta, 8 de fevereiro, na B3. Por volta das 14h15, os papéis recuavam perto de 9%, a R$ 29,92. No ano, eles acumulam queda de 12,2%, levando o valor de mercado a R$ 17,9 bilhões.

A companhia registrou uma queda de 17,7% do lucro líquido consolidado no quarto trimestre, na comparação com o mesmo período de 2022, a R$ 126,2 milhões. O Ebitda ajustado subiu 8%, para R$ 258 milhões, mas a margem Ebitda ajustada de 21,7% ficou 3,5 pontos base abaixo do terceiro trimestre e 2 pontos percentuais inferior ao registrado no quarto trimestre de 2022. A receita, por sua vez, subiu 18,6%, para R$ 1,2 bilhão.

Entre os culpados por esse desempenho abaixo do esperado está a Dimensa, joint venture da Totvs e da B3 que atua com infraestrutura para o mercado financeiro. A companhia vem passando por ajustes, com a troca de praticamente toda a equipe de comando e com ajustes na dinâmica financeira e operacional de alguns produtos a partir do quarto trimestre.

Essas mudanças de time, processos e procedimentos internos resultaram em um Ebitda ajustado R$ 13,7 milhões menor que o do terceiro trimestre e R$ 5,7 milhões inferior ao registrado no quarto trimestre de 2022, somando R$ 2 milhões. A margem caiu para 3,7%, depois de alcançar 14% no ano passado e 24,6% nos três meses anteriores.

Ainda que os ajustes devam seguir, conforme esperado por analistas que acompanham a Totvs, o CEO Dennis Herszkowicz disse que a tendência é de melhora daqui para frente.

“Não posso dar garantias, uma precisão sobre o desempenho de trimestre a trimestre, mas com as informações que temos, o que aconteceu no quarto trimestre não deve se repetir”, disse ele durante teleconferência com analistas. “Vemos a rentabilidade da Dimensa caminhando relativamente rápido para a normalidade.”

Ele destacou que os ajustes visam estabelecer um perfil mais recorrente nas receitas, além de modelos de relacionamento e de contratos mais perenes com os clientes, o que deve fazer com que a contribuição da Dimensa na receita recorrente seja menos errática. “Temos a oportunidade de tornar o fluxo mais constante”, afirmou Herszkowicz.

Para analistas, porém, esses ajustes podem continuar pesando sobre a Totvs nos próximos trimestres. “A reestruturação da operação deve erodir as margens no curto prazo, com as margens gradualmente retornando para acima de 15% até o final do ano”, diz trecho de relatório do BTG Pactual.

O Itaú BBA realizou um exercício considerando o impacto de uma reestruturação mais longa. Considerando que a divisão registre uma margem Ebitda que seja metade dos valores da faixa de 20% a 25%, tendo um impacto semelhante na receita como visto no quarto trimestre, o lucro operacional estimado pode cair em cerca de 5%.

Ainda que esteja num processo de ajustes, Herszkowicz disse que a Dimensa deve continuar olhando para novas aquisições para crescer. “O deal da Sinqia mostra o potencial do mercado em que a Dimensa atua, um mercado ainda super pulverizado, composto por uma infinidade de empresas menores”, afirmou.

Além da Dimensa, outro ponto considerado negativo no resultado da Totvs foi a Techfin, braço financeiro da companhia. No quarto trimestre, a receita cresceu apenas 0,8% em base anual, para R$ 118,8 milhões, enquanto o Ebitda caiu 87,6%, para R$ 2,3 milhões.

Na teleconferência, o CFO da Totvs, Gilsomar Maia, destacou que foi um ano difícil para o segmento, considerando a alta dos juros e o tumulto provocado por Americanas e outras empresas no mercado de crédito. Além disso, ajustes na operação

Mas a expectativa é de melhora em 2024, considerando a melhora do cenário e a perspectiva de queda da Selic. Diante deste cenário, a tendência é crescer, mas sem comprometer a carteira. “Temos foco na qualidade do crédito, o crescimento vem depois da qualidade do que é originado, nunca é o primeiro objetivo”, disse.

No acumulado do ano, a Totvs registrou um lucro líquido de R$ 764,4 milhões, alta de 46% em relação ao resultado de 2022. Na mesma base de comparação, a receita subiu 18,6%, para R$ 4,5 bilhões. O Ebitda ajustado cresceu 16,6%, a R$ 1,1 bilhão.